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eleições 2018

- Publicada em 27 de Agosto de 2018 às 22:36

Investir em cultura é política de segurança pública, diz Soares

Candidato do PCB, Cleber Soares quer revogação da reforma trabalhista

Candidato do PCB, Cleber Soares quer revogação da reforma trabalhista


/CLAITON DORNELLES/JC
O entrevistado de hoje da série do Jornal do Comércio com os candidatos a senador é Cleber Soares (PCB), que concorre pela coligação liderada pelo candidato ao governo estadual Roberto Robaina (PSOL). Funcionário dos Correios e diretor da escola de samba Imperatriz Dona Leopoldina, Soares sustenta que os investimentos em cultura vão ser sua prioridade, caso seja eleito para a cadeira no Senado. Para ele, o desenvolvimento dessa área diminui a criminalidade.
O entrevistado de hoje da série do Jornal do Comércio com os candidatos a senador é Cleber Soares (PCB), que concorre pela coligação liderada pelo candidato ao governo estadual Roberto Robaina (PSOL). Funcionário dos Correios e diretor da escola de samba Imperatriz Dona Leopoldina, Soares sustenta que os investimentos em cultura vão ser sua prioridade, caso seja eleito para a cadeira no Senado. Para ele, o desenvolvimento dessa área diminui a criminalidade.
"Acredito que os projetos culturais podem evitar que jovens e crianças em estado de vulnerabilidade social entrem na rota da criminalidade. É até uma política preventiva de segurança pública", avaliou o candidato do PCB.
Para fomentar a cultura popular, Soares pretende propor a modificação das leis de incentivo à cultura, destinando 5% dos recursos captados pelos megaeventos a um fundo de cultural. A verba depositada nesse fundo seria redirecionada para projetos culturais em comunidades carentes. 
Jornal do Comércio - O que o senhor pretende fazer pelo Rio Grande do Sul, caso eleito ao Senado?
Cleber Soares - Minha prioridade será a cultura. Os projetos culturais - seja em escolas de samba, CTGs (Centros de Tradições Gaúchas) ou outros pontos culturais - podem evitar que jovens e crianças em estado de vulnerabilidade social entrem na rota da criminalidade. Temos um exemplo lá na escola de samba Imperatriz Dona Leopoldina, da qual sou diretor. A bateria da escola é feita por uma gurizada que, ano após ano, continua lá. Sabe-se lá onde eles estariam se não estivessem na escola. Talvez envolvidos com o crime organizado. São importantes os investimentos em cultura, em esporte etc.
JC - O senhor está dizendo que os investimentos em cultura servem como uma política de prevenção à criminalidade...
Soares - Sim, os investimentos em cultura acabam sendo até uma política de segurança pública. Hoje, o Brasil tem em torno de 600 mil apenados. Cerca de 30% deles estão entre 18 e 24 anos de idade. Em 2011, os senadores Paulo Paim (PT) e Ana Amélia Lemos (PP) iniciaram o mandato atual no Senado. Se, naquele ano, tivessem feito um projeto forte para trazer recursos para a cultura do Rio Grande do Sul, quantos desses 180 mil apenados que, lá em 2011, ainda eram jovens e crianças poderiam estar em outro caminho? Quantos poderiam estar em outro ofício e não dentro de um presídio? Então é importantíssimo desenvolvermos os espaços culturais - escolas de samba, CTGs etc. - para manter as crianças ali.
JC - Qual é o caminho para fomentar essas políticas culturais a partir do Senado?
Soares - É possível buscar verbas no Ministério da Cultura e facilitar o acesso às leis de incentivo, como a Lei Rouanet, por exemplo, para que as empresas possam vir a investir em projetos culturais. Hoje, é fácil fazer a captação de recursos através das leis de incentivo para os megaeventos, que custam R$ 5 milhões, R$ 6 milhões, com artistas famosos, que estão na mídia o tempo todo. O que acho que pode ser feito? Destinar uma parte da captação desses megaeventos para um fundo de investimento em cultura popular e projetos sociais dentro de escolas de samba, CTGs e pequenos centros culturais.
JC - Tem um percentual?
Soares - Algo em torno de 5% não prejudicaria a produção dos grandes eventos e destinaria um bom percentual para esse fundo de cultura popular. Às vezes, os produtores não conseguem captar pelas leis de incentivo R$ 10 mil, R$ 15 mil, para um projeto que vai atingir 40, 50 até 100 crianças de uma comunidade. Quantas crianças são ajudadas por um megaevento, com o show de uma artista de ponta, por exemplo? Os projetos culturais populares demandam um investimento baixo e garantem um retorno gigantesco.
JC - Muitas vezes, a educação está relacionada com a cultura...
Soares - Precisamos de muitos investimentos no Estado, principalmente em educação. Temos que ter uma política de escola de turno integral, para que as crianças estudem em um turno e tenham uma ocupação no turno inverso. Vejo muita gente - como, por exemplo, o partido da nossa ainda senadora Ana Amélia - defender a redução da idade penal, a construção de mais presídios e até mesmo a pena de morte. Essa é uma lógica que trabalha com o que vai ser feito depois dos atos criminosos. Na minha visão, temos que trabalhar para que os crimes não aconteçam. Por isso, defendo os investimentos em cultura, educação, esporte etc., para que as crianças não trilhem o caminho da criminalidade. Tenho certeza que, se fizermos um investimento forte e sistemático nessas áreas, daqui a 10 ou 15 anos, vamos estar fechando presídios. As crianças que moram em comunidades sabem que vão ter uma ou duas chances na vida. Então eles se agarram nessas oportunidades e se tornam ótimos artistas, esportistas, profissionais etc. O que o poder público tem que fazer é levar essas oportunidades até elas.
Se investirmos sistematicamente na área cultural, daqui a 10 anos, podemos fechar presídios

