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eleições 2018

- Publicada em 22 de Outubro de 2018 às 23:04

Eduardo Leite diz que ter projeto é o seu diferencial para governar o Rio Grande do Sul

Candidato do PSDB diz que recuperação das finanças virá de ações durante o período de suspensão do pagamento da dívida com a União

Candidato do PSDB diz que recuperação das finanças virá de ações durante o período de suspensão do pagamento da dívida com a União


MARCELO G. RIBEIRO/JC
O candidato ao Palácio Piratini Eduardo Leite (PSDB) avalia que a principal diferença entre ele e o seu concorrente, o atual governador José Ivo Sartori (MDB) é a proposta para a recuperação das finanças estaduais. "Estamos propondo redução da burocracia e da carga tributária, investimentos com infraestrutura e parceria com o setor privado."
O candidato ao Palácio Piratini Eduardo Leite (PSDB) avalia que a principal diferença entre ele e o seu concorrente, o atual governador José Ivo Sartori (MDB) é a proposta para a recuperação das finanças estaduais. "Estamos propondo redução da burocracia e da carga tributária, investimentos com infraestrutura e parceria com o setor privado."
Mesmo se declarando favorável à adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) proposto pela União aos estados endividados, Leite é crítico de pontos como a impossibilidade de reposição de servidores, e diz que só fechará acordo se puder rever esse ponto, ao menos na área da segurança.
O tucano diz que a privatização de estatais não é uma exigência da União, como alega Sartori, mas uma possibilidade. Ainda assim, afirma que encaminhará proposta para privatizar as três estatais do setor de energia - as companhias Estadual de Energia Elétrica (CEEE), Riograndense de Mineração (CRM) e de Gás do Rio Grande do Sul (Sulgás) - e que manterá o Banrisul e a Corsan públicos.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Leite sinaliza diálogo com o funcionalismo e promete retomar o pagamento em dia até o fim do primeiro ano de governo.
Jornal do Comércio - O que diferencia a sua proposta de governo em relação à do seu adversário?
Eduardo Leite - No segundo turno temos dois caminhos possíveis. Um é o que já está aí, com os resultados que têm dado e deixado de dar para o Estado, que é o do atual governador. O outro é o nosso caminho. A grande diferença que temos está em entender que a recuperação do Estado é mais do que a recuperação do caixa do governo. O governador precisa olhar para o caixa e tomar atitudes para o equilíbrio fiscal, contendo as suas despesas e incrementando as suas receitas a partir de estímulo à atividade econômica e com combate à sonegação, revisão de benefícios fiscais, mas o principal é ter um projeto de desenvolvimento para o Rio Grande do Sul. Por exemplo, o atual governador está falando muito em um plano de recuperação fiscal, o qual ele insiste em dizer que deixará R$ 11 bilhões no Estado. Não é verdade, porque não deixará o dinheiro aqui. Estará se deixando de pagar nos próximos anos um dinheiro que vai ter que ser pago lá na frente. Não há perdão da dívida por parte do governo federal, não é uma doação e sequer um financiamento. Está empurrando o pagamento dessa dívida para os outros governos que vierem lá pela frente. Veja: o Rio Grande do Sul já teve historicamente soluções para o seu problema fiscal, sempre adotando saques ao caixa único do Estado; outra solução era saque dos depósitos judiciais. E agora, não tendo mais essas duas soluções, o que o governador está propondo é deixar de pagar a dívida e empurrar para que os próximos paguem. Isso não resolve o Estado. Como um cidadão que tem problema financeiro em casa, é até admissível que tenha uma negociação com credores para ter um espaço fiscal em que se deixe de pagar o aluguel ou o mercado por um período, para se reorganizar e voltar a pagar com juros aquela dívida. Mas se nada for feito neste período, o que terá acontecido é simplesmente o adiamento do colapso. E não vejo, da parte do nosso adversário, um projeto de desenvolvimento, nesse período de três anos prorrogáveis por mais três - o possível do plano - que vá animar a economia a ponto de daqui a seis anos o Estado ter outra condição fiscal para fazer frente à dívida com a União. Estamos propondo ações concretas para estimular a nossa economia: redução da burocracia, redução da carga tributária, investimentos com infraestrutura e parceria com o setor privado.
JC - De qualquer maneira, o senhor defende a adesão ao RRF, mas com alteração dos termos propostos. Qual seria essa revisão?
Leite - São alguns pontos, como, por exemplo, a incorporação de efetivo de servidores. O acordo diz da possibilidade de reposição da vacância, o que sugere que apenas servidores que vierem a se aposentar poderão ter reposição. Entendemos que na área da segurança pública, por exemplo, não basta repor os que vierem a se aposentar. Precisamos incremento de efetivo, para poder fazer frente ao problema da criminalidade, que deve ser enfrentado com tecnologia, integração das polícias, vagas no sistema penitenciário, mas precisa de polícia na rua. Esse é um dos pontos que deve ser revisto. Mas a grande diferença é que o nosso adversário entende que o RRF resolve o Estado. Estou insistindo aqui: o RRF não resolve por si só, ele adia o problema. O que vai resolver e recuperar o Estado é exatamente o que vai ser feito na economia nesse período. A conta volta e com juros. Se nada for feito, o que o governador terá feito é mais uma vez resolver o problema para os seus quatro anos, para o seu mandato, empurrando o problema com a barriga para frente. Isso nós não admitimos. Queremos soluções estruturais.
