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Opinião

- Publicada em 26 de Novembro de 2020 às 03:00

A ciência e as injeções arsenicais

A doenças infecciosas, hoje e ontem, sempre foram preocupação prioritária da civilização. Além da morte do infectado, mesmo os que sobreviviam poderiam purgar nos deletérios efeitos da moléstia.
A doenças infecciosas, hoje e ontem, sempre foram preocupação prioritária da civilização. Além da morte do infectado, mesmo os que sobreviviam poderiam purgar nos deletérios efeitos da moléstia.
No início do século XX, décadas antes do advento da penicilina (1928), nas mal higienizadas e fétidas pocilgas em que se transformaram as cidades no curso do século XIX, ainda era possível a propagação letal de infecções como o tifo, a varíola, a febre amarela, e outras tantas e mortíferas enfermidades. Ainda em 1874, Porto Alegre foi varrida por intensa epidemia de varíola e suas mórbidas sequelas.
A sífilis despertava especial preocupação pelo mecanismo de contágio: o contato sexual. Era necessário por cobro àquela chaga, e cientistas de todo mundo empenhavam-se na solução. Finalmente, pareceu que o desate fora alcançado: após pesquisas e testes, os médicos alemães Ehlrich e Hirata apresentaram ao mundo o salvarsan ou 606. Tratava-se de preparado arseno-benzólico. Com 605 testes realizados em coelhos, os idealizadores acreditavam ter encontrado a "bala mágica" para o terrível mal.
Não se sabe exatamente como reagiram os organismos humanos nos quais aplicou-se o medicamento, havia notícias até de mortes, mas o certo é que os alemães, preocupados com as reações, resolveram aprimorar as pesquisas até encontrar o neosalvarsan ou 914, auspiciosa descoberta que mesmerizava à humanidade. O novo composto prometia reações menos pronunciadas nos candidatos à imunização. Cogitava-se, finalmente, na cura daquela inquietante e maligna doença, que a todos desassossegava, mormente àqueles propensos às delícias do sexo.
Na redação do Correio do Povo, em 1913, a notícia fluía com desenvoltura, até chegar aos ouvidos do fundador, Caldas Júnior, que, após consultar os médicos, decidiu submeter-se ao tratamento. Corria o mês de fevereiro daquele ano, e Caldas Júnior aceitou ser injetado por um tal de Dr. Bulcão, sendo advertido que alguma reação do organismo poderia haver.
Isento de qualquer sintoma, um dia após a primeira administração do medicamento, o Dr. Bulcão repetiu a dose. O composto de arsênico seguiu sua sina. Naquele mesmo dia Caldas Junior adoeceu, permanecendo acamado até sua morte a 9 de abril de 1913, precocemente, aos 44 anos.
Advogado
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