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VAREJO

- Publicada em 13 de Abril de 2015 às 11:27

O gestor e a guampa

Reinaldo Gabardo

Reinaldo Gabardo


JONATHAN HECKLER - JC
Reinaldo Gabardo
Reinaldo Gabardo
Atire a primeira pedra quem nunca levou uma guampa. Se você agora está procurando uma pedra, pode esquecer, porque você já levou. Palavra um pouco grosseira, talvez inadequada, mas muito usada. Eu talvez tenha levado a maior guampa de todos os tempos aos 17 anos de idade. Apaixonado por uma loira angelical de 16 anos, que por sinal hoje é uma grande amiga minha, cultivava aquele amor adolescente. Com longos cabelos parafinados, eu desfilava na minha Honda CB 50 presenteada pelo meu pai. Meus amigos de Maxi Puch, Garelli, Yamaha RD 50, Mini Enduro e Suzuki 90. Alguém pode estar pensando que éramos filhos de burgueses, éramos mesmo. A maioria burgueses que começaram do zero, constituíram família, pagaram todas as mensalidades do Colégio Anchieta para seus filhos, compraram motos, patrimônio e riqueza. Muitos deles não estão mais aqui hoje, mas quando assistem à notícia de que multidões de trabalhadores saíram à rua para gritar "democracia" em plena sexta-feira, se retorcem na tumba. Tinham como princípio "trabalharem como cavalos" e certamente não compreenderiam o caminho que este País começou a seguir. Bem diferente daqueles pais que ficam sentados na cadeirinha tomando chimarrão na calçada, jogando conversa fora e esperando o carnaval chegar, nunca davam folga ao esforço. Como gestores de família, muitos deixavam a desejar. Casaram-se cedo, imaturos, conversavam pouco sobre assuntos que eram importantes a seus filhos, sem a compreensão clara de que surgiriam novos desafios para seus descendentes além de ensinar o trabalho duro.
Eu era, e até acho que ainda sou, um cara fora da curva. Meu pai me deu de presente a moto, e eu retribui com uma reprovação veemente no colégio. Rodei em nove disciplinas do total de 11. Lembro bem do professor me entregando o boletim com um largo sorriso demonstrando que não simpatizava muito comigo. Como se não bastasse, meu pai descobriu umas 200 carteiras de "Shelton Lights" no meu armário. Além de eu fumar escondido, ainda guardava as carteiras vazias até hoje sem entender para quê.
O namoro com a loira angelical começou a me botar no prumo, e eu me tornei "crente" no colégio a ponto de ajudar os professores Fontoura e Moreno a corrigir as provas no terceiro ano. Também passei na UFRGS com louvor, demonstrando que dentro de mim havia alguém obscuro até certa data.
Mas antes disso, o romance com a loira parecia estar indo muito bem. Deixava minha moto no prédio dela, pegava o lotação e ia ao Unificado. Voltava do cursinho, e ela me recebia com um sorriso, um abraço e um beijo, o amor era lindo. Até que um dia, ela abriu a porta, não me sorriu, não me abraçou, não me beijou e ainda por cima,me deu um repentino "fora". O pior de tudo foi não ter a mínima ideia do motivo, ela não falou. Desesperado e aos prantos, implorei durante algum tempo à mãe dela que intercedesse e nada adiantava. Quando o céu já estava negro, ainda aconteceu o pior. O vizinho de porta dela me chamou em umcanto e confidenciou: "Enquanto tu ias ao cursinho, encostava um Passat amarelo lá embaixo e a fulana se encontrava com um bonitão". Pronto, "caiu a casa e o mundo" chorava mais ainda, definhei como um fiapo, era o fim.
Guampa na verdade é o nome folclórico de traição ou próximo disso. Eu disse que não adiantava procurar a tua pedra, pois certamente alguém já "te meteu a faca nas costas", "puxou teu tapete", "te contou uma mentira" ou "deixou de cumprir o que prometeu". Não ter sido traído na vida é quase o mesmo que não ter servido ao exército. Você nunca vai saber o que deixou de ganhar. Todos precisam ser traídos para sentirem na carne o que isso representa.
De todos os filmes que assisti no Youtube, nenhum foi mais marcante do que o do cão da figura abaixo. Confesso que chorei, também pelo cãozinho, mas mais por ter me enxergado literalmente naquele corpo. Perdido quando deixavam de me explicar o que estava acontecendo. Assustado quando me encontrava com colegas nas filas de empregos para engenheiros recém-formados. "Esnucado" naquelas terríveis dinâmicas de grupo às quais eu me submetia na busca de uma posição profissional. Menosprezado por aquela namorada que me trocou por outro mais velho e muito mais bonito. Dispensado por aquela empresa que me descartou sem mesmo dizer o motivo. Desprezado por aquele amigo que me mentiu ou aquele colega que me prometeu e nunca cumpriu.
Os desafios do gestor em motivar e encantar sua equipe de colaboradores passam por essas órbitas. Nunca minta, nunca engane, nunca esconda. Olhe gentilmente nos olhos, pergunte, converse muito, esclareça as dúvidas e conflitos. Quando o cara cair, dê carinho, estenda a mão, mas não só para que ele se erga. Levanta o cara, enche a bola dele, empurre-o para a frente e depois aplauda.
Melhor ainda, segundo a dica do meu amigo Jefe Bonini: Faça como o músico Yanni, nascido em Kalamata, na Grécia, em 1954, filho de uma cantora e de um violonista. Yanni, como gestor da sua orquestra, reserva espaços em seus magníficos shows para músicos da equipe que queiram BRILHAR para a plateia. São alguns minutos em que podem criar seu próprio repertório dentro do contexto do show. O resultado é deslumbrante. "DÊ ESPAÇO PARA SUA EQUIPE BRILHAR" e depois aplauda muito. Eles nunca mais irão te esquecer.
Não deixe de assistir ao filme do cãozinho, talvez ele conte um pouco da história da tua vida! Busque no YouTube por: "Esse cachorro estava abandonado, quando um homem apareceu e fez algo simplesmente emocionante" ou clique em https://www.youtube.com/watch?v=wwFKJbt46EQ.
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