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Internacional

- Publicada em 28 de Outubro de 2020 às 21:30

Pandemia implode sistema de testes, e Alemanha e França reimpõem bloqueios

Alemanha anuncia fechamento de parte dos estabelecimentos por um mês, reavaliável depois de 15 dias

Alemanha anuncia fechamento de parte dos estabelecimentos por um mês, reavaliável depois de 15 dias


CHRISTOF STACHE/AFP/JC
"Temos que agir rápido, antes que as pessoas comecem a morrer em grandes números." A frase dita nesta quarta-feira (28) por um dos mais respeitados virologistas do mundo, o belga Peter Piot, resume bem o atual estado de ânimo da Europa.
"Temos que agir rápido, antes que as pessoas comecem a morrer em grandes números." A frase dita nesta quarta-feira (28) por um dos mais respeitados virologistas do mundo, o belga Peter Piot, resume bem o atual estado de ânimo da Europa.
Confrontadas com um crescimento incontrolável de novos casos de Covid-19, as duas principais potências europeias, Alemanha e França, voltaram a pronunciar a palavra que preferiam esquecer: “lockdown”. Ou, na versão segunda fase, "bloqueio parcial": fechamento de parte dos estabelecimentos, pelo prazo de um mês, reavaliável depois de 15 dias.
Restrições mais duras estavam fora do cardápio até agora porque os hospitais estavam sob controle e a curva de mortes estava se mantendo baixa, mesmo com um número de novos casos recorde.
A sirene disparou quando a velocidade de transmissão ultrapassou a capacidade dos governos de rastrear e isolar contatos. Na França, por exemplo, a infraestrutura de testes e rastreamento funcionava bem quando o número de novos casos diários era de 5 mil por dia. Nesta semana, eles beiram 50 mil por dia.
Além disso, hospitais começam a sentir a pressão aumentando, dizem governantes de vários países, e confirma a ECDC (agência para doenças infecciosas da UE) em seu comunicado de risco mais recente. A ocupação ainda é bem menor que a da primeira fase da crise - na Espanha, por exemplo, 49 novos pacientes para cada 100 mil habitantes foram para a UTI em abril, taxa dez vezes maior que a registrada há 15 dias -, mas as equipes de saúde estão desfalcadas e exaustas.
A Holanda já começou a transportar para a Alemanha pacientes das cidades mais afetadas, e a França atingiu quase metade da capacidade de suas UTIs. Na Bélgica, vagas para doentes graves podem se esgotar em duas semanas se o número de internações mantiver o ritmo atual.
E mesmo que a taxa de mortalidade dos internados tenha caído à metade, como mostram relatórios recentes de hospitais europeus, cada novo paciente de Covid-19 ocupa médicos e enfermeiros que deixam de tratar outras doenças graves, disse Piot, que é consultor especial da UE e dirige a Faculdade de Higiene e Medicina Tropical de Londres.
"Sem contar que há muitos sobreviventes que sofrem consequências durante muitos meses, como posso atestar por experiência própria", afirmou o virologista, que em maio deste ano relatou o impacto da doença em sua própria saúde.
Tanto na Alemanha quanto na França, escolas continuarão abertas, com medidas de distanciamento físico e higiene. O diagnóstico é que interromper aulas sacrifica de forma grave os mais pobres.
Nos dois países, restaurantes, cafés e bares poderão fazer apenas entregas, e cinemas, teatros, academias de ginástica e outros locais de aglomeração serão fechados - na França, o bloqueio começa na sexta-feira (30) e, na Alemanha, na segunda (2).
Os governos pediram que os moradores evitem sair de casa desnecessariamente e limitaram o número de pessoas que podem se reunir. No caso da França, reuniões privadas são proibidas. Na Alemanha, devem ser restritas a no máximo duas famílias e dez pessoas.
Mercados e farmácias seguem abertos, e, na Alemanha, outras lojas, empresas e cabeleireiros também, com precauções contra o contágio. O governo francês disse que guichês públicos, cemitérios e indústrias continuarão funcionando, e deve detalhar nesta quinta-feira como o bloqueio parcial afetará o comércio.

Fronteiras internas da União Europeia permanecerão abertas

O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que as fronteiras internas da União Europeia ficarão abertas, mas pessoas de fora do bloco só poderão entrar em casos restritos e com teste negativo para o novo coronavírus.
Mencionando o risco do bloqueio para economias já debilitadas, os governos anunciaram programas de ajuda a empresas e trabalhadores afetados pela nova paralisação. Na Alemanha, o custo será de até 10 bilhões de euros (cerca de R$ 66 bilhões) neste mês de semibloqueio.
Um dos países com menores índices de casos e mortes, tanto em toda a pandemia quanto na segunda fase, a Alemanha acabou entrando na lista dos "muito preocupantes" da ECDC por causa da alta na contaminação de idosos.
Com novos casos dobrando a cada semana, a chanceler Angela Merkel apontou risco para os hospitais. A ocupação de UTIs está abaixo de 10%, mas, no ritmo atual de crescimento, as vagas para pacientes graves se esgotariam antes do final do ano.
Quanto mais cedo o país agir, "mais tempo ganharemos até as férias de Natal", afirmou Merkel aos chefes dos 16 estados que, em reunião nesta quarta, concordaram com as novas restrições.
No Reino Unido, a outra potência europeia fora do bloco da UE, o governo adotou bloqueios por região, mas o Sage (Grupo de Aconselhamento Científico para Emergências) sugere a adoção de restrições mais duras. Projeções apresentadas pelo grupo nesta quarta apontam o risco de uma proporção maior de mortes nesse rebote da pandemia.
Também nesta quarta, os principais chefes do bloco europeu não pouparam adjetivos em seus comunicados. "A situação do coronavírus é muito séria; é desconcertante. Todos os dados da ECDC apontam para uma propagação muito forte em todo o continente", disse a presidente da Comissão Europeia (Poder Executivo da UE), Ursula von der Leyen.
"No espaço de apenas algumas semanas, a situação passou de preocupante a alarmante", escreveu o presidente do Conselho Europeu (que reúne os líderes dos 27 países-membros), Charles Michel. "Precisamos evitar uma tragédia."
Segundo Piot, agir rapidamente com restrições é imprescindível, mas terá pouco efeito se as pessoas não seguirem as orientações. "Tudo depende de comportamento. Pesquisas mostram que só 65% das pessoas na Europa seguem as normas de usar máscaras; deveríamos atingir o nível de Singapura, de 95%", afirma.
Ele também afirmou que ao final dos semibloqueios será preciso evitar uma abertura muito rápida e precoce, como a que aconteceu no verão. O virologista também observou que, ainda que tenham escopo e prazo limitados, as novas restrições prejudicam o planejamento de pessoas e empresas.
A forma mais promissora de voltar à vida normal, segundo Piot, será um imunizante, eficaz e disponível para todos. Ainda assim, ele diz estar "muito preocupado": "Cerca de 25% dos europeus afirmam que não vão se vacinar, porque não confiam na vacina. Comunicação será fundamental".
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