O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) impôs mais uma espécie de "lei do silêncio" ao seu vice, general Hamilton Mourão (PRTB), em um novo capítulo da disputa interna do futuro governo. A recomendação, repassada ao general por meio de alguns dos mais próximos aliados de Bolsonaro, é que o militar adote uma postura mais discreta e deixe que o presidente eleito concentre os holofotes, sendo o único porta-voz do futuro governo.
Além da trava verbal, o general - que, por diversas vezes, afirmou que não gostaria de ser um vice figurativo - não deverá ter espaço para atuar no governo, segundo interlocutores do grupo de transição. Pelo desenho atual da estrutura, a vice-presidência não terá nenhuma secretaria subordinada ou atribuição pré-definida. Após a vitória em segundo turno, chegou-se a especular que Mourão teria um papel de "gerente" do governo, coordenando os ministérios. Porém, a recomendação é que o vice só responda às demandas específicas de Bolsonaro, quando for solicitado.
Ao contrário de outras vezes em que foi desautorizado por Bolsonaro após declarações controversas, o impasse, agora, surgiu justamente pelo desempenho de Mourão nas entrevistas para a imprensa. A avaliação é que Mourão, ao construir interlocução com jornalistas, trabalha para sobressair ao presidente eleito.
O vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente eleito, é o que mais tem reagido mal ao vice e insistido para que o pai freie o general. Na semana passada, a intriga ganhou as redes sociais quando o Carlos, no Twitter, escreveu, sem citar nomes, que morte de Bolsonaro "não interessa somente aos inimigos declarados, mas também aos que estão muito perto. Principalmente após sua posse".
Questionado se a mensagem havia sido uma indireta, Mourão se irritou e disse que caberia a Carlos esclarecer a sua mensagem. "Se eu quisesse ser presidente, teria concorrido a presidente", respondeu Mourão.
Os atritos no entorno de Bolsonaro e general Mourão surgiram ainda durante a campanha. Com Bolsonaro hospitalizado após o episódio da facada, Mourão chegou a afirmar que poderia assumir os compromissos eleitorais, incluindo debates, mas foi desautorizado pelo então presidente do PSL, Gustavo Bebianno, que afirmou ser Bolsonaro "insubstituível".
O vice foi advertido três vezes para que fosse mais comedido em seus discursos. Na quarta vez, Bolsonaro decidiu expor a rusga com o companheiro de chapa e foi ao Twitter desautorizá-lo, após o general dizer que o 13º salário e o abono de férias são "jabuticabas brasileiras".