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Internacional

- Publicada em 06 de Outubro de 2020 às 18:02

Aterro tóxico é principal suspeito em acidente ecológico no extremo russo

No fim de semana, foram registradas grandes manchas de espuma amarelada e oleosa ao longo do litoral

No fim de semana, foram registradas grandes manchas de espuma amarelada e oleosa ao longo do litoral


GREENPEACE/AFP/JC
Vazamentos em um aterro de agrotóxicos são os principais suspeitos de ter contaminado a água na costa oriental de Kamtchatka, paraíso ecológico localizado no extremo oriente da Rússia.
Vazamentos em um aterro de agrotóxicos são os principais suspeitos de ter contaminado a água na costa oriental de Kamtchatka, paraíso ecológico localizado no extremo oriente da Rússia.
O acidente ganhou escala de emergência nacional, com autoridades em Moscou pedindo apuração rápida das causas, por temer críticas semelhantes às recebidas em maio, quando 21 mil toneladas de óleo vazaram, a partir de uma mineradora, em rios cristalinos do Ártico russo.
A contaminação do mar na costa em torno da capital regional, Petropavlovski-Kamtchatski, começou a ser notada por surfistas em 29 de setembro. Nove pessoas procuraram atendimento médico após passar mal ou apresentar queimaduras nos olhos após ir ao mar na popular praia de Khalaktir.
No fim de semana, foram registradas grandes manchas de espuma amarelada e oleosa ao longo do litoral, e uma grande mortandade de animais marinhos: crustáceos, moluscos e peixes, principalmente.
O guia turístico Egor Afanasiev enviou a reportagem da Folhapress fotos que fez em um sobrevoo de helicóptero no domingo (4). As manchas são bastante visíveis. "Acho que o problema foi em alguma instalação militar", afirmou.
No sábado (3), o governo de Kamtchatka havia minimizado o problema, mas o governador Vladimir Solodov acabou revertendo a situação e decretando emergência ambiental. Segundo ele, três hipóteses são consideradas: alguma anomalia envolvendo algas, um vazamento tóxico provocado por humanos ou alguma atividade sísmica inusual que possa ter liberado substâncias venenosas.
O ex-presidente Dmitri Medvedev, hoje no Conselho de Segurança do país, exigiu, nesta terça-feira (6), uma apuração transparente. A Rússia tem longo histórico de acobertamento de questões embaraçosas, com o acidente nuclear de Chernobil em 1986 ainda na memória da população.
Desde segunda-feira, grupos de mergulhadores exploraram a baía de Avatcha, onde fica a capital, em especial a foz do rio Nalitcheva, onde moradores disseram ter visto manchas amarelas também. O curso d'água é alimentado por outro rio, o Mutnuchka, que fica junto ao aterro de Kozelski. A inspeção desta terça-feira foi feita lá e encontrou rachaduras nos sistemas de contenção dos produtos tóxicos acumulados.
Aberto em 1979, quando a região era fechada ao mundo devido à concentração de bases militares da União Soviética, ele operou até 2008. Inicialmente, ele deveria ter sido esvaziado, mas isso não aconteceu. Em 2010, uma membrana foi colocada em torno de toda sua extensão, equivalente a três campos de futebol. A estrutura está danificada, segundo Solodov informou em uma entrevista coletiva.
A análise da água do rio e da baía deve demorar cinco dias para ficar pronta. Cerca de 250 toneladas de animais mortos foram enviadas para Moscou, que fica a oito horas e meia de avião de Kamtchatka, e o resultado dos testes deverá sair em dois dias.
A equipe de mergulhadores que vasculhou a baía de Avatcha afirma que não é possível descartar ainda que o acidente tenha a ver com a presença anormal de algas. "A escala da tragédia vai crescer muito. Encontramos animais mortos em profundidade, 10 a 15 metros, mas a superfície estava normal. Vai faltar comida para outros animais", disse Ivan Usatov ao site do governo local.
Ainda assim, o aterro de Kozelski está no topo da lista de suspeitos do caso. Segundo o chefe de inspeção ambiental do território, Valderi Simakov, o trabalho de eliminar o aterro havia sido transferido para o Ministério da Defesa russo, que tem várias instalações na região.
Isso levou a questões sobre eventuais vazamentos de produtos tóxicos ligados a atividades militares, como combustível de foguetes estocados. Até aqui, o governo local não tocou na hipótese, embora tenha dito que iria inspecionar uma unidade da Marinha. "No aterro foram encontradas 108 toneladas de pesticidias. A membrana estava exposta em uma de suas bordas. Nunca houve um segurança no local", escreveu no site do Greenpeace russo Ivan Blokov, especialistas do grupo ambientalista.

Considerada 'fim do mundo' da Rússia, região de Kamtchaka é rica em biodiversidade

A região de Kamtchaka tem 160 vulcões, 29 deles ativos, e um dos regimes geológicos mais ativos do planeta. Há erupções, gêiseres, lagoas termais. Não é incomum que haja regiões afetadas por gases tóxicos saindo do solo.
É um dos maiores paraísos ecológicos do planeta e, desde que foi aberta para o público depois do fim da Guerra Fria em 1991, um destino de turismo de aventura único.
Além de todos os atrativos geológicos e uma beleza considera a maior de toda a Rússia, a natureza é pujante: os rios são ricos em salmão vermelho e há a maior população de ursos do país. A estátua que simboliza a região, junto ao aeroporto de Ielizovo, não por acaso é de um desses grandes mamíferos com um peixe na boca.
O incidente preocupa também porque Kamtchatka, que tem meros 322 mil habitantes (o mesmo que Guarujá, em São Paulo), tira seu sustento da indústria pesqueira. O caranguejo gigante da região é famoso em toda a Rússia, sendo semelhante ao centolla chileno.
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