Sérgio Moro na arena com os leões
Fábio Hoffmann
Escrevi em 2017 que Bolsonaro já era então uma realidade eleitoral, não só diante da sua penetração entre o eleitorado mais jovem, mas também pelo seu potencial de representar a figura do anti-establishment. Como vinha sendo previsto, para além das reformas agendadas, Bolsonaro sucumbiu aos apelos do populismo via polarização ideológica e vem revelando até aqui um governo sem grandes ambições. Enquanto caem os índices de aprovação e de confiança ao seu governo Bolsonaro vê Sérgio Moro arregimentar um protagonismo crescente.
O término da sazonalidade eleitoral, a inabilidade na articulação política, as derrotas impostas pelo legislativo e judiciário, a decepção da economia e a necessidade de manter aquecido o nível do conflito político via polarização ideológica são alguns dos fatores que estão deslocando a atenção do eleitor médio para outra figura que simbolize a mensagem salvação. E Moro está começando a entender que a lógica da disputa pelo poder depende da reconfiguração da mensagem para a base.
Acontece que base social que dá sustentação a Moro, por ser mais ampla, se choca diretamente com a de seu chefe, além de entrar também em rota de colisão com a base que João Dória, outro pré-candidato para 2022, procura sensibilizar. Moro não tem tato para a política explícita, mas vem até aqui se beneficiando das narrativas hegemônicas que gravitam em torno de si e que, para o bem e para o mal, cada vez mais o levam para o centro da atenção do eleitor brasileiro.
O desenvolvimento da trama política que resultará na conjuntura eleitoral de 2022 começa a ser destrinchado e está tão interessante quanto o suspense dos filmes de Orson Welles. Se por um lado a esquerda ainda não se encontrou, por outro saber como Moro Bolsonaro e Dória vão reagir quando começar a sentir que o campo minado entre eles tem se tornado mais incisivo a cada passo dado, é um prognóstico que, embora ainda distante, parece imprescindível para entender a política brasileira de hoje.
Cientista político