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Chile

- Publicada em 29 de Julho de 2020 às 15:55

Presidente do Chile, Sebastián Piñera faz ampla reforma ministerial após meses de crise

Piñera promoveu a segunda reforma de gabinete em nove meses, e a quinta desde o início do mandato

Piñera promoveu a segunda reforma de gabinete em nove meses, e a quinta desde o início do mandato


Presidência do Chile/AFP/JC
O presidente chileno, Sebastián Piñera, trocou seis dos 24 ministros nesta terça-feira (28), em uma tentativa de fortalecer o governo após membros da coalizão que o apoia terem se juntado à oposição na semana passada para aprovar uma polêmica lei de retirada de fundos de pensão.
O presidente chileno, Sebastián Piñera, trocou seis dos 24 ministros nesta terça-feira (28), em uma tentativa de fortalecer o governo após membros da coalizão que o apoia terem se juntado à oposição na semana passada para aprovar uma polêmica lei de retirada de fundos de pensão.
A segunda reforma de gabinete em nove meses - e a quinta desde o início do mandato - envolveu quase todo o círculo político interno do presidente. As trocas foram nas pastas de Interior, Relações Exteriores, Defesa, Desenvolvimento Social, Secretaria-Geral do Governo e Secretaria-Geral da Presidência.
Os novos indicados têm em comum um perfil mais conservador que seus predecessores. "Convoco este novo gabinete e toda a coalizão Chile Vamos a começar um novo capítulo para o nosso governo e para o nosso país, com um verdadeiro espírito construtivo, convicção, unidade, fé e esperança", disse Piñera durante a cerimônia de posse, em Santiago.
A aprovação da lei que permite aos cidadãos sacar 10% do saldo dos fundos de pensão é a derrota política mais recente do líder de centro-direita, que vive uma crise desde outubro de 2019, quando protestos devido à da alta da tarifa do metrô da capital chilena se transformaram em atos em todo o país contra a desigualdade social e por melhores serviços públicos. Segundo a proposta, a retirada funcionará como um auxílio emergencial para conter os impactos econômicos da pandemia - o governo é fortemente criticado pela demora em agir neste tema.
O agora ex-ministro do Interior Gonzalo Blumel, espécie de braço direito de Piñera, aceitou deixar o cargo por não ter conseguido deter a rebelião dos parlamentares governistas, cujo apoio à proposta de retirada das aposentadorias foi determinante para a aprovação da lei. Ele foi substituído pelo ex-senador Víctor Perez, membro do partido de ultradireita União Democrata Independente (UDI), que se torna assim o terceiro ministro do Interior em nove meses.
O ex-senador Andrés Allamand foi nomeado para o Ministério de Relações Exteriores; o ex-deputado e presidente do partido Renovação Nacional, Mario Desbordes, assumiu a Defesa. Karla Rubilar deixou a Secretaria-Geral de Governo e assumiu o Ministério do Desenvolvimento; o ex-deputado Jaime Bellolio a substituiu no cargo. Por fim, Cristián Monckeber foi nomeado para a Secretaria-Geral da Presidência.

Derrubada do sistema de pensões é tema central da crise chilena

Pelo sistema chileno, aposentadorias são geridas por entidades privadas, as Administradoras de Fundos de Pensão (AFP)

Pelo sistema chileno, aposentadorias são geridas por entidades privadas, as Administradoras de Fundos de Pensão (AFP)


MARTIN BERNETTI/AFP/JC
Quando os manifestantes saíram às ruas no ano passado, a derrubada do sistema de pensões era uma das reivindicações centrais. No modelo chileno de capitalização, implantado durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), os trabalhadores depositam 10% de seus salários em contas individuais para financiar sua própria aposentadoria - empregadores e governo não contribuem.
"Este é um gabinete muito mais duro; um gabinete de trincheiras muito conservador, muito próximo do pinochetismo", diz Pamela Figueroa, cientista política e pesquisadora da Universidade de Santiago.
Os fundos são geridos por entidades privadas, as Administradoras de Fundos de Pensão (AFP). Ao se aposentar, a maioria dos chilenos recebe entre 30% e 40% do salário-mínimo, de US$ 450 (R$ 2.320,00).
Após meses de protestos, a principal concessão do governo Piñera obtida pelos manifestantes foi a realização de um plebiscito para que os chilenos decidam se querem uma nova Constituição.
Analistas acredita que, agora, o tema das pensões voltará a figurar no debate que antecede a consulta - marcada para 26 de abril, a votação foi adiada para 25 de outubro por causa da crise sanitária gerada pelo coronavírus.
"No gabinete estão agora as principais figuras do 'não' (à nova Carta), o que