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Opinião

- Publicada em 20 de Agosto de 2019 às 15:22

A volta de Kirchner e a economia brasileira

A volta de Kirchner e a economia brasileira
A volta de Kirchner e a economia brasileira
Romeu Bonk Mesquita
O recente resultado das eleições primárias na Argentina prevê a volta de Cristina Kirchner ao governo federal, desta vez como vice-presidente de Alberto Fernández. Desde que se tornou oposição, em 2015, Kirchner e sua base de apoio criticam as reformas econômicas de Mauricio Macri e, possivelmente, tentará revertê-las se eleita em 2019. Então fica a pergunta: quais seriam os possíveis efeitos desta vitória de Kirchner para a economia brasileira?
Devemos lembrar, primeiramente, que a Argentina é o terceiro mais importante parceiro comercial do Brasil, depois da China e dos Estados Unidos. No entanto, dados do Ministério da Economia indicam que a capacidade argentina de importar produtos brasileiros tem diminuído significativamente. No primeiro semestre de 2018, a Argentina foi responsável por absorver 7,3% de toda nossa exportação, em dólares. Já no primeiro semestre de 2019, essa taxa caiu para 4,6%, ao mesmo tempo em que o Brasil aumentou seu volume total de exportação em 4,8%. O mesmo não se pode dizer para a capacidade brasileira de importar produtos argentinos. Para os mesmos semestres, a importância dos produtos argentinos no volume brasileiro de importações se manteve em 6%. O volume total de transações entre os dois países caiu de 16bi para 12bi de dólares, e o saldo comercial brasileiro passou de um superavit de US$ 3bi para um deficit de US$ 200 milhões.
Analisando os produtos mais relevantes desta parceria comercial, vemos que os manufaturados dominam a pauta, com destaque absoluto para os produtos da cadeia industrial automotiva. No caso dos produtos que importamos da Argentina, os mais importantes são os veículos de carga, cujo volume de importações em dólares aumentou 27% entre os primeiros semestres de 2018 e 2019. Já para o caso dos produtos que exportamos para a Argentina, os mais importantes são os automóveis de passageiros, cujo volume de exportações em dólares caiu 50% para o mesmo período.
Podemos, com isso, chegar à seguinte conclusão: não podemos contar com os argentinos para absorver nossa produção, particularmente a produção automotiva. Devemos, então, nos preocupar com uma eventual continuidade da deterioração da economia dos nossos vizinhos? A princípio, a resposta é não.
Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, a indústria automotiva brasileira está em recuperação desde 2017. Entre 2017 e 2018, houve aumento de 13,8% no volume de unidades comercializadas. Para 2019, a previsão é que ocorra um aumento de 9% no volume de unidades produzidas, a despeito da constante queda do volume de exportações. Isso permite concluir que o mercado doméstico brasileiro é forte o suficiente para compensar a queda da demanda argentina. Idealmente, no entanto, seria interessante o Brasil buscar novos parceiros que absorvam essa capacidade produtiva, dando ainda mais fôlego para o setor.
Claro que muitos outros fatores são afetados pela crise argentina, como pudemos ver pela recente disparada do dólar após o anúncio da vitória de Fenández e Kirchner nas prévias. A instabilidade de um vizinho nunca é um bom negócio. Mas, em se tratando do comércio entre as nações, o Brasil depende muito menos da Argentina do que a Argentina depende do Brasil. É verdade que o clima político e diplomático pode esquentar com a eleição da chapa Fernández-Kirchner, pois coloca em conflito dois governos de orientação ideológica muito distintos. Já houve troca de farpas entre Bolsonaro e Kirchner, mas aqui vale a máxima de que o cliente tem sempre a razão. Caso eleita, Kirchner deve buscar um tom mais conciliador porque, neste caso, o cliente é o Brasil.
Doutorando em Ciência Política pela USP
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