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Política

- Publicada em 30 de Novembro de 2018 às 01:00

PT subestimou Bolsonaro, avalia José Dirceu

Ex-ministro petista lançou autobiografia em Porto Alegre

Ex-ministro petista lançou autobiografia em Porto Alegre


LUIZA PRADO/JC
Bruna Suptitz
Em passagem por Porto Alegre para o lançamento da sua autobiografia - José Dirceu: Memórias, volume 1 -, o ex-ministro petista José Dirceu falou ao Jornal do Comércio sobre o PT e o momento político nacional. Condenado e preso no âmbito da Operação Lava Jato, Dirceu aguarda em liberdade, desde 26 de junho, o julgamento do recurso especial que apresentou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Em passagem por Porto Alegre para o lançamento da sua autobiografia - José Dirceu: Memórias, volume 1 -, o ex-ministro petista José Dirceu falou ao Jornal do Comércio sobre o PT e o momento político nacional. Condenado e preso no âmbito da Operação Lava Jato, Dirceu aguarda em liberdade, desde 26 de junho, o julgamento do recurso especial que apresentou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Afirmando não ter participado das decisões da sigla na eleição deste ano, avalia como acertada a manutenção da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) até o prazo limite permitido pela legislação. "Retirando a candidatura dele, isentaríamos o Judiciário de tomar uma decisão e ficar com o ônus histórico de ter impedido Lula de ser candidato", sustenta.
Dirceu analisa que o PT e a esquerda subestimaram a força do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), ainda quando candidato. "Não podemos não tirar as consequências do diagnóstico que fazemos. Minha análise é que (Bolsonaro) veio para durar".
Jornal do Comércio - Antes da eleição o senhor declarou que não previa a vitória de Bolsonaro. Depois, avaliou que a gestão dele deve perdurar. O PT e a esquerda minimizaram a força e o discurso de Bolsonaro?
José Dirceu - No começo sim. Bolsonaro não representava a força que expressou depois do resultado. Em 2017 já andava pelo país e estava restrito à base de extrema direita e radicalizada, os jovens. O crescimento do Bolsonaro se deve basicamente à ausência e degenerescência do PSDB. Em política, você paga a consequência dos seus atos. O PSDB não reconheceu resultado eleitoral (em 2014), contestou, fez oposição de sabotagem ao governo (da ex-presidente) Dilma (Rousseff, PT). Foi o principal partido na promoção do impeachment, e depois participou do governo Temer. Evidente que o PT foi para a oposição e sofreu consequências, pagou um preço altíssimo, sofreu campanha de quatro anos contra o partido e contra a figura do Lula. O mais provável que PSDB tivesse candidato com 30% a 35% dos votos. Mas Bolsonaro ganhou todo esse eleitorado porque não apresenta só uma pauta extremista ou moralista ou autoritária. Apresenta um programa que é o do Temer e do PSDB, com apoio do capital financeiro bancário, para avançar as privatizações sobre a Previdência, saúde e educação e desconstituir o Estado brasileiro, que é um grande instrumento de desenvolvimento. Acredito que o crescimento dele é mais um fracasso do centro do que fracasso do PT. Lógico que o PT sofreu uma derrota, e é sim uma derrota mais profunda que uma eleição. O Bolsonaro não é só um presidente que foi eleito. Atrás dele tem todas as forças políticas econômicas que querem desconstituir o Estado brasileiro, querem fazer a economia crescer, mas sem as reformas que o Brasil precisa. Então o ônus será dos trabalhadores e das classes médias, não das elites do país. Agora, se subestimamos o Bolsonaro? Sim, subestimamos. Mas não já quando começa, porque o nosso candidato era o Lula, não tinha porque ter medo do Bolsonaro. Não podemos não tirar as consequências do diagnóstico que fazemos. Se não, se faz diagnóstico e diz 'isso aí não vai acontecer, vamos vencer as eleições em 2020 e 2022'. As pessoas não gostam que eu fale isso, dizem que estou desanimando a militância. Estou fazendo uma análise. Posso até estar equivocado. Minha análise é que isso veio para durar.
JC - Ao mesmo tempo em que entende que o governo Bolsonaro vai durar, o senhor diz ver espaço para o fortalecimento da oposição. Não é contraditório?
Dirceu - A rigor os setores democráticos deviam ter suposto a eleição do Bolsonaro. Não só não supuseram como apoiaram, ou ficaram omissos. A ditadura foi perdendo apoio, mas ela durou mais de 20 anos. Não derrubamos a ditadura, foi feito um acordo no fim. Isso não quer dizer que ele vai ser bem-sucedido e terá sempre maioria. Mas o sistema político-institucional brasileiro, necessariamente, não garante que as maiorias governem. Bolsonaro tomou uma série de medidas nesse um mês de eleito e já sabemos a natureza delas. E as contradições também. Mostra de que não é (fácil) assim um governo autoritário no Brasil. Quando propôs a unificação dos ministérios (do Meio Ambiente e da Agricultura), os ambientalistas se opuseram, mas quem foi peso decisivo para não acontecer foi o próprio capital agrário, ao falar que, em nível internacional, sair do Acordo de Paris é sinal para o Brasil perder mercados, para retaliação. Governar também é administrar as consequências do que você faz. E a oposição daí surge. Por isso digo que haverá muita luta no País. Ao mesmo tempo em que tenho uma visão que pode ser considerada pessimista em relação à duração, tenho uma visão muito positiva em relação à nossa capacidade de luta. Vamos fazer contraposição, é da democracia, exercer nosso mandato e participar da luta política social. Somos uma força importante no País.
JC - Qual foi a sua participação nas decisões do PT no período eleitoral?
Dirceu - Nenhuma.
JC - Avalia como acerto ou erro a posição do PT de insistir na candidatura do Lula até o último momento, mesmo com sinais de que não avançaria?
Dirceu - Foi correta, porque o Lula tem o direito legal e constitucional de ser candidato. Retirando a candidatura dele, isentaríamos o Judiciário de tomar uma decisão e ficar com o ônus histórico de ter impedido Lula de ser candidato. Não tinha sentido nenhum. Primeiro, temos que acreditar que a justiça está na justiça. Por isso mesmo que me apresentei e fui preso várias vezes, porque estou na expectativa de que se fará justiça. E não havia nenhuma decisão que impedisse o Lula de ser candidato. Havia a previsão, em tese, de que a lei da ficha limpa se aplicava a ele. Mas a Constituição diz que não pode ter prisão até última instância, porque tem a presunção da inocência. Lógico que o Supremo violou a Constituição ao permitir a prisão antes do trânsito em julgado. Já violou lá atrás, no nosso caso do Mensalão, quando aprovou a prisão com o trânsito em julgado parcial, que não existe. Não houve (erro), porque Lula transferiu 30 milhões de votos no primeiro turno, e (Fernando) Haddad teve 47 milhões no segundo turno. Perdemos muito mais por razões estruturais anteriores do que a própria campanha.
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