Na segunda-feira, a Rússia havia mobilizado duas de suas quatro frotas navais para exercícios raros em escala, logo depois de o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, fazer duras críticas ao governo de Vladimir Putin.
A simulação de ações antipirataria se chama Aman (paz, em urdu) e é patrocinada desde 2007 pelo Paquistão. São esperados navios de 10 países em fevereiro, operando a partir da grande base aeronaval de Mehran, perto de Karachi (sul paquistanês), e observadores de outros 20.
O governo russo vai enviar uma fragata, um navio de patrulha, um rebocador e alguns helicópteros. Segundo a agência russa Tass, todos virão da Frota do Mar Negro. Eles vão operar em conjunto com forças da Otan como o EUA, o Reino Unido e a Turquia, de rivais como o Japão, e aliados como a China - embora não esteja claro se Pequim irá mandar navios ou observadores.
Mas, até pelo caráter benigno e de interesse mútuo de combater pirataria, que é diferente do que treinar ações ofensivas ou defensivas, chineses e norte-americanos já participaram juntos de outras edições do Aman. Já a última ocasião em que navios russos e ocidentais participaram de exercícios navais foi em 2011, em uma simulação comandada pela Otan na costa espanhola.
O fato de as embarcações russas que vão ao Paquistão serem baseadas em Sebastopol, na Crimeia, traz simbolismo político para o gesto de abertura. Desde 2014, quando Putin anexou a península ucraniana após a derrubada de um governo pró-Moscou em Kiev, o Ocidente está em crescente atrito militar e econômico com a Rússia.
Apesar das sanções aplicadas ao Kremlin, a anexação da área de maioria étnica russa é um fato consumado para a diplomacia mundial. "É um recado sobre o status quo, de certa forma. Mas também é um gesto positivo, embora não deva ser superestimado", disse por aplicativo de mensagem o analista militar Ivan Barabanov, de Moscou.
Ambos os países fizeram exercícios militares conjuntos e prometeram intensificar a cooperação, levando até a Suécia, que é próxima mas não faz parte da Otan, a elevar seu alerta de defesa a níveis de Guerra Fria. Além disso, Putin tem reiterado sua assertividade ante a confusa transição de poder nos EUA. Ele já disse considerar Joe Biden mais hostil a Moscou do que Donald Trump, mas o democrata deverá reverter a política de confronto do republicano na área nuclear.
Isso é a senha para o início de uma melhoria no relacionamento entre as duas superpotências atômicas.
Trump havia abandonado dois tratados de controle de armas, deixando o remanescente pronto para caducar em fevereiro. Biden já disse ter interesse em estender o acordo atual, chamado de Novo Start, como Putin deseja. Em outra frente propositiva, o Ocidente confiou a Putin a negociação do fim do conflito entre Armênia e Azerbaijão, que durou seis semanas. Se até aqui houve até uma quase colisão entre navios de guerra russo e norte-americano no oceano Pacífico, talvez haja um sinal de abertura nas águas do Índico em fevereiro.