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Entrevista especial

- Publicada em 01 de Março de 2020 às 21:14

PT admite não lançar cabeça de chapa na eleição à prefeitura da Capital, diz Pimenta

As conversas avançam mais com o PCdoB e o PSOL, mas queremos ampliar, afirma Paulo Pimenta

As conversas avançam mais com o PCdoB e o PSOL, mas queremos ampliar, afirma Paulo Pimenta


NÍCOLAS CHIDEM/JC
O presidente estadual do PT gaúcho, deputado federal Paulo Pimenta, trabalha para que, nas eleições municipais de 2020, o partido eleja pelo menos um vereador em cada um dos 497 municípios do Rio Grande do Sul. Além disso, quer eleger prefeitos ou vices em 100 cidades gaúchas. Entre as cidades consideradas estratégicas pelo presidente estadual da sigla estão as que o partido já governa, como São Leopoldo e Rio Grande. Também considera prioritária a eleição em Porto Alegre, onde os partidos de esquerda costuram uma frente.
O presidente estadual do PT gaúcho, deputado federal Paulo Pimenta, trabalha para que, nas eleições municipais de 2020, o partido eleja pelo menos um vereador em cada um dos 497 municípios do Rio Grande do Sul. Além disso, quer eleger prefeitos ou vices em 100 cidades gaúchas. Entre as cidades consideradas estratégicas pelo presidente estadual da sigla estão as que o partido já governa, como São Leopoldo e Rio Grande. Também considera prioritária a eleição em Porto Alegre, onde os partidos de esquerda costuram uma frente.
Até agora, apenas PT, PCdoB e PSOL têm participado das articulações para a consolidação da aliança. O nome mais cotado para encabeçar a chapa é o de Manuela d'Ávila (PCdoB). Pimenta quer que o PT indique o vice. Além disso, busca incluir no debate o PDT, que pretende lançar a deputada estadual Juliana Brizola na disputa ao Paço Municipal; e o PSB, que estuda a candidatura do vereador Airto Ferronatto. 
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Paulo Pimenta avalia, ainda, que os temas nacionais vão vir à tona nas campanhas municipais, por conta da polarização política pela qual passa o País. Polarização que, aliás, tem o presidente Jair Bolsonaro em um polo; e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em outro. Para o presidente estadual do PT, isso demonstra a força do seu partido, pois "só polariza quem tem chance de ganhar". Ele garante que Lula vai subir no palanque dos candidatos petistas no Rio Grande do Sul.
Jornal do Comércio - Quais as metas do PT nas eleições de 2020?
Paulo Pimenta - Nossa primeira meta é ter um diretório municipal do PT em todos os municípios gaúchos. A segunda é que todas as cidades tenham pelo menos um vereador ou vereadora do PT. Ou seja, pelo menos um parlamentar em cada uma das 497 cidades gaúchas. E a terceira é estar presente com prefeitos ou vices em pelo menos 100 municípios. É importante perceber que o PT gaúcho é uma força política muito expressiva. Hoje, estamos governando, com prefeitos ou vices, 80 cidades; temos mais de 470 vereadores e vereadoras. Além disso, governamos a Capital quatro vezes, além de todas as principais cidades do Interior. Governamos o Estado em duas oportunidades. E temos 14 mandatos entre deputados estaduais e federais, e senadores. Em um quadro de maior dificuldade, em 2018, fizemos uma votação de 18% dos votos (válidos) do Estado. Então, estamos falando de uma potente ferramenta política, que é o PT do Rio Grande do Sul.
JC - Há alguma prefeitura estratégica?
Pimenta - Sem dúvida. Em primeiro lugar, pensamos nas cidades importantes que governamos atualmente, como São Leopoldo e Rio Grande. Segundo, temos um núcleo eleitoral que concluiu uma análise: administramos 55 municípios com mais de 30 mil habitantes, portanto, as candidaturas nessas cidades receberão uma atenção especial. Depois, tem cidades que já governamos e estamos nos apresentando com muita força, como Santa Maria, Bagé, Caxias do Sul e Alvorada. Mas, claro, entre todas as nossas prioridades, Porto Alegre é a principal.
JC - Em Porto Alegre, os partidos de centro-esquerda buscam construir uma frente unificada...
Pimenta - Estamos empenhados em ajudar a construir essa unidade no campo popular. O PT tem quadros importantes, tem bons nomes, é um partido forte em Porto Alegre. O resultado do nosso candidato a presidente da República, Fernando Haddad (PT), no segundo turno de 2018, foi muito expressivo em Porto Alegre. Mostrou que a esquerda, unificada, pode obter resultados muito bons na Capital. Por isso, estamos emprenhados na construção dessa frente.
JC - Até agora, PSOL, PT e PCdoB estão dispostos a formar essa aliança...
