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Opinião

- Publicada em 18 de Janeiro de 2021 às 21:35

Estátua aos operários

É fácil esquecer, na luta ante a morte, os que triunfam. É genético da alma humana não olhar para os lados, não olhar abaixo; não olhar. Na pandemia que assola a mim, a ele, a ela, a nós, são e somos milhões nas trincheiras dos dias, a ganhar na loteria da sobrevivência do minuto, hora após hora, dia após dia: há que se comer para se poder espirrar. Há que se morrer para poder viver.
É fácil esquecer, na luta ante a morte, os que triunfam. É genético da alma humana não olhar para os lados, não olhar abaixo; não olhar. Na pandemia que assola a mim, a ele, a ela, a nós, são e somos milhões nas trincheiras dos dias, a ganhar na loteria da sobrevivência do minuto, hora após hora, dia após dia: há que se comer para se poder espirrar. Há que se morrer para poder viver.
Trabalhadores das trincheiras, categorizados, na pobreza do essencial, profissionais da saúde, massa da máscara, quisera eu poder lhes trazer o pão da vacina. Me limito. E me sinto tão pequeno em poder, somente, lhes tornar grandes. Mas a grandeza não anestesia o medo, a grandeza não trapaceia a morte, a grandeza não cura o leproso e não dá de comer ao faminto. A grandeza só aprendeu a ser. Por si só, e apenas.
Alguns estavam, na manjedoura das UTI’s, entre a linha do milagre e da morte: e, aqui, deram seu último suspiro. Em paz, descansem.
É diária a vitória sobre a morte. É humana, a derrota. Massa operária que me lê, Hércules não teria feito o feito dos senhores: Golias teria recuado. No sambódromo da sobrevivência; sambemos, pois sabemos. É brasileira a vitória sobre o impossível. O mundo não precisa dizê-la: sabe. Neste mesmo mundo, o que viu o ar puro se tornar mais valioso que o capital, respirem.
Respirem, sabendo que a luta não está ganha, mas a façanha dos senhores é contagiosa.
Respirem; todos nós possuímos algo de sobrehumano, e é na escuridão da trilha, que aprendemos a iluminar. Somos milhões, em solo brasileiro, a vencer, diariamente a morte, a tosse do outro, a proximidade do próximo. A resistir à gangorra econômica, ao desamparo do Estado e à vil doença do corpo político. Somos seus filhos bastardos: campeões do anonimato.
E eu, talhado também na dureza dos desertos, esculpo aqui, aos senhores, a letras e algoritmos: uma estátua. Uma estátua. Sem machados ou foices, bandeiras ou isolamentos, medalhas ou pódios, mas uma estátua pregada no solo do jornalismo, contando que milhões de irmãos e irmãs nossos, órfãos de escolhas, desamparados de destino, venceram, breve e bravamente, a total ausência de esperança e a completa presença da morte durante um dos maiores pandemônios que já assolaram à humana raça.
É de belezas e batalhas tais, que, de tempos em tempos, eras em eras, impossível em impossíveis, nascem grandes mulheres e homens.
Instigo aos pintores que me lêem a criar tal monumento. Aos poetas, a eternizá-lo. Aos poderosos, a compreendê-lo. Uma grande vitória nossa. Uma insignificante glória à humanidade.
É, e sempre foi brasileira, a vitória sobre o impossível.
Estudande de Letras e escritor
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