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Opinião

- Publicada em 15 de Janeiro de 2021 às 03:00

Promessas fáceis e não cumpridas

O livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, conta a história do Coronel Aureliano Buendía, do Partido Liberal, durante a guerra civil perpetrada para retirar o Partido Conservador do poder. Após 20 anos sem que ela tenha avançado para um lado ou outro, a comissão do Partido Liberal se reuniu, com o Coronel, para discutir a encruzilhada da guerra. Pediam que ele renunciasse à revisão dos títulos de propriedade de terra para recuperar o apoio dos latifundiários liberais, que renunciasse à luta contra a influência clerical para obter apoio do povo católico e, por fim, que renunciasse às aspirações de igualdade de direitos entre os filhos naturais e legítimos, para preservar a integridade dos lares. Surpreendido, pois essas seriam as bases do Partido Liberal, o Coronel Aureliano Buendía, sorrindo, afirmou: Quer dizer, então, que só estamos lutando pelo poder. Imediatamente foi replicado por um dos delegados: São reformas táticas. Por enquanto, o essencial é ampliar a base popular da guerra. Depois, veremos. Esse trecho é a moldura que tem como pintura a política brasileira: vivemos, após a redemocratização, em 1988, uma democracia de promessas não cumpridas, cujo efeito recente é a sua recessão. E as consequências não poderiam ser piores. A década de 2020 começou com a pandemia causada pela Covid-19, a qual deixou claro, de uma vez por todas, que vivemos numa sociedade extremamente desigual. Tivemos, após 1988, oito eleições presidenciais e para o Congresso Nacional, sem se mencionar as estaduais e municipais. Pouco mudou: as promessas se repetem e permanecem não cumpridas. E assim caminhamos cada vez mais para a beira do precipício da incerteza, com a grande maioria da população, durante o dia, esperando um milagre (promessas) e, à noite, um prato de comida. Contudo, ainda que tenhamos todas essas diversidades, não podemos esquecer que sem política não há democracia. Assim, fazem-se necessárias condições mínimas para a participação democrática dos cidadãos. Segundo Boaventura de Souza Santos, são três: ser garantida a sobrevivência: quem não tem com que se alimentar e a sua família tem prioridades mais altas do que votar; não estar ameaçado: quem vive ameaçado pela violência no espaço público, na empresa ou em casa, não é livre, qualquer que seja o regime político em que vive; estar informado: quem não dispõe da informação necessária a uma participação esclarecida, equivoca-se quer quando participa, quer quando participa. Sem isso, continuares esperando, esperando, esperando.
O livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, conta a história do Coronel Aureliano Buendía, do Partido Liberal, durante a guerra civil perpetrada para retirar o Partido Conservador do poder. Após 20 anos sem que ela tenha avançado para um lado ou outro, a comissão do Partido Liberal se reuniu, com o Coronel, para discutir a encruzilhada da guerra. Pediam que ele renunciasse à revisão dos títulos de propriedade de terra para recuperar o apoio dos latifundiários liberais, que renunciasse à luta contra a influência clerical para obter apoio do povo católico e, por fim, que renunciasse às aspirações de igualdade de direitos entre os filhos naturais e legítimos, para preservar a integridade dos lares. Surpreendido, pois essas seriam as bases do Partido Liberal, o Coronel Aureliano Buendía, sorrindo, afirmou: Quer dizer, então, que só estamos lutando pelo poder. Imediatamente foi replicado por um dos delegados: São reformas táticas. Por enquanto, o essencial é ampliar a base popular da guerra. Depois, veremos. Esse trecho é a moldura que tem como pintura a política brasileira: vivemos, após a redemocratização, em 1988, uma democracia de promessas não cumpridas, cujo efeito recente é a sua recessão. E as consequências não poderiam ser piores. A década de 2020 começou com a pandemia causada pela Covid-19, a qual deixou claro, de uma vez por todas, que vivemos numa sociedade extremamente desigual. Tivemos, após 1988, oito eleições presidenciais e para o Congresso Nacional, sem se mencionar as estaduais e municipais. Pouco mudou: as promessas se repetem e permanecem não cumpridas. E assim caminhamos cada vez mais para a beira do precipício da incerteza, com a grande maioria da população, durante o dia, esperando um milagre (promessas) e, à noite, um prato de comida. Contudo, ainda que tenhamos todas essas diversidades, não podemos esquecer que sem política não há democracia. Assim, fazem-se necessárias condições mínimas para a participação democrática dos cidadãos. Segundo Boaventura de Souza Santos, são três: ser garantida a sobrevivência: quem não tem com que se alimentar e a sua família tem prioridades mais altas do que votar; não estar ameaçado: quem vive ameaçado pela violência no espaço público, na empresa ou em casa, não é livre, qualquer que seja o regime político em que vive; estar informado: quem não dispõe da informação necessária a uma participação esclarecida, equivoca-se quer quando participa, quer quando participa. Sem isso, continuares esperando, esperando, esperando.
Defensor Público do Estado do RS
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