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Internacional

- Publicada em 24 de Outubro de 2021 às 11:10

Primeira prefeita no Afeganistão diz querer conversar com o Taleban

Após a vitória, Zarifa teve que lidar com protestos, ataques com ácidos e tentativa de assassinato

Após a vitória, Zarifa teve que lidar com protestos, ataques com ácidos e tentativa de assassinato


FACEBOOK/REPRODUÇÃO/JC
Zarifa Ghafari, a primeira mulher a se tornar prefeita no Afeganistão, declarou ter vontade de conversar com membros do Taleban, que retomaram o poder do país em agosto, e afirmou não ter medo do diálogo com os extremistas desde que a sua segurança fosse assegurada.
Zarifa Ghafari, a primeira mulher a se tornar prefeita no Afeganistão, declarou ter vontade de conversar com membros do Taleban, que retomaram o poder do país em agosto, e afirmou não ter medo do diálogo com os extremistas desde que a sua segurança fosse assegurada.
"Queria conhecê-los, porque sei que esses homens não são meros zumbis. (...) Adoraria contar a eles sobre a minha vida, os meus sonhos, os meus pais. Eu não tenho medo", declarou a política à revista ELA, do O Globo.
Apesar da vontade, Zarifa, de 28 anos, tem uma história difícil com o grupo. O pai da ex-prefeita da cidade de Maidan Shar foi assassinado por membros do Taleban em novembro do ano passado. "Gostaria que não me perguntasse sobre o meu pai nem a minha fuga. Não aguento mais chorar", desabafou a ativista na entrevista.
Zarifa se candidatou ao cargo de prefeita de Maidan Shar, cidade a 44 quilômetros da capital Cabul, em 2018. Era a única mulher em meio aos outros 138 candidatos.
Após a vitória no processo seletivo que culminou na sua eleição, Zarifa teve que lidar com protestos de conservadores e ficou nove meses no cargo em meio às tentativas de assassinatos e até mesmo ataque com ácidos, que deixaram cicatrizes em seu corpo.
A ex-prefeita renunciou ao cargo em novembro do ano passado após o assassinato do pai e aceitou um novo trabalho no Ministério da Defesa na capital afegã. Mesmo com a renúncia, destaca a importância de ter sido a primeira mulher nesta cadeira. "Foi importante para mudar a mentalidade daquelas pessoas, para que possam confiar numa liderança feminina. Considero um bom começo para quem almeja um grande objetivo."

Fuga

Com a chegada do Taleban no país e a perseguição às pessoas que trabalhavam para o antigo governo, Zarifa se escondeu dentro de um carro para passar por postos de controle dos extremistas e fugir do país.
A ativista conseguiu pegar um avião para a Turquia e depois para a Alemanha, onde está morando atualmente após conseguir asilo com o marido, a mãe e cinco irmãs. Emocionada, relembra da cena de afegãos desesperados caindo de aviões ao tentarem fugir do país.
"Aquilo me fez lamentar profundamente o fato de fazer parte de um mundo capaz de provocar cenas como essas", disse ela. Completou dizendo que passou "noites chorando muito" e "não podia me controlar" ao lembrar do ataque ao aeroporto de Cabul reivindicado pelo Estado Islâmico-Khorasan.
Hoje, a ex-prefeita concede palestras ao redor do mundo para falar sobre as condições do Afeganistão, sua história e reúne assinaturas para uma petição em prol dos direitos humanos.
Zarifa ainda discorreu sobre a perseguição que o Taleban faz a membros do antigo governo e outros grupos. "Eles estão batendo de casa em casa, procurando por pessoas ligadas ao governo anterior, ativistas e militares. Também soltaram criminosos, que agora querem se vingar de quem os colocou na cadeia."
Ela ainda revelou a preocupação com a violação aos direitos das mulheres no país. "As afegãs não podem mais ir à escola ou trabalhar". (...) Outro dia, assisti a um debate na TV estatal em que os comentaristas discutiam as leis do Islã e diziam que a mulher não tem o direito de exibir sua beleza em público."
Para Zarifa, o uso do Islã para restringir os direitos das mulheres é uma distorção feita pelo grupo radical. "Não podemos vestir roupas bonitas em público, não podemos usar salto alto em público... Tudo é sobre mulheres. Essas pessoas não conseguem pensar em nada além disso? Nós representamos a nossa cultura e a nossa bela religião. Não somos inimigas do Afeganistão nem responsáveis pelo que acontece de ruim no país. Não fomos nós que provocamos a guerra ou disseminamos a corrupção."
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