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Opinião

- Publicada em 12 de Janeiro de 2021 às 16:09

A loteria do acesso no IFSul

Falar dos desafios que a pandemia da Covid-19 trouxe já virou clichê, sobretudo no Brasil de tantos governos que insistem em negar a pandemia apesar de 200 mil mortos. O que por outro lado merece mais atenção é a discussão sobre as formas de seleção e ingresso nas universidades e institutos federais em tempos de pandemia. E aqui queremos pegar o exemplo local do prestigiado IFSul, que através do Conselho Superior (Consup), resolveu que o acesso ao Ensino Médio Integrado em 2021 se dará através de sorteio.
Falar dos desafios que a pandemia da Covid-19 trouxe já virou clichê, sobretudo no Brasil de tantos governos que insistem em negar a pandemia apesar de 200 mil mortos. O que por outro lado merece mais atenção é a discussão sobre as formas de seleção e ingresso nas universidades e institutos federais em tempos de pandemia. E aqui queremos pegar o exemplo local do prestigiado IFSul, que através do Conselho Superior (Consup), resolveu que o acesso ao Ensino Médio Integrado em 2021 se dará através de sorteio.
A primeira coisa a ser apontada é que se meritocracia numa sociedade tão desigual como a nossa não serve como parâmetro, o mérito (o desempenho pessoal) como forma de seleção é mais avançado do que as históricas relações de favor e compadrio. Por isso que vestibular e concurso público representaram ao seu tempo um avanço. Ao mesmo tempo, é forçoso reconhecer que o simples exame de mérito dissociado do contexto histórico e social induz ao agravamento da desigualdade de acesso aos cargos e posições. Por isso a política de cotas e ações afirmativas é tão importante.
Dito isso, só pode causar-nos estranheza que alguns institutos federais tenham decidido que o ingresso seria por sorteio. Se for um método que a comunidade científica defenda, defenderemos com ela havendo pandemia ou não. Contudo, com a população forçada a ir trabalhar se aglomerando nos trens e ônibus, com outra parte da população voluntariamente se expondo nas praias e baladas, com outros tantos desabrigados e sem amparo do Estado, definir o acesso por sorteio é apostar na loteria.
O argumento não se sustenta na medida em que, sem muito esforço e despesa, é possível a realização de prova sem que isso represente infração aos protocolos relativos à segurança sanitária tão necessária neste momento. Seja presencial com medidas de distanciamento, seja de forma virtual com o governo garantindo acesso integral de condições aos candidatos. Isso inclusive já está ocorrendo em diversas instituições como a Unicamp, a USP e o Liberato, que tem o mesmo propósito que o IFSul e contou com mais de 1000 inscritos e, ao que tudo indica, ocorrerá na UFRGS e no ENEM.
A realização do sorteio não só invalida o acesso democrático, necessário em uma época tão conturbada, mas também deixa aberta a possibilidade de sucateamento da educação federal, em um processo que vem ocorrendo há mais tempo do que se pode colocar no papel. É imperioso que se altere essa rota, afinal educação não é um jogo para ser decidida na sorte.
Estudante e advogado
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