Além da repercussão e da viralização de declarações polêmicas e notícias relacionadas aos pré-candidatos à presidência da República e a governos estaduais, as redes sociais também são uma caixa de ressonância das intenções de voto dos eleitores. De março a junho deste ano, cerca de 50 mil citações a nomes de políticos vieram acompanhadas de manifestação de voto ou rejeição.
O dado resulta de um estudo feito no Twitter pela Scup Social, especializada no monitoramento de redes. Durante o período, o deputado federal da extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL-RJ) - que já é o político com maior número de curtidas no Facebook - teve 21.530 menções relacionadas à indicação de voto (ou rejeição). Enquanto em março, 60% das menções indicavam voto no parlamentar, em junho, essa margem subiu para 80% - a média do deputado no período foi de 72,2% das intenções positivas de voto.
No caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), segundo mais citado, com 13.113 menções, as intenções de voto atreladas também cresceram: em março, 48% das citações indicavam o voto no petista, e, em junho, 71% manifestaram a vontade de votar no ex-presidente, caso ele efetivamente se candidate. Na média dos quatro últimos meses, 64,1% das menções expressavam voto favorável ao ex-presidente.
Ainda que as demais posições tenham tido uma alternância de nomes no período de quatro meses, Manuela d'Ávila (PCdoB) veio em terceiro no total de citações, mencionada 2.679 vezes, com o pico de intenções de voto positivas, de 94%, no mês de abril, e 81,8% de média; em quarto, vem Ciro Gomes (PDT), com 1.757 menções e uma intenção de voto positiva média de 45%; em quinto, está o tucano Geraldo Alckmin, com 1.333 menções e média de intenções positivas de 55,9%; e, em sexto, vem Marina Silva (Rede), com 52% das 1.173 menções indicando voto na ex-ministra do Meio Ambiente.
Embora não acredite que a campanha das redes sociais se sobressaia à propaganda eleitoral na televisão e no rádio, "que têm grande força, principalmente, fora do eixo das grandes capitais" como os maiores influenciadores da decisão de voto, a gerente de Marketing da Scup, Marina dos Anjos, pontua que o Twitter, especificamente, já funciona como uma "segunda tela" do que é veiculado pela TV.
"Os momentos de debate são os que gerarão os maiores picos de menções", prevê. Exemplo dessa tendência é a entrevista da Manuela no programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, que, provavelmente, alçou a pré-candidata ao terceiro lugar no volume de citações em junho, das quais 65% expressavam intenção de voto na deputada. Na última pesquisa eleitoral divulgada pelo site Poder360, Manuela apareceu com apenas 2% das intenções de voto.
Marina avalia que a maneira como a repercussão é capitalizada pelos políticos pode ser positiva para balizar o voto. "Alguns políticos se valem de artimanhas como robôs ou perfis falsos, o que é difícil de identificar. Embora eles acabem gerando ondas de fake news que causam um abalo, não se convertem em um boca a boca capaz de mudar votos. Só convencem as pessoas que já seriam convencidas", analisa. A exceção, segundo a analista, é justamente Manuela, que "transformou os trechos da entrevista em memes e vídeos curtos, dando material para que as pessoas continuassem falando do assunto, associado à pauta feminista".
Também aparecem no estudo pré-candidatos como João Amoêdo (Novo), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB), Rodrigo Maia (DEM), Alvaro Dias (Pode) e Valéria Monteiro (PMN); nomes que já desistiram da pré-candidatura, como Joaquim Barbosa (PSB), Michel Temer (MDB), Ronaldo Caiado (DEM), o apresentador Luciano Huck (sem partido), Chico Alencar (PSOL) e o pré-candidato ao Senado Beto Albuquerque (PSB); além de políticos que não chegaram a formalizar a pré-candidatura, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Eduardo Jorge (PV).
Evolução das menções no Twitter com intenções de voto:
Candidato |
Total de menções |
Intenções de voto positivas (%) |
Março |
Abril |
Maio |
Junho |
Média |
Jair Bolsonaro (PSL) |
21530 |
60.4 |
77.5 |
72.5 |
80.1 |
72.6 |
Lula (PT) |
13113 |
48.5 |
64.4 |
72.4 |
71.1 |
64.1 |
Manuela D'Ávila (PCdoB) |
2679 |
88.4 |
94.2 |
79.1 |
65.4 |
81.8 |
Ciro Gomes (PDT) |
1757 |
51.9 |
57.7 |
30.8 |
39.4 |
45.0 |
Geraldo Alckmin (PSDB) |
1333 |
49.0 |
51.7 |
56.0 |
66.9 |
55.9 |
Marina Silva (Rede) |
1173 |
63.5 |
50.7 |
52.5 |
41.2 |
52.0 |
Joaquim Barbosa (PSB) |
1145 |
75.0 |
53.6 |
58.1 |
75.0 |
65.4 |
Michel Temer (MDB) |
1102 |
- |
78.5 |
66.9 |
42.9 |
62.8 |
João Dória (PSDB) |
1073 |
34.2 |
66.5 |
21.1 |
38.3 |
40.0 |
João Amoêdo (Novo) |
1050 |
60.9 |
68.7 |
84.5 |
81.1 |
73.8 |
Guilherme Boulos (PSOL) |
787 |
66.0 |
63.6 |
64.9 |
68.1 |
65.7 |
Henrique Meirelles (MDB) |
348 |
71.4 |
93.8 |
90.5 |
85.4 |
85.3 |
Rodrigo Maia (DEM) |
301 |
59.1 |
61.9 |
69.6 |
51.5 |
60.5 |
Álvaro Dias (Pode) |
229 |
100.0 |
35.0 |
46.3 |
73.0 |
63.6 |
FHC (PSDB) |
186 |
41.7 |
52.2 |
42.0 |
69.0 |
51.2 |
Chico Alencar (PSOL) |
162 |
75.0 |
80.0 |
95.5 |
58.3 |
77.2 |
Valéria Monteiro (PMN) |
74 |
87.5 |
66.7 |
100 |
66.7 |
80.2 |
Luciano Huck (sem partido) |
43 |
66.7 |
95.5 |
100 |
100.0 |
90.6 |
Ronaldo Caiado (DEM) |
37 |
33.3 |
50.0 |
42.9 |
33.3 |
39.9 |
Eduardo Jorge (PV) |
33 |
100.0 |
92.0 |
77.8 |
100.0 |
92.5 |
Beto Albuquerque (PSB) |
28 |
100.0 |
100.0 |
75.0 |
92.0 |
91.8 |
Fonte: Scup Social - março a junho