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Opinião

ARTIGO

- Publicada em 17 de Maio de 2022 às 19:08

Luta antimanicomial: a vida lá fora precisa de nós

Simone Chanldler Frichembruder
A Reforma Psiquiátrica propõe a extinção dos manicômios e a substituição destes por uma rede de serviços territoriais que garantam o cuidado em liberdade dos usuários.
A Reforma Psiquiátrica propõe a extinção dos manicômios e a substituição destes por uma rede de serviços territoriais que garantam o cuidado em liberdade dos usuários.
Bento, antigo morador de um hospital psiquiátrico, ao lhe solicitarem uma frase que servisse como slogan na comemoração do dia da luta antimanicomial responde: "a vida lá fora precisa de nós". Dizer que "a vida lá fora precisa" dele e de seus companheiros do hospital sugere a possível perda da sociedade ao delimitar os muros, no interior dos quais se dariam as suas relações.
Roberto Tykanori Kinoshita, psiquiatra, professor UNIFESP, em sua pesquisa realizada no manicômio italiano em processo de desinstitucionalização, na cidade de Trieste, conta sobre sua convivência com Palmira, moradora de um dos pavilhões do grande asilo, conhecida pelos seus costumes de arrecadar todos os objetos que estavam dispostos no coletivo (sabonetes, pentes, escovas, etc). Certo dia o psiquiatra esqueceu seu relógio no banheiro do alojamento, e ao retornar ao local para buscar o objeto, percebeu que possivelmente Palmira já havia passado antes dele ali. Para sua surpresa, ela vai ao seu encontro, retira o relógio de dentro do sutiã, devolve-o, cochichando ao pé do ouvido: "Tome. Você deve guardá-lo, do contrário eles vão levar o seu relógio também, saindo com certo ar de cumplicidade".
O psiquiatra, ao falar da situação vivenciada com Palmira, salienta que pensava que ele era o cuidador, mas na verdade, estava sendo cuidado. Na experiência do encontro com essas pessoas, passamos a ser contagiados pelas cantigas cantadas por elas. Às vezes, esses sons soam estridentes; às vezes, sua suavidade penetra nossa existência, interrompendo a banalidade do cotidiano da vida, nos acalentando, produzindo sons de melodias nunca ouvidas.
Precisamos de Bento, das Marias, de tantos Josés que viveram(vivem) atrás dos muros do manicômio, precisamos de sua forma peculiar de se relacionar com mundo, de mostrar-nos a potência das relações e da vida a cada detalhe. Seguimos na luta por uma sociedade sem manicômios.
Doutora em Educação e docente da Estácio RS
 

 

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