JC - Teria que negociar e mudar o artigo da lei para contratar mais servidores da segurança?
Leite - É importante deixar claro para a população: a recuperação fiscal do Estado tem que ser feita, mas não pode ser com a precarização dos serviços, o que vai gerar outros problemas econômicos. Se deixarmos precarizar a prestação de serviços de segurança pública, afugentamos investimentos também. Não adianta ter menores impostos, ter infraestrutura sendo melhorada, ter burocracia mais ágil e ser um Estado violento, que afasta investidores por conta da falta de qualidade de vida. Inclusive com o impacto econômico que isso gera, entendemos que essa determinação do acordo precisa ser revista, seja na legislação, seja no contrato que será firmado com o governo federal, para possibilitar ao Rio Grande do Sul resgatar a ordem, a paz e a tranquilidade que é determinante também para investimento privado, que vai gerar receita e capacidade de pagamento da própria dívida.
JC - Outro ponto relevante do RRF, que inclusive atravancou a negociação com a União, é privatizações. No caso da CEEE, CRM e Sulgás, o senhor é a favor?
Leite - O Rio de Janeiro assinou o contrato do RRF com o governo federal sem privatizar empresas. Eles deram em garantia uma empresa de saneamento estatal, mas não a privatizaram. Ou seja, não é verdade que esse seja um pré-requisito para aderir ao RRF. Sou a favor da privatização da CEEE, da CRM e da Sulgás e sou contra a privatização do Banrisul e da Corsan. E entendemos que dois pontos precisam ser resolvidos para que possa ser encaminhada a privatização. Primeiro: para onde vão os recursos auferidos com a privatização. Não admito que possam ir integralmente para o custeio da máquina, como o atual governo tem feito, que vendeu ações do Banrisul, por exemplo, e usou o recurso integralmente para o custeio. A venda de ativos tem que ser para a troca de ativos. Admito vender patrimônio para reinvestimento em áreas e setores que possam significar alavancagem de um projeto de desenvolvimento que vai gerar receitas permanentes, que essas sim podem ser utilizadas no custeio da máquina. Mas usar a venda do patrimônio para colocar no custeio? Na minha visão é criminoso, porque queima o futuro do Estado. O segundo ponto é o destino dos servidores. Não é culpa do servidor da CEEE que liga energia no poste de luz, que a empresa seja deficitária. Temos que tratar se serão absorvidos na administração direta ou na nova empresa. A função do Estado não é privatizar para resolver o problema do caixa, tem que ser para resolver o problema das pessoas.
JC - Esse é outro ponto que o senhor pretende renegociar com a União, de aderir ao RRF sem privatizar?
Leite - Com o exemplo do Rio de Janeiro, o que estou dizendo é: não é necessário (privatizar). Não significa que vamos deixar de fazer as privatizações, que entendemos necessárias para a modernização da máquina e a redução do tamanho do aparelho estatal e também como forma de garantir investimentos nos setores que são estratégicos, como energia.
JC - O atual governo tentou de diferentes maneiras encaminhar esse tema, seja com a retirada do plebiscito exigido para autorizar a privatização, que não passou, ou tentando convocar o plebiscito, que também não foi possível para esse ano. Como o senhor pretende conduzir essa questão caso a privatização seja uma das escolhas para aderir ao regime?
Leite - Um dos grandes erros do atual governo foi, por não ter projeto claro - sabemos disso: o governador ganhou a última eleição sem ter clareza de projeto para o futuro do Estado -, gastar os seus dois primeiros anos como que estagiando, e só no final do segundo ano de governo é que apresenta a proposta de retirada do plebiscito. Não parece ter havido um grande esforço político para aprovar isso na Assembleia, até que passa para fazer o plebiscito, e também não se esforça para aprovar. Aí, a três meses da eleição, tenta aprovar uma redução do prazo de cinco para três meses do tempo de discussão e preparo do plebiscito. Sobre isso é que fomos contra. Não é admissível que, num processo eleitoral polarizado e radicalizado, tivéssemos mais a discussão de um tema complexo e polêmico como o das privatizações, contaminando e contaminado pela discussão eleitoral que o Brasil está vivendo. Por isso fomos contra a realização do plebiscito na forma como o governo propôs. A estratégia é que tem que iniciar o governo discutindo o tema.
JC - Acredita então que seria com a retirada do plebiscito?
Leite - Vamos dialogar com as bancadas da Assembleia, para, se for o entendimento, fazer sem a necessidade do plebiscito. Mas, se o entendimento for que seja necessário o plebiscito, encaminharemos rapidamente. Mas acho que é possível construir a retirada da exigência do plebiscito, afinal o Rio Grande do Sul é o único estado no Brasil que tem essa previsão constitucional para a privatização de empresas - que não foram criadas por um plebiscito.

