O pai e a mãe de Marielle Franco (PSOL-RJ), assim como a viúva de Anderson Gomes, lamentam a saída da promotora Carmen Eliza Bastos da investigação sobre os assassinatos da vereadora e do motorista. Ela decidiu se afastar do caso, conforme informou nesta sexta-feira o Ministério Público (MP) do Rio de Janeiro. Publicações em que Carmen demonstrava apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) em uma rede social vieram à tona esta semana. Após o Jornal Nacional noticiar que o presidente foi citado por um porteiro do condomínio onde morava, na Barra da Tijuca, em dois depoimentos, o MP afirmou que ele estava errado. Nos bastidores, havia receio de que o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) abrisse um processo administrativo contra Carmen.
Após a revelação dos depoimentos do porteiro, o MP concluiu, após 15 dias de trabalho, segundo a instituição, uma perícia das gravações feitas da portaria aos moradores. O resultado, apresentado em entrevista coletiva na quarta-feira (30) - com a participação da promotora - apontou que foi o sargento reformado da PM Ronnie Lessa, acusado pela morte de Marielle e Anderson, quem autorizou a entrada do seu comparsa Élcio de Queiroz no condomínio, e não Bolsonaro, como havia dito o porteiro.
As promotoras informaram em coletiva que o material estava sendo analisado desde o dia 16 de outubro. Embora não conste documento informando esta data no processo, o MP informou que a perícia foi pedida por meio de comunicação interna no órgão. A qualidade da perícia, no entanto, foi questionada pela Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais. O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) solicitou formalmente que o procedimento seja refeito.
Em uma das publicações, de outubro de 2018, Carmen aparece vestida com uma camisa estampada com o rosto de Bolsonaro. Também há um registro dela ao lado do deputado Rodrigo Amorim (PSL-RJ), que quebrou uma placa com o nome de Marielle no ano passado.
Os textos e fotos foram publicados pelo site The Intercept Brasil. Diante da repercussão de suas posições políticas, Carmen preferiu deixar a apuração do crime - ela tinha até esta sexta-feira (1º) para decidir se permaneceria ou não na investigação. Consultados em reunião com o procurador-geral de Justiça do Rio Eduardo Gussem, os pais de Marielle e a mulher de Anderson se manifestaram favoráveis à permanência dela no caso.
Antônio Francisco da Silva Neto, pai da parlamentar, afirmou que a saída de Carmen foi "uma vitória do outro lado". Para ele, a promotora conduzia o caso "de forma inteligente". Ao Globo, Marinete Silva, mãe de Marielle, disse que o afastamento "foi uma perda".
A viúva de Anderson Gomes, Agatha Arnaus Reis, também comentou positivamente a atuação de Carmen: "Não houve, durante as audiências em que estive, qualquer ato que desabonasse a atuação da doutora Carmen. Acredito que a posição partidária dela não teve qualquer influência na atuação dela. Nem para um lado, nem para outro".
Em publicação feita na quinta-feira (31) no Twitter, Anielle Franco, irmã de Marielle, se manifestou contra a atuação da promotora. Procurada na sexta-feira (1º), após a reunião em que os pais foram consultados pelo MP, ela não quis responder se mantinha a opinião do post.
Em carta aberta divulgada pelo MP, Carmen afirmou jamais ter atuado "sob qualquer influência política ou ideológica" em seus 25 anos de carreira.