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Internacional

- Publicada em 08 de Abril de 2021 às 21:30

Insatisfação com Brexit na Irlanda do Norte gera caos e noites de violência

Centenas de jovens de uma região pró-Reino Unido na capital Belfast atearam fogo em um ônibus e atiraram pedras em policiais

Centenas de jovens de uma região pró-Reino Unido na capital Belfast atearam fogo em um ônibus e atiraram pedras em policiais


PAUL FAITH/AFP/JC
Uma onda de protestos já dura seis dias consecutivos na Irlanda do Norte, com carros queimados e uso de coquetéis molotov por manifestantes. A escalada de tensão chegou a seu ponto mais alto na madrugada desta quinta-feira (8), a mais violenta até aqui, quando centenas de jovens de uma região pró-Reino Unido na capital Belfast atearam fogo em um ônibus e atiraram pedras em policiais.
Uma onda de protestos já dura seis dias consecutivos na Irlanda do Norte, com carros queimados e uso de coquetéis molotov por manifestantes. A escalada de tensão chegou a seu ponto mais alto na madrugada desta quinta-feira (8), a mais violenta até aqui, quando centenas de jovens de uma região pró-Reino Unido na capital Belfast atearam fogo em um ônibus e atiraram pedras em policiais.
A noite desta quinta também registrou novas cenas de violência, desta vez em uma região pró-Irlanda, com bombas caseiras sendo atiradas contra agentes das forças de segurança. Desde o início dos protestos, ao menos 55 policiais ficaram feridos, e jovens, alguns com 13 e 14 anos de idade, foram detidos sob acusação de causar tumulto. Um fotógrafo do jornal Belfast Telegraph também foi atacado.
As cenas relembram as três décadas de conflitos vividos no país entre grupos católicos pró-Irlanda e protestantes pró-Reino Unido, que resultaram em cerca de 3.600 mortes. Os embates que ocorrem desde a última semana são os maiores desde o acordo de paz entre os dois lados, finalizado em 1998.
A insatisfação desta vez vem do grupo que apoia os britânicos e que foi a favor do Brexit, numa frustração crescente desde o início do ano, quando novas barreiras comerciais foram colocadas entre a Irlanda do Norte e o restante do Reino Unido, fruto do acordo que concretizou a saída do país da União Europeia.
Checagens e tarifas foram impostas a algumas mercadorias porque a Irlanda do Norte faz fronteira com a Irlanda, país membro do bloco europeu, embora o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, tivesse prometido não estabelecer um controle rígido entre os países, além de um comércio irrestrito na região.
Críticos do Brexit dizem que uma fronteira no mar da Irlanda está em vigor, o que deixou os protestantes com a sensação de que foram traídos por Londres e de que parte da identidade deles foi apagada. Como ficaria a divisão entre as regiões foi um dos principais entraves para selar a saída do Reino Unido da UE.
Segundo a polícia, parte da violência foi influenciada por criminosos que orquestraram os ataques e, em alguns momentos, adultos aplaudiam jovens cometendo atos violentos. As ações têm ocorrido na região do chamado "muro de paz", uma estrutura de cercas e tijolos que divide protestantes e católicos em Belfast. Ainda que os conflitos atuais não sejam entre os dois grupos, houve disparos de fogos de artifício entre eles. Tijolos e coquetéis molotov também foram arremessados.
Alguns locais da região continuam separados 23 anos após o pacto de paz, uma vez que católicos ainda defendem a unificação das Irlandas, enquanto protestantes querem permanecer no Reino Unido.
O ministro das Relações Exteriores da Irlanda, Simon Coveney, disse que uma série de fatores é responsável pela insatisfação popular e que com certeza as regras pós-Brexit fazem parte deles.
O estopim para a onda de violência, porém, parece ter sido a decisão da polícia irlandesa de não processar os católicos nacionalistas do Sinn Fein, partido que tem ligação histórica com o grupo separatista IRA, devido a um grande funeral realizado em 2020 em meio às restrições da pandemia. O Partido Unionista Democrático (PUD), protestante e pró-Reino Unido, chegou a pedir a demissão do chefe da polícia.
Em uma rede social, na quarta, a primeira-ministra da Irlanda do Norte, Arlene Foster, líder do PUD, condenou os protestos e alfinetou o partido rival. "Elas (as manifestações) são uma vergonha para a Irlanda do Norte e servem apenas para tirar o foco dos reais infratores no Sinn Fein."
A sigla rival, por sua vez, afirmou que o PUD alimenta tensões ao pedir a renúncia do chefe da polícia.
Apesar da troca de acusações, os partidos, que dividem o poder na Irlanda do Norte, colocaram de lado as diferenças nesta quinta para pedir calma. Em comunicado conjunto, disseram estar preocupados com as cenas em Belfast. "Enquanto nossas posições políticas são bem diferentes, estamos unidos em nosso apoio por lei e ordem e coletivamente declaramos nosso apoio à polícia", afirmou a coalizão de rivais.
Em assembleia regional realizada nesta quinta para debater os confrontos, Foster disse que, quando a política parece falhar com a população, alguns oferecem destruição e desespero. "Não podemos permitir que uma nova geração se torne vítima ou seja perseguida por alguns que preferem as sombras à luz."
Já Michelle O'Neill, vice-primeira-ministra e líder do Sinn Fein, disse que os problemas entre protestantes e católicos da Irlanda do Norte geraram uma escalada perigosa e que foi um milagre ninguém ter morrido.
Boris, o premiê britânico disse no Twitter estar profundamente preocupado com a situação, em especial com os ataques à polícia, ao motorista que teve o ônibus sequestrado e queimado e ao jornalista do Belfast Telegraph, e pediu que as diferenças sejam resolvidas por diálogo e não com violência.
A Comissão Europeia, que discute com o governo britânico formas de aliviar algumas barreiras comerciais, condenou a violência. Os protestos geraram reação também do governo norte-americano, que disse, por meio de seu Departamento de Estado, que o acordo de paz de 1998 não pode ser uma vítima do Brexit.
O porta-voz da pasta, Ned Price, afirmou que a gestão de Joe Biden encoraja o Reino Unido e a União Europeia a priorizarem a estabilidade econômica e política na região. As negociações que levaram ao acordo de 1998 foram presididas pelo então enviado especial dos EUA, George Mitchell.
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