Leite quer revisão do plano de carreiras dos servidores

Tucano promete retomar pagamento em dia dos servidores no primeiro ano de governo

Tucano promete retomar pagamento em dia dos servidores no primeiro ano de governo


MARCELO G. RIBEIRO/JC
JC - O senhor declarou apoio ao candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL). Acredita que a negociação do RRF será mais fácil com ele?
Leite - O Brasil tem hoje dois caminhos possíveis. No plano nacional, o outro caminho é de um partido (PT) que quebrou o País, gerou 13 milhões de desempregados, com um déficit primário de R$ 170 bilhões nas contas públicas, que atingiram a credibilidade do País e afastou investimentos, jogou o Brasil em uma recessão profunda e agora temos dificuldades de reanimar a economia diante das dificuldades de aprovação das reformas previdenciária, tributária e outras. Então, tudo contra a volta do PT ao poder, que geraria um mal maior ao País com a sua política econômica equivocada. A alternativa que resta é a do candidato Jair Bolsonaro, que tem um programa com propostas de liberalização na economia, que se diz disposto a fazer as reformas no Congresso Nacional. Há uma expectativa de que o governo dele possa promover reformas que vão ajudar o País a recuperar sua economia e, se isso acontecer, o Rio Grande do Sul colhe também os benefícios, inclusive para negociar sua dívida com a União em melhores condições.
JC - Os servidores estaduais estão há 34 meses com o salário parcelado. É possível pagar em dia? A partir de quando?
Leite - Isso tem que ser colocado como absoluta prioridade. Não é uma opção, para o governo resolver o seu problema, impor um problema nas costas do servidor, e é o que está acontecendo. Vamos dar prioridade, a partir do primeiro dia de governo, para, no primeiro ano, colocar o salário em dia. Acreditamos ser possível porque fizemos em Pelotas. Os servidores recebiam no 5º dia útil do mês seguinte e, quando fui prefeito, numa política de fluxo de caixa priorizávamos o pagamento dos servidores, organizando o pagamento dos fornecedores por calendários e garantindo a retenção dos valores necessários. Com isso, no primeiro ano de governo, antecipamos o pagamento dos servidores para o último dia útil do mês trabalhado. E retínhamos, mês a mês, 1/11 do valor necessário para o pagamento do 13º salário, aplicávamos isso no mercado financeiro, gerando inclusive receita.
JC - Em eventos de campanha o senhor mencionou que vai ser necessário sentar com os servidores para rever os gastos com eles e costuma mencionar a revisão do plano de carreira. Como prevê essa mudança?
Leite - Não. Vamos estruturar isso com muito diálogo com as categorias. Mas é, na nossa visão, evidente que precisa ser feita a revisão na estrutura das carreiras, como por exemplo no magistério, que é de 1974 - no Brasil anterior à Constituição de 1988. E em outros setores também precisamos de revisão, porque na forma que está, com acúmulo e efeito cascata em gratificações e incorporações de vantagens e benefícios, alguns que conseguem ter acesso acabam incorporando e recebendo salários muito maiores do que a média do Estado, ou aumentando a média, enquanto uma base acaba ficando à margem. Essas discussões precisam ser feitas. E tem pontos que entendemos que não cabem discutirmos, como, por exemplo, na segurança pública, a integralidade e a paridade nos salários em relação aos aposentados, que são ferramentas de compensação pela natureza das suas atividades. O importante é que o servidor saiba disso e que o cidadão saiba disso. Essas reformas precisam ser feitas em defesa do próprio interesse dos servidores, para a segurança e a sustentabilidade do pagamento das suas aposentadorias.
JC - Caso vença, descarta a reeleição?
Leite - Eu sou crítico da reeleição, porque no nosso sistema político brasileiro entendo que é um problema e por isso não trabalho com essa perspectiva. Pretendo fazer um mandato. Quatro anos como governador e ajudar nesse período a fomentar o surgimento de novas lideranças que possam dar curso ao trabalho e ao projeto para o Rio Grande do Sul.
 

Perfil

Eduardo Figueiredo Cavalheiro Leite é natural de Pelotas e tem 33 anos. É bacharel em Direito pela Universidade Federal de Pelotas e cursa mestrado em Gestão e Políticas Públicas na Fundação Getulio Vargas, em São Paulo. É o atual presidente do PSDB gaúcho e concorre ao governo do Estado pela primeira vez. Foi aluno convidado do curso de Políticas Públicas da Columbia University, de Nova Iorque, nos Estados Unidos, em 2017. No mesmo ano, foi um dos 11 jovens líderes brasileiros escolhidos para um encontro, em São Paulo, com o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama. Concorreu pela primeira vez a um cargo público em 2004, para a Câmara de Pelotas, ficando como suplente de vereador. Foi vereador na cidade entre 2009 e 2012, presidindo o Legislativo em 2011. Concorreu ao cargo de deputado estadual na eleição de 2010, mas não se elegeu. Eduardo Leite foi prefeito de Pelotas entre 2013 e 2016.