São centenas as cidades brasileiras que não contam com tratamento de esgotos. Não surpreende, via de consequência, que mais de uma em cada quatro mortes de crianças menores de 5 anos em todo o mundo sejam atribuídas a ambientes considerados insalubres.
Todos os anos, riscos ambientais, como poluição do ar, água não tratada - caso que está ocorrendo no Rio de Janeiro -, falta de saneamento e higiene inadequada tomam a vida de 1,7 milhão de crianças nessa faixa etária, de acordo com estudo da Organização Mundial da Saúde.
São 361 mil crianças menores de 5 anos que morrem em razão de diarreia, como resultado do baixo acesso à água tratada, ao saneamento e a condições adequadas de higiene. Também 270 mil crianças morrem durante o primeiro mês de vida por conta de condições como a prematuridade, que poderia ser prevenida por meio do acesso à água tratada, ao saneamento e a unidades de saúde.
O Rio Grande do Sul está muito mal no quesito saneamento básico, principalmente no tratamento dos resíduos cloacais.
Há mais de meio século, o prefeito José Loureiro da Silva mostrava-se preocupado com o sistema de água e esgotos de Porto Alegre. Tanto que criou o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), autarquia com receitas próprias e que revolucionou o abastecimento de água.
No entanto, se temos a cobertura de quase 100% da população com água potável, o mesmo progresso não foi possível no quesito tratamento de esgotos. O Dmae ficou de tal maneira envolvido na expansão e no aumento da bitola de redes, na construção e na ampliação de hidráulicas, e com a qualidade da água que a rede de esgotos cloacais ficou para trás. Daí a criação do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) - depois extinto.
Loureiro dizia que, se Porto Alegre não providenciasse redes coletoras para as cloacas e descargas sanitárias que a cada ano aumentavam, acabaria por ter um terremoto causado por excrementos humanos.
Saneamento básico é uma obra pela qual nem todos os administradores públicos se interessam, pois é muito cara, enterrada, incomoda ao ser feita, não tem como inaugurar e, depois de resolvido o problema, ninguém mais fala nele.
Relacionado o saneamento básico à saúde, como demonstrado por números da mortalidade, talvez mais recursos sejam direcionados ao tratamento de esgotos em municípios que não têm o sistema. Seria uma medida muito saudável.