JC - Como o senhor avalia a atuação da bancada gaúcha no Senado?
Soares - Para responder essa pergunta, levo em conta a discussão sobre a reforma trabalhista, que foi aprovada, e a reforma da Previdência, que não chegou a ser votada. A atuação do Paulo Paim foi muito boa, porque foi o único senador gaúcho que defendeu os direitos dos trabalhadores, votando contra a reforma trabalhista. Quanto aos outros dois, a dona Ana Amélia Lemos e o Lasier Martins (PSD), achei deplorável suas atuações nesses últimos anos.
JC - Paim, cuja atuação o senhor avaliou como positiva, protocolou, inclusive, um projeto para revogar a reforma trabalhista. Apoiaria essa medida?
Soares - Com certeza. Ela tem que ser revogada. No fundo, não é uma reforma trabalhista, é uma retirada de direitos dos trabalhadores.
JC - Quais pontos da reforma o senhor considera mais danosos ao trabalhador?
Soares - Acredito que a (ampliação das possibilidades de) terceirização é um grande problema, porque precariza demais as condições de trabalho, ao não dar o mínimo de estabilidade ao trabalhador, colocando-o em um contrato de cinco ou seis meses, o que não dá nem para fazer a capacitação correta do trabalhador, dependendo da função que ele vai exercer. Por isso, a terceirização é um dos pontos mais danosos ao trabalhador.

Perfil

Cleber Barcelos Soares, 44 anos, nasceu em Porto Alegre. Completou o Ensino Fundamental na Escola Ceará, onde foi presidente do grêmio estudantil e iniciou a trajetória na política. Começou o Ensino Médio no Colégio Júlio de Castilhos e concluiu na Escola Emílio Meyer. Graduou-se em História no Centro Universitário Metodista IPA. Em 2006, assumiu a presidência do diretório acadêmico do curso. É funcionário dos Correios desde 2005. Em 2010, foi eleito diretor do sindicato da categoria no Estado. Em 2015, passou a dirigir a federação dos Correios. Nos anos 1980, foi filiado ao PDT; em 2014, foi para o PSOL; e, em 2015, entrou no PCB. É diretor da escola de samba Imperatriz Dona Leopoldina.