A discussão sobre o futuro ministro da Educação do governo de Jair Bolsonaro (PSL) gerou uma crise da equipe de transição do presidente eleito com a bancada evangélica no Congresso. O nome de Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna, causou reação de deputados contrários à seleção - Ramos é tido como moderado entre funcionários do ministério.
Com a pressão por uma desistência do educador, o colombiano Ricardo Vélez Rodriguez foi chamado às pressas de Juiz de Fora (MG) para conversar com Bolsonaro ainda ontem. O nome do professor já circulava entre os cotados para a pasta. Rodriguez é formado em Filosofia pela Universidade Pontifícia Javeriana e em teologia pelo Seminário Conciliar de Bogotá. Hoje é professor associado da Universidade Federal de Juiz de Fora.
A informação da escolha de Mozart vazou ontem, um dia antes da reunião marcada com Bolsonaro para selar a indicação. Em nota, o Instituto Ayrton Senna disse que Mozart não foi convidado e que terá hoje uma reunião com Bolsonaro.
Nas redes sociais, após a veiculação do nome de Mozart e a reação da bancada, o presidente eleito disse que "até o presente momento não existe nome definido para dirigir o Ministério da Educação". O plano da equipe do presidente eleito era de que o nome fosse oficializado nesta quinta após a reunião, em Brasília, quando Mozart e Bolsonaro discutiriam condições para ele assumir a pasta.
Ao site O Antagonista, Bolsonaro afirmou que "não existe essa possibilidade", ao comentar a nomeação do diretor do instituto.
Membro da bancada evangélica no Congresso, o deputado federal Sóstenes Cavalcanti (DEM-RJ) disse que os parlamentares levaram a insatisfação ao futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM). Onyx, segundo ele, confirmou que teve conversas com Mozart, mas que nada havia sido definido.
Cavalcanti afirmou que o nome de Mozart "desagradou e muito". "Para nós, o novo governo pode errar em qualquer ministério, menos no da Educação, que é uma questão ideológica para nós", disse.
Em nenhum momento, por exemplo, ele deu declarações a favor do projeto da Escola sem Partido ou contra discussões sobre gênero em sala de aula.
Os dois temas, em debate no Congresso contra o que seria uma doutrinação partidária por professores, serviram para alavancar o nome de Bolsonaro no cenário nacional bem antes de sua pré-candidatura presidencial. Com apoio dos evangélicos, o presidente eleito foi um dos líderes do movimento contra a discussão do que chamam de "ideologia de gênero" nas escolas.