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Memória

- Publicada em 02 de Agosto de 2020 às 21:07

Após 75 anos, mundo segue sob a sombra da bomba nuclear

Hiroshima foi destruída no dia 6 de agosto de 1945

Hiroshima foi destruída no dia 6 de agosto de 1945


AFP PHOTO/JC
Neste exato momento, há 3.720 ogivas nucleares prontas para emprego no mundo, 1.800 delas em alerta máximo, podendo ser disparadas em questão de minutos. Há 75 anos, o primeiro dos dois únicos artefatos usados numa guerra explodiu sobre Hiroshima, um vibrante porto no sul do Japão. A cidade foi destruída, e por volta de 40% dos seus 350 mil habitantes morreram, metade incinerada imediatamente.
Neste exato momento, há 3.720 ogivas nucleares prontas para emprego no mundo, 1.800 delas em alerta máximo, podendo ser disparadas em questão de minutos. Há 75 anos, o primeiro dos dois únicos artefatos usados numa guerra explodiu sobre Hiroshima, um vibrante porto no sul do Japão. A cidade foi destruída, e por volta de 40% dos seus 350 mil habitantes morreram, metade incinerada imediatamente.
O ataque ocorreu no dia 6 de agosto de 1945. Três dias depois, uma segunda explosão, sobre Nagasaki, ajudaria a selar o fim da Segunda Guerra Mundial.
A "Little Boy", menininho em inglês, era uma bomba tosca em seu desenho. O modelo usado em Nagasaki ("Fat Man", homem gordo) ter inaugurado a Era Atômica num teste feito nos EUA 21 dias antes do primeiro ataque.
O plano original, desenhado pelo Comitê de Alvo do comando militar norte-americano em maio de 1945, apontava Kyoto como alvo. A antiga capital japonesa, cidade milenar coalhada de templos, havia sido designada para o primeiro ataque por seu peso simbólico.
Entretanto, o secretário da Guerra, Henry Stimson convenceu o presidente Harry Truman de que seria mais difícil trabalhar com os japoneses no pós-guerra se tal ícone fosse vaporizado. Assim, sobrou para Hiroshima. Nagasaki também não era o primeiro alvo. Um ataque com bombas incendiárias a Yahata cobriu de fumaça a região de Kokura, o alvo inicial.
Os números são imprecisos, mas nos dois bombardeios morreram em torno de 200 mil pessoas. Sob critérios atuais, das Convenções de Genebra de 1949 e de seus protocolos adicionais de 1977, as explosões foram crimes de guerra.
Elas feriram os três princípios da lei atual, que não existia na Segunda Guerra Mundial (1939-45). Primeiro, o de distinguir alvos militares para não atacar civis. Segundo, o da proporcionalidade ao considerar mortes de civis de forma colateral. Terceiro, o da precaução, visando evitar tais vítimas.
Os norte-americanos até tentaram disfarçar, com Truman chamando Hiroshima de "base militar". O fato é que as fábricas de munição e unidades militares locais ficavam na periferia da cidade, que teve seu centro como marco zero da bomba. É lá que ainda hoje é visível o resquício público do ataque, a icônica estrutura do domo de ferro destruído de um antigo centro de exposições. Dos mortos nos dois ataques, apenas cerca de 10% eram militares.
Um argumento dos defensores da ação é de que quase 1 milhão de vidas de soldados norte-americanos e talvez até 10 milhões de japonesas foram salvas ao evitar uma invasão do arquipélago nipônico. A explicação, porém, soa falaciosa por não haver aferição possível. Além disso, há elementos de sobra, nos arquivos de Washington, acerca da intenção de maximizar o impacto psicológico da bomba.

Guerra Fria gerou corrida armamentista

O mundo mudou após as bombas, assim como a forma de se ver a guerra. A bomba atômica evoluiu para a de hidrogênio, exponencialmente mais potente. O maior teste nuclear da história, feito pelos soviéticos em 1961, liberou a energia de 6.600 armas de Hiroshima.
Durante a Guerra Fria, em que Moscou disputou a primazia mundial com Washington, o terror nuclear estabeleceu os limites das guerras. No fim dos anos 1980, o mundo acumulava 70 mil bombas.
O risco de um confronto segue mais alto do que o fim da Guerra Fria sugere. Para piorar, o controle de armas está por um fio. O governo de Donald Trump deixou dois acordos dos tempos dos soviéticos e trabalha para deixar caducar o principal deles. O Novo Start é o último tratado de armas estratégicas em vigor e vai expirar em 5 de fevereiro de 2021. Os rivais somam mais de 90% das bombas existentes.
No resto do mundo, a situação não é melhor. A pressão da versão 2.0 da Guerra Fria sobre os chineses tem levado a pedidos nacionalistas para aumentar o inventário de 320 bombas para níveis norte-americanos e russos (1.750 e 1.520 ogivas operacionais, respectivamente).
Paquistão e Índia seguem sendo rivais figadais, e cada um tem cerca de 150 ogivas. França (280 bombas) e Reino Unido (120) mantêm cada um ao menos um submarino com mísseis pronto no mar o tempo todo. A Coreia do Norte não tem seu programa sob controle e acumula talvez 35 bombas, e Israel mal disfarça seu arsenal de 80 armas.