Pimenta - Aqui em Porto Alegre, as conversas avançam mais com o PCdoB e o PSOL. Mas queremos ampliar essa unidade e trazer novos setores. Queremos a participação do PDT, porque o enxergamos como um partido do campo popular. O PSB, a nível nacional, também está nesse campo. Mas, naturalmente, esses partidos têm particularidades em cada Estado. A nossa política nacional coloca esses cinco partidos no nosso campo de análise.
JC - O principal nome para liderar essa frente de esquerda seria Manuela d'Ávila? Ela já é o nome de consenso?
Pimenta - É evidente que o nome da Manuela é muito forte, uma força eleitoral substantiva em Porto Alegre. Ela foi candidata a vice-presidente da República (na chapa encabeçada por Haddad), é uma pessoa que tem carisma. Não colocamos como exigência para compor a frente que o PT esteja na cabeça da chapa. Temos um processo formal em andamento no qual serão ouvidos os filiados, os delegados, em um encontro municipal. Estamos organizando o congresso de Porto Alegre, junto com o PCdoB. Então, se, nesse processo de diálogo, a Manuela se consolidar como candidata, com certeza vamos estar juntos nesse movimento.
JC - O ex-governador Olívio Dutra (PT) defende que o PT indique o vice de Manuela. Concorda?
Pimenta - Queremos que os partidos considerem a sugestão de que o vice ou o candidato seja um nome do PT, por conta do tamanho, da história, da capacidade eleitoral do partido. Avaliamos que a presença do PT nessa chapa é indispensável. Queremos construir esse diálogo com os demais partidos da frente, trazendo a ideia da unidade como um ponto-chave dessa mobilização.
JC - As lideranças do PSOL, assim como algumas do PT, querem que o vice seja o ex-deputado Pedro Ruas (PSOL). Como avalia essa possibilidade?
Pimenta - É natural. Assim como nós apresentamos os nomes do PT, é natural que o PSOL apresente os nomes do PSOL, o PCdoB apresente os nomes do PCdoB. O que cabe, agora, é aferirmos, dentro dessa unidade, quais são as melhores condições para ganhar a eleição. Não nos cabe opinar sobre a indicação dos demais partidos, o que nos cabe é encontrar um espaço de diálogo, uma discussão programática que permita que essa unidade ocorra.
JC - As eleições de 2020 vão acontecer em meio a um contexto de polarização política no Brasil. Esse pleito vai ser diferente do de outras eleições?
Pimenta - A eleição deste ano vai ter duas características muito fortes. A primeira é que o tema nacional vai acabar entrando nos debates nacionais. Criou-se, no País, uma expectativa de que o atual governo poderia representar o que chamaram de "nova política". Essa política representaria um outro comportamento das pessoas em relação ao Estado e à sociedade, além de promover políticas públicas que melhoram a vida de quem mais precisa. Em pouco mais de um ano, ficou muito evidente que os membros do governo federal não só não representam aquilo que poderia ser chamado de nova política como também reproduziram as práticas mais condenáveis da política tradicional, ao ponto de que nem o partido do presidente resistiu. Do ponto de vista social, percebemos uma piora muito significativa na vida das pessoas, especialmente daquela camada da sociedade que mais precisa de políticas públicas. A saúde pública se deteriorou, os investimentos da educação minguaram, a política de assistência social praticamente foi paralisada, afetando coisa básicas, como Bolsa Família, Previdência etc. Hoje, para uma pessoa receber auxílio-doença, pega uma fila de sete meses. O tempo do processo de aposentadoria pode levar até dois anos. Existe uma fila para analisar o Bolsa Família de mais de 1 milhão de famílias. Como essas questões acontecem no município, acredito que a eleição municipal vai acabar refletindo esse ambiente.
JC - E a segunda característica das eleições 2020?
Pimenta - Por outro lado, é uma eleição na qual as pessoas buscam candidatos e candidatas que demonstrem capacidade de responder problemas objetivos das cidades. Porto Alegre é um bom exemplo. O que as pessoas perceberam é que o atual prefeito se apresentou, quando era candidatado, como novidade. Mas, na verdade, só era novidade na forma, no cabelo, no jeito de caminhar. O que aconteceu em Porto Alegre? A saúde se deteriorou; o sistema de transporte, que já foi referência para o Brasil, hoje, está na situação que estamos vivendo. Por isso, acreditamos que vai haver um crescimento expressivo do PT, porque as pessoas ainda têm na memória as nossas administrações. Então elas comparam suas vidas antes e depois da ascensão desse grupo político e, naturalmente, chegam à conclusão de que o PT é uma alternativa política para governar sua cidade a partir de 2020.
JC - Neste ano, entram em vigor novas regras eleitorais. O que pensa, por exemplo, do fim das coligações nas chapas proporcionais?
