Conceber uma cidade para pessoas não é trivial, vai de encontro a interesses particulares, de setores e as vezes do senso comum. Certamente a incoerência mais batida do planejamento urbano é o uso do automóvel individual em detrimento do transporte coletivo e ao pedestre. Fortuitamente Porto Alegre já vinha em um processo de transformação salutar, diminuía-se o uso do carro particular em favor de outros meios e também devido a medidas iniciais, mas importantes, como uso de faixas exclusivas de ônibus e a expansão de ciclovias. A revitalização de espaços públicos, como parques e da nova orla do Guaíba também se tornaram convites a caminhada e permanência de pessoas.
Se por um lado a realidade imposto pela atual pandemia faz pessoas repensarem o transporte coletivo, o trânsito menos intenso, a queda de índices de violência e a maior flexibilização devido ao home office; se tornaram convidativos a caminhadas e ao uso da bicicleta. Outro fenômeno curioso foi a migração de usos para espaços locais, como as praças de bairros que viram, embora de forma não recomendada, seu uso ser intensificado. Seja pelo cerceamento de opções ou pela escolha de menores deslocamentos. Tornasse assim curioso que em meio a uma pandemia tenhamos um cenário propício para tornar a cidade mais dinâmica e viva, convidando pessoas o ocuparem espaços locais e ao uso de meios alternativos de transporte.
O grande desafio para o planejamento urbano pós pandemia será a manutenção e reforço no incentivo ao uso dos espaços públicos e a transportes alternativos, para as atividades rotineiras e de lazer. Para tanto deve se reforçar o convite, com investimentos em espaços e trajetos atrativos. Observando as necessidades de segurança e conforto, como iluminação adequada, campo de visão; e calçadas e ciclovias aptas - sendo prioritárias ao tráfego. Transitar e permanecer em espaços públicos deve deixar de ser uma escolha ousada e para tanto o planejamento e seu ponto de vista deve partir da unidade mais básica da cidade: as pessoas.
Engenheiro