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Política

- Publicada em 03 de Junho de 2019 às 21:59

Margarita Zapata exalta papel dasmexicanas em revolução de 1910

Neta de Emiliano Zapata participa de celebração dos 100 anos da morte do revolucionário

Neta de Emiliano Zapata participa de celebração dos 100 anos da morte do revolucionário


LUIZA PRADO/JC
Lívia Araújo
No ano de 2019, o México realiza a celebração pelos 100 anos da morte do revolucionário Emiliano Zapata, um dos principais nomes da revolução mexicana de 1910. Figura marcante e quase mítica da história do país, Zapata foi até imortalizado por Hollywood, com o filme Viva Zapata!, de 1952, com Marlon Brando no papel-título.
No ano de 2019, o México realiza a celebração pelos 100 anos da morte do revolucionário Emiliano Zapata, um dos principais nomes da revolução mexicana de 1910. Figura marcante e quase mítica da história do país, Zapata foi até imortalizado por Hollywood, com o filme Viva Zapata!, de 1952, com Marlon Brando no papel-título.
A revolução, que teve também a participação de outros nomes, como o de Pancho Villa, derrubou o ditador Porfírio Díaz, responsável por um governo que retirou terras de indígenas e seus descendentes - que representam a maior porção da população do país - e era conivente com o sistema chamado de "tendas de raya", lojas de mantimentos e equipamentos nos quais os trabalhadores eram obrigados a comprar e contrair dívidas impagáveis - configurando, na prática, uma condição análoga à escravidão.
Uma luta armada que chegou às bordas da década de 1920, a revolução mexicana teve dissidências diversas e líderes que disputavam poder político. Zapata foi um dos últimos que permaneceu lutando na revolução, acusando outros líderes de desistir das reivindicações pela devolução das terras tomadas pelo governo de Díaz. Foi traído e assassinado em uma emboscada em 10 de abril de 1910.
Uma das personalidades mais ativas no aniversário dos 100 anos de Emiliano Zapata é sua neta, Margarita Zapata, de 70 anos, ela mesma tendo participado de uma revolução armada no final dos anos 1970, como parte da Frente Sandinista de Libertação Nacional, na Nicarágua, que acolheu diversos jovens estrangeiros em suas hostes.
Margarita veio a Porto Alegre no mês de abril para participar da exposição Adelitas, da artista plástica e psiquiatra Cinthya Verri, que destaca o papel das mulheres na revolução mexicana. Em entrevista exclusiva ao Jornal do Comércio, Margarita afirma que esse não foi um papel secundário. "Zapata se deu conta de que as mulheres não estavam lá simplesmente para acompanhar seus maridos ou cozinhar para alimentá-los. Elas levavam cartas; eram enfermeiras, capitãs, coronéis. Havia mulheres de grandes mandos", relata.
A neta de Zapata crê que, além do atuação do avô como "reserva moral da revolução", o que serviria de exemplo para gerações futuras, a luta zapatista com a inclusão das mulheres também influenciou na conquista de direitos no México atual, como a recente divisão paritária de cadeiras no Parlamento mexicano. "A transformação do México se deu com a incorporação das mulheres nesse processo", crê.
Jornal do Comércio - Que herança Emiliano Zapata deixou aos mexicanos?
Margarita Zapata - Emiliano Zapata era a referência, a reserva moral da revolução. É o homem que incorporou todos os seres humanos capazes de incorporar a revolução. As mulheres, os homens... Não importam seus status social. Mas não somente isso. Exigia que não houvesse nada de vandalismos, nada de violações contra as mulheres. Então, o exemplo, a disciplina que Zapata inspirava em sua gente foi algo que aconteceu em todo o território do México. Mas também o exemplo de que, quando diziam a Zapata para parar de lutar porque lhe dariam uma fazenda, ele respondia que fazia revolução para repartir a terra com os camponeses. E enquanto não cumprisse esse compromisso, esse projeto da revolução, seguiria lutando. E seguiu lutando. E morreu por traição.
JC - Relatos históricos apontam um papel importante das mulheres na revolução mexicana. Qual foi esse papel?
Margarita - Foram papéis muito importantes, desde o momento em que Zapata se deu conta de que as mulheres não estavam simplesmente lá para acompanhar seus maridos ou cozinhar para alimentá-los. Elas levavam cartas, também eram espiãs, porque sempre estavam procurando onde estava o inimigo, o que estava fazendo, para trazer informações; eram enfermeiras, capitãs, coronéis. Havia de tudo na revolução.
JC - Havia mulheres de patente alta?
Margarita - Havia mulheres de grandes mandos.
JC - Há um papel das mulheres nas transformações sociais?
Margarita - Sim, claro. As mudanças não seriam possíveis sem as mulheres. Mas não com uma participação apenas teórica, sem compromisso. A transformação do México se deu com a incorporação das mulheres nesse processo. Transformações sociais, econômicas, políticas. Veja que as mulheres agora estão em todos os lugares da política nacional. E também da economia, da academia. Antes, as mulheres não participavam da política porque era malvisto que uma mulher participasse. E, agora as mulheres querem estar lá. Há mulheres deputadas e muito ativas.
JC - E as mulheres do país se sentem devidamente representadas?
Margarita - É claro. Mas também sentimos que somente essas mulheres não vão poder com tudo. Então temos que apoiá-las. Não precisamos aspirar a nenhum cargo eletivo, mas estamos trabalhando lado a lado com as mulheres que querem ser candidatas, porque, sim, queremos que nos representem, que sejam as que falem, que façam as propostas. É interessante, realmente, o que está acontecendo no México. Antes, os suplentes das mulheres que se candidatavam eram homens. Assim, quando elas ganhavam a eleição, renunciavam para beneficiar seus suplentes. E algumas líderes faziam assim porque, segundo elas, era para partido poder levar mais deputados à Assembleia Nacional. Poderia levar mais deputados, mas eram as mulheres que tinham ganhado a eleição. Então, legislou-se para mudar isso. Em princípio, foi aprovada uma cota de 30% (de assentos do Parlamento) para as mulheres. Agora, estamos em paridade. Mas a lei também diz que o suplente de uma mulher seja outra mulher.
JC - O México é conhecido por ser um país muito machista. Como está essa questão atualmente?
Margarita - Cada vez há menos machistas no México, porque as mulheres não estão mais dispostas a aceitar um papel secundário no trabalho que fazemos. Também há outra coisa: à medida em que as mulheres têm tido acesso ao mercado de trabalho, também têm mudado a visão da sociedade e a sua própria percepção quanto a esse lugar. Também em decorrência da migração - muitos homens emigraram para os Estados Unidos, e as famílias monoparentais são cada vez mais numerosas. Isso também traz outra repercussão importante na política nacional. Muitos homens que emigraram para melhorar as condições financeiras de suas famílias, ao chegarem ao outro lado, sozinhos, acabaram encontrando outra parceira, construindo outra família. Essas são as realidades da sociedade que vivemos. Enfim, isso vai mudando a forma de ver a política, a economia, mas também a forma de nos sentirmos mulheres. Já não somos esses sujeitos obrigados, esses sujeitos dirigidos pelos homens. Porque, agora, somos nós que decidimos, trabalhamos e dirigimos nosso próprio lar. Com muito, ou pouco. Mas é o que temos. É o que somos.
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