Se pesquisas indicam que o eleitor brasileiro não se sente representado pelos políticos e defende renovação, as grandes doações eleitorais na campanha deste ano não apontam para o mesmo sentido. Na disputa por uma vaga no Congresso, a maior parte dos repasses acima de R$ 100 mil está indo para as mãos de quem já tem mandato.
Das 131 contribuições de pessoas físicas direcionadas a candidatos à Câmara ou ao Senado que ultrapassam R$ 100 mil, 82 foram para donos de mandatos na atual legislatura, mostra levantamento feito pela reportagem. No total, esses políticos receberam R$ 12,9 milhões em doações acima de R$ 100 mil. O dado diz respeito aos lançamentos feitos pela Justiça Eleitoral até o domingo. Os grandes repasses aos candidatos sem mandato somam R$ 8,4 milhões.
Os repasses elevados feitos ao grupo dos que não têm mandato não indicam, necessariamente, uma busca pela renovação na política. Entre os beneficiários, estão os ex-ministros, ex-prefeitos, ex-deputados e até um ex-vereador que teve o mandato cassado.
Pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que 78% dos brasileiros afirmam que não votariam em um parlamentar que hoje exerce mandato.
Entretanto, não são apenas as doações de pessoas físicas que direcionam o jogo eleitoral para que a renovação política seja baixa. Após a proibição das doações de empresas, deputados e senadores ampliaram o financiamento público direto das campanhas instituindo um fundo de R$ 1,7 bilhão que é distribuído aos candidatos a critério das cúpulas partidárias. E elas têm privilegiado políticos já com mandato. Em uma segunda linha, barraram propostas que buscavam impor limite unificado a doações de pessoas físicas ou ao autofinanciamento.