Pimenta - Isso muda muito o desenho da eleição, porque vai exigir que os partidos se apresentem com muito mais nitidez perante a sociedade. Muitas vezes, as coligações tinham ótimos candidatos à frente, e, ao votar nesse candidato, o eleitor acabava votando, também, em quatro, cinco, seis, sete partidos que compunham a coligação. O voto proporcional não tinha nitidez. Agora, cada partido vai ter que se apresentar com sua cara própria. Para nós, do PT, isso é muito positivo, porque somos uma legenda nacional. Tu não encontras uma cidade brasileira onde não haja pelo menos uma pessoa reivindicando o PT. Isso vai nos permitir fazer uma campanha nacional de voto 13, além de uma campanha estadual de fortalecimento da nossa legenda.
JC - E o fundo partidário? O que muda na campanha?
Pimenta - As regras da eleição protegeram algumas distorções, mas ainda não estão, digamos assim, suficientemente corrigida. O fim da coligação, a extinção do financiamento de campanhas por empresas e a limitação da contribuição da pessoa física são medidas importantes para o fortalecimento da democracia, porque impedem que o capital capture os agentes públicos. No entanto, não se conseguiu a força eleitoral necessária dentro do Congresso Nacional para impedir, por exemplo, o autofinanciamento. Assim, acabou surgindo um cenário no qual o candidato que tem dinheiro pode colocar na sua própria campanha valores substanciais. O que não tem dinheiro, não. Com isso, surge uma distorção na capacidade de disputa entre as pessoas. Isso ocorreu na campanha ao governo do estado de São Paulo, onde o João Dória (PSDB) colocou milhões na sua própria campanha em autofinanciamento. O fundo partidário democratiza o acesso das pessoas a uma candidatura, além de tornar mais equânime as campanhas.
JC - O senhor mencionou que a política nacional vai influenciar as eleições municipais. A polarização política no Brasil tem o presidente Jair Bolsonaro de um lado e o ex-presidente Lula de outro? Esse cenário dificulta ou beneficia as campanhas petistas em 2020?
Pimenta - O presidente Lula costuma dizer que só polariza quem está na disputa, quem tem chance de ganhar. Quem polariza na reta final do campeonato gaúcho de futebol? São os times que estão na final. Por que se cria uma polarização entre Grêmio e Internacional? Porque costumam ser os times que mais disputam o título no Rio Grande do Sul. O PT polariza porque vai para a final com frequência. Nosso partido ganhou ou esteve no segundo turno de todas as últimas eleições presidenciais do País. E time que vai para a final tem torcida, tem força política. Por que o PT polariza? Porque é o partido que tem lado nas coisas, diferentemente de muitos outros, que têm uma orientação em cada estado. Nós temos uma linha política nacional, que orienta as nossas opiniões e posições. Naturalmente, isso leva as pessoas a terem opiniões contra ou a favor do que defendemos. Sabemos que o PT polariza, mas achamos isso uma qualidade. Agora, polarizar não significa ser sectário, sem capacidade de diálogo. Polarizar significa ter opinião e, a partir disso, dialogar com quem está aberto ao debate.
JC - Lula vai participar da campanha em 2020?
Pimenta - Com certeza. Inclusive, estamos trabalhando para trazê-lo para cá. Queremos que ele tenha uma presença forte, em uma agenda de mais de um dia no Rio Grande do Sul, durante o mês de março. Algumas pessoas dizem: "O Lula não poderia ir ver o Papa". Por que não poderia? Ele tem passaporte, não tem nenhuma restrição de ir e vir. Portanto, pode ir para onde quiser.

Perfil

Paulo Roberto Severo Pimenta nasceu no município de Santa Maria, em 19 de março de 1965. Em 1983, Pimenta iniciou o curso de Agronomia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mas não concluiu. Mais tarde, entre 1990 e 1994, completou o curso de Jornalismo na mesma universidade. Durante todo o período em que estudou na UFSM, participou ativamente do movimento estudantil, ocupando vários cargos no diretório acadêmico dos dois cursos pelos quais passou. Na sua cidade natal, Pimenta se elegeu vereador pelo PT em 1988 e, em 1992, se reelegeu para a Câmara Municipal. Entre 1997 e 1998, mudou--se para Porto Alegre para trabalhar como chefe de gabinete na Assembleia Legislativa. Assumiu uma cadeira de deputado estadual entre 1999 e 2000. No mesmo ano, elegeu-se vice-prefeito de Santa Maria, cargo no qual permaneceu até 2002. Durante esse período, acumulou o cargo de secretário municipal de Finanças. Em 2002, foi eleito deputado federal. Foi reeleito em 2006, 2010, 2014 e 2018. É o presidente do PT gaúcho desde outubro de 2019.