O primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven, fez um raro pronunciamento nacional domingo (22) à noite para alertar a população sobre a crescente ameaça que o coronavírus representa, em meio a temores de que a estratégia usada até agora possa não ser suficiente para combater uma pandemia cada vez mais mortal. O país, que se destacou entre os demais europeus por não recorrer a quarentenas obrigatórias no combate à pandemia, confiando na responsabilidade pessoal dos cidadãos, com adesão voluntária a restrições, registrou em 2020 sua maior contagem de mortes no primeiro semestre em 150 anos, segundo o Escritório de Estatísticas.
Löfven, o terceiro premiê na história do país a fazer um discurso em cadeia nacional, disse que "muitas pessoas têm sido descuidadas em seguir as recomendações" que as autoridades de saúde apontam como fundamentais para controlar o vírus.
Em setembro, até registrou-se queda nas contaminações. Mas, agora, diante da taxa de mortalidade consideravelmente mais alta do que a dos outros países nórdicos e de leitos de terapia intensiva sendo rapidamente ocupados,
as autoridades estão recalibrando sua política.
A decisão do premiê de se dirigir à nação desencadeou uma onda de análises nos maiores jornais da Suécia na segunda-feira (23), com as páginas editoriais avaliando a seriedade do momento. Apenas dois primeiros-ministros suecos fizeram discursos semelhantes no passado: Carl Bildt, em 1992, após uma série de ataques a tiros por motivos raciais, e Goran Persson, em 2003, após o assassinato da chanceler Anna Lindh.
A Covid-19 já matou mais de 6,4 mil dos 10,2 milhões de habitantes da Suécia, com um total de casos que já passa de 208 mil. Ao mesmo tempo, os leitos de terapia intensiva estão enchendo rapidamente, com o dobro de pacientes infectados por coronavírus em 19 de novembro, em relação à quinzena anterior. Em comparação, a vizinha Noruega, com população de 5,4 milhões, registrou apenas 32 mil casos e pouco mais de 300 mortes.
"O objetivo das intervenções de prevenção, incluindo estratégias de contenção e mitigação, é trazer a taxa de transmissão para menos de um, isto é, quando o número de pessoas infectadas diminuirá com o tempo. Em média, os países levaram 34 dias para trazer esse indicador para menos de um depois que a epidemia começou a se espalhar. O país com o período mais curto foi Malta (11 dias), com a Suécia relatando o período mais longo (58 dias)", informou a OCDE.
Mas o ministro do Interior, Mikael Damberg, disse que ainda é muito cedo para tirar conclusões sobre a estratégia sueca. "Vemos que grande parte da Europa foi atingida pela segunda onda", disse Damberg em entrevista à emissora pública SVT. "Nossa responsabilidade agora é que a Suécia não seja arrastada para uma situação tão séria quanto a dos outros países."
A mensagem do premiê foi igualmente inequívoca na noite de domingo: a trégua da Covid-19 durante o verão e o outono acabou. "Tudo o que você gostaria de fazer, mas não é fundamental, cancele, cancele, adie", disse.