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Marcas#Artigos#Edição 2015

LOVEMARKS

- Publicada em 10 de Abril de 2015 às 12:08

As marcas na palma da mão

 MARCAS DE QUEM DECIDE 2015 - LUIZ CORONEL - CRÉDITO GABRIELA CARDOSO

MARCAS DE QUEM DECIDE 2015 - LUIZ CORONEL - CRÉDITO GABRIELA CARDOSO


GABRIELA CARDOSO - DIVULGAÇÃO/JC
Luiz Coronel
Luiz Coronel
Preâmbulo - Viajei em sucessivas reflexões sobre o tema "marcas" levando na mochila mais irreverência do que sabedoria, com a humilde virtude de quem abdicou de dogmas professorais para ser apenas um homem de olhos abertos ante o fluxo de seu tempo.
1. A marca Brasil - Somos oito mil e quinhentos quilômetros de costas para nossos problemas. A palavra Brasil tem riso, som de tamborins, engendrações, camuflagens, mãos operosas e ágeis gatunagens, erotismo e piedade, Deus e o diabo na terra do sol.
O Brasil marca encontro com a história e não vai. Para lavar nossos pecados, nem mesmo a água mais benta. Chafurdamos na mais profunda crise e saímos fantasiados de príncipes ou cosmonautas no carnaval. Somos a mais feliz e desafortunada nação do mundo. Temos vulcões de euforia, tornados de desatino, driblamos as derrotas e tomamos caipira nos botequins. Amamos com delírio nossos símbolos ostensivos, bandeira, camiseta, hino, mas não aprendemos a cravar no fundo de nossa estirpe as vigas que sustentam um vero compromisso patriótico. Criamos um monumental projeto governamental solidário sem cogitar que alguém teria de pagar a conta. Somos eternos passageiros entre a esperança e o desalento. E no fundo sabemos que ninguém é plateia nesse espetáculo. E que estamos incluídos no elenco dessa peça, movendo-nos no mesmo cenário. Por isso, la nave va. Felinicamente.
2. A Marca Rio Grande - O Rio Grande é um país no coração. Um estado ao sul de si mesmo. Gostaria de gravar em minha camiseta o dístico: "A partir do Mampituba, tudo é exílio". Nós somos algariados no alegórico e cautelosos no essencial. As sílabas da palavra gaúcho libertam tinidos de correrias bélicas. Há em nós uma maneira muito especial de sentir o tempo. Recusa aos cárceres do cotidiano. O luso pingou mel em nossa alma, mas há rancores que não cicatrizam. Em todos nós há um missioneiro fundindo sinos para os campanários. Somos habitados por silêncios e alaridos. Temos um não saber estar distante, alma sôfrega pelo regresso. A carroça das lembranças mal pode se mover de tão cheia. Estamos sempre de prontidão para inesperadas peleias. Sei bem: o mundo virou cambotas, globalização, informática, pós-modernidade, e nós seguimos tomando mate e cantando milongas. Somos fieis a nós mesmos. Tornamo-nos os bandeirantes do século XX, sem deixar o Rio Grande, pois onde estivermos essa terra vem conosco a reboque. Que estranho país o Rio Grande! É marca chamejando, azulando nas brasas e gravada a ferro e fogo no lado esquerdo do peito. O vento é nosso padrinho. Ao cantar o nosso hino, potros velozes correm pencas por nossas veias. Esse é o Rio Grande. Para festejar essa identidade não se carece de fogos, acepipes e bandejas. Basta uma carne no espeto. Nosso mapa é uma cuia. Chama-se a isso de destinação. Somos o único lugarno mundo onde, ao chegarmos às praias, constatamos que as vacas são frutos do mar. Rio Grande, esta marca puxa mais do que cinco juntas de boi.
3. A Marca Porto Alegre - Com sutileza Quintana dizia não saber se Porto Alegre era uma pequena cidade grande ou uma grande cidade pequena. Se uma palavra pode avaliar e definir a marca Porto Alegre esta deve ser "envolvente". Só quem chega de longe, chegando, chegando pode dizer o que viu e sentiu. A cidade nos envolvendo com seus braços de rio. "Ah, Porto Alegre, que bem me faz o bem que te quero". Sim, aqui vivemos, na mais arborizada capital dos brasileiros. Comendo melancias na Procissão de Navegantes, passeando pelo Brique da Redenção nas manhãs de domingo, erguendo bandeiras nos Grenais, vivendo seus bairros, tão eles mesmos na memória de gerações sucessivas. Mas levamos na cacunda um pecado sem perdão: apedrejamos o Guaíba. Qualquer cidade do mundo que tivesse em seu patrimônio geográfico um estuário como o Guaíba dele faria seu charme e sua glória, seu lazer e sua vitrine. Nós erguemos o Muro da Mauá. Ainda marcharei com a multidão pelas ruas com uma picareta nas mãos gritando: "Muro da Mauá, Muro de Berlim, tudo que separa um dia tem fim!". Consta que o urbanista Jayme Lerner, em seu projeto, propunha 1m40cm de altura para o acabrunhante muro. Simplesmente devolveria assim o Guaíba à cidade. Seria uma mureta defensiva em vez de uma muralha que atesta um medo infantil que a enchente de 1941 peça bis. Que estes olhos que a terra há de comer sem sobremesa ainda assistam tombar, ou se agachar, este obstáculo à fruição da cidade com seu maravilhante estuário das águas do Guaíba.
Conclusão - Sim, são marcas indeléveis o país, o estado e a cidade onde nos foi conferido o tempo/espaço para vivermos nossos exíguos dias. Reafirmo, convicto: tais construções humanas, sobre as quais divago, são marcas que levamos na palma da mão. Ou antes, pulsam em nosso coração.
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