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Política

- Publicada em 28 de Janeiro de 2020 às 03:00

'O Brasil mudou, mas é preciso estar atento', afirma Simon

Pedro Simon vê avanços no combate à corrupção, elogia Moro e critica falas do presidente Jair Bolsonaro

Pedro Simon vê avanços no combate à corrupção, elogia Moro e critica falas do presidente Jair Bolsonaro


/ALEXANDRO AULER/JC
Guilherme Kolling
O Jornal do Comércio publica, hoje, a segunda parte da entrevista com o ex-senador e ex-governador Pedro Simon, que completa 90 anos nesta sexta-feira (31). Ele fala de sua trajetória política - teve papel importante na redemocratização e no combate à corrupção - e faz uma análise da conjuntura atual. Comenta o governo Jair Bolsonaro, em quem diz que não votou na eleição de 2018, e defende a prisão após a 2ª instância, citando o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ainda elogia a Lava Jato, o ministro Sérgio Moro e diz que a sociedade deve estar atenta para manter as conquistas da democracia.
O Jornal do Comércio publica, hoje, a segunda parte da entrevista com o ex-senador e ex-governador Pedro Simon, que completa 90 anos nesta sexta-feira (31). Ele fala de sua trajetória política - teve papel importante na redemocratização e no combate à corrupção - e faz uma análise da conjuntura atual. Comenta o governo Jair Bolsonaro, em quem diz que não votou na eleição de 2018, e defende a prisão após a 2ª instância, citando o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ainda elogia a Lava Jato, o ministro Sérgio Moro e diz que a sociedade deve estar atenta para manter as conquistas da democracia.
Jornal do Comércio - Quais os momentos mais importantes de sua trajetória política?
Pedro Simon - Estou com 90 anos e me sinto inteiro. Esse ano que passou, viajei pelo Brasil inteiro fazendo palestras. Como todo mundo cobra - Lula fazia palestras a US$ 200 mil - e eu não cobro, todo mundo me convida... Então, olhando para trás, não sei por onde começar. Uma das lutas que tivemos foi contra a corrupção. O Brasil é um país em que roubar sempre se roubou, mas, ultimamente, era institucionalizado. Não digo que um governo começou. Defendo a tese de que um grupo de empresários se reuniu no sentido de facilitar as coisas, mas terminou abrindo brecha, e o Lula caiu nela. E, no mundo - um país democrático, com Câmara, Senado, Supremo -, o governo praticamente oficializar a corrupção, o Brasil foi o primeiro caso. Então, se não mudar isso, não adianta, por mais que modifique educação, saúde. Isso fez eu me apaixonar (pelo tema). Publiquei 110 livros, muitos com relação à corrupção. Lembro quando levantamos a tese da ficha limpa...
JC - Como foi?
Simon - Participei do grupo que lançou a campanha e fez a coleta de assinaturas. Foi um trabalho espetacular e havia uma guerra contra. A sessão no Senado que decidiu foi emocionante. O povão na frente do Senado, uma montanha de gente e 81 caixões, que era para pegar o corpo do senador que votasse contra. A primeira briga foi a favor do voto aberto, contra o voto fechado. No dia da votação, encaminharam contra, aí fui falar e falei um tempão, ninguém me tirava da tribuna. "Olha, meus irmãos, hoje, estamos vivendo talvez o momento mais importante da história desta casa". Falei com a alma. Por unanimidade, foi aprovado (o projeto da ficha limpa), uma coisa fantástica. O mal é que só vai para a cadeia condenado em última instância. E o que acontecia, o juiz condenava, e não acontecia nada.
JC - Recursos na Justiça.
Simon - Recursos... Não tinha prazo, não acontecia nada. Paulo Maluf (PP) foi prefeito, governador, deputado, mas quantas vezes foi processado e não tinha um dia de cadeia? Porque recorria e passava o tempo (prescrevia). Aí, teve a condenação em 2º grau, ia para a cadeia, o Supremo apareceu: Lula na cadeia, presidente da Câmara na cadeia, governador na cadeia, grandes empresários na cadeia, é uma nova realidade. Esse foi o grande passo que demos, e aí a figura do Moro, que muitos vão dizer tem um excesso aqui, um excesso ali.
JC - Teve os diálogos publicados pelo The Intercept Brasil.
Simon - Pode ter havido um excesso aqui, ali; agora, "Moro teve uma atitude imparcial, foi desonesto", isso não. Tinha o sentido de buscar a verdade, foi o que ele conseguiu, e o Brasil mudou. Por isso, estou percorrendo o Brasil fazendo palestras e dizendo o seguinte: "Hoje, o Brasil mudou". O que mudou? A sociedade está participando, condenados em 2ª instância vão para cadeia, a mudança está aí... De repente, houve uma reação, e não é o PT, tem gente do MDB, do PSDB, do PP, e empresários que estão no esquema para terminar com a Lava Jato e a prisão em 2º grau.
JC - O senhor acha que a Lava Jato pode acabar?
Simon - Tem risco. O Moro, quando assumiu o ministério, mandou logo o projeto (de lei anticrime), que levou um tempão para votar, foi completamente desfigurado. Agora, a reação é compreensível. Repara que era um movimento enorme para soltar o Lula. Por quê? Por que amam o Lula? Foi uma injustiça? Não, é porque, se o Lula ficar solto, por que os outros vão para a cadeia? Porque aqueles do MDB, do PSDB, um monte de empresários que estão complicados, por que eles vão para a cadeia se o Lula foi solto? Esse é o momento que estamos vivendo. O Supremo votou duas vezes, "vai para a cadeia condenado em 2ª instância". De repente, o Supremo, em uma cena absurda, volta atrás, fica tudo como era.
JC - O senhor teve um papel importante na redemocratização. No primeiro ano da gestão Bolsonaro, houve declarações dos filhos com críticas à democracia. Até o ministro da Economia, Paulo Guedes, citou o AI-5. Está garantida a normalidade democrática no Brasil?
Simon - Temos que estar atentos, temos que estar atentos... Eu não disse que votei no presidente, porque não tinha como votar. Fiz um voto em branco, já que ele ia ganhar, não precisava do meu voto, eu não ia comprometer o meu voto. Mas reconheci duas coisas: primeiro, a escolha do Guedes foi correta. Guedes escolheu pessoas de passado limpo para o Planejamento, o Banco do Brasil, o Banco Central, o BNDES, pela primeira vez, a área econômica ficou na mão de uma pessoa, que é o Guedes. A segunda é a escolha do Moro para ministro da Justiça. Agora, com relação ao resto, tinha minhas restrições, como tenho até hoje, com os ministros da Educação, do Meio Ambiente, das Relações Exteriores, uma série de confusões e as próprias declarações do presidente, do filho dele (deputado Eduardo Bolsonaro) com relação ao ato institucional... Hoje, o principal fator de crise do Brasil é a palavra do presidente. Se olhar, quais são as crises? O presidente que disse uma bobagem.
JC - E, no geral, qual é a sua avaliação do primeiro ano de governo Bolsonaro?
Simon - Acho que saímos salvos. Não houve nenhuma derrubada radical, em termos de corrupção do governo, ele continua dizendo as coisas firmes, tem o problema do filho (senador Flávio Bolsonaro), que analiso com muito cuidado. Problema de deputado receber dinheiro de funcionário existe e sempre existiu. Fizeram um levantamento na Assembleia do Rio de Janeiro, apareceram 40 deputados comprometidos. Pegaram o filho do presidente e vasculharam. Por quê? Porque é o filho do presidente. "Mas acha que não deveriam (investigar)?" Acho que deveriam. Não estou absolvendo o presidente, acho que ele tinha que continuar firme, deixar que investigasse o que tiver que investigar.
JC - Gostaria de um comentário seu sobre alguns nomes da política nacional: Jair Bolsonaro.
Simon - Temos que aceitar. Tem o lado bom, que deve continuar, se Deus quiser; tem o negativo, que ele tem que se compenetrar, porque é presidente, cuidar as palavras.
JC - Luiz Inácio Lula da Silva.
Simon - Fui grande amigo do Lula. No início do governo, olhei com apoio, simpatia, com respeito. Acho que o governo Lula não tinha uma identidade com corrupção. Os grandes empreiteiros, nos grandes negócios, entraram na corrupção, e o governo foi envolvido.
JC - João Doria (PSDB).
Simon - Governador de São Paulo Tenho muitas restrições, mas acho que está fazendo um bom governo. Merece respeito.
JC - Ciro Gomes (PDT).
Simon - Gosto do Ciro, tenho carinho por ele, mas a impetuosidade de dizer as coisas, às vezes, uma frase complica. Por exemplo, quando a esposa dele era a Patrícia Pillar, perguntaram "qual é o papel da sua esposa no governo?" "Dormir comigo, você acha que é pouco?" Uma frase dessas complica a vida dele.
JC - Luciano Huck.
Simon - Com todo respeito, uma figura importante, mas não vejo ele em condições para ser candidato à presidência. Podia ser a deputado, vereador, senador. Agora, não é por ser bom apresentador (que pode ser candidato ao Planalto).
JC - Marina Silva (Rede).
Simon - Era boa demais para ser presidente do Brasil, só tinha as qualidades, não tinha os defeitos. Era para ter ganhado de todo mundo. Mas ela colocou no estatuto que não podia ser candidato à reeleição. Os deputados que iam entrar na Rede não entraram, até os que estavam saíram.
JC - Michel Temer (MDB)
Simon - Respeito, mas nunca me identifiquei com ele, nem com o grupo dele. Eu era mais Ulysses (Guimarães), Tancredo (Neves), Teotônio (Vilela), (Miguel) Arraes.
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