Donald Trump deixou o hospital Walter Reed, em Washington, nesta segunda-feira (5),
após três noites internado com Covid-19. Sean Conley, médico do presidente, disse que ele "cumpriu os critérios para alta" e passará os próximos dias confinado em um quarto na Casa Branca. Especialistas, porém, questionam se a alta foi dada cedo demais e se perguntam por que Trump recebeu três tratamentos diferentes, normalmente reservados a pacientes graves, se o caso dele é leve, como alegam seus médicos.
Segundo assessores, Trump estava ansioso para voltar para a Casa Branca. Ele vinha pressionando para ter alta desde domingo (4), para mostrar ao país que ele está ativo - e não acamado. "Não tenham medo da Covid. Não a deixem tomar conta de sua vida", escreveu o presidente no Twitter, pouco antes de deixar o hospital. "Estou melhor que há 20 anos."
O tom do presidente é ainda desafiador e
mostra que ele deve usar o fato politicamente, argumentando que
superou a doença. No domingo, ele disse que, por ter contraído o vírus, "entendia" a Covid melhor que os médicos. "Aprendi muito sobre a Covid. Aprendi indo realmente à escola. Esta é a escola real. Não é como ler livros", disse o presidente, em vídeo de 73 segundos, no fim de semana. "Agora, eu entendo."
Uma oportunidade é o segundo debate, marcado para dia 15, em Miami. No domingo, seu comitê de campanha disse que ele estará no encontro, embora o protocolo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) determine quarentena de dez dias após o surgimento dos primeiros sintomas, dependendo da evolução do paciente. Biden disse ontem que aceita debater, desde que os médicos digam que é seguro.
Embora tenha recebido alta e retornado à Casa Branca, o estado de saúde de Trump ainda é um mistério. Mesmo Conley, seu médico, admitiu que ele "não está totalmente fora de perigo". No entanto, muitos especialistas questionam não só aspectos do tratamento dado ao presidente como também a própria credibilidade de Conley.
Outros especialistas alertaram para o risco de dar alta para um paciente com Covid no momento mais delicado da doença. "Para alguém tão doente que precisou tomar remdesivir e dexametasona, não consigo imaginar como um paciente estaria bem para sair no terceiro dia, mesmo com a capacidade médica da Casa Branca", disse Robert Wachter, diretor do Departamento de Medicina da Universidade da Califórnia, em San Francisco.
Os médicos dizem que pacientes com Covid são especialmente vulneráveis pelo período de uma semana a dez dias após os primeiros sintomas. Alguns infectados que parecem saudáveis pioram repentinamente em razão do vírus ou de uma resposta imunológica que pode causar danos a vários órgãos, incluindo o coração. "A pessoa pode estar bem, mas a coisa pode ficar complicada muito rapidamente", afirmou Amesh Adalja, da Universidade Johns Hopkins.
Reforçando as preocupações está o fato de Trump ser o primeiro paciente - ou um dos primeiros - a receber uma combinação incomum de três tratamentos fortes, com suplementos e até um medicamento não regulamentado. "Ele passou por tratamentos diferentes", disse Rochelle Walensky, infectologista do hospital Massachusetts General. Segundo ela, quando a dexametasona foi testada, no início do ano, nenhum dos pacientes recebeu junto o coquetel experimental de anticorpos dado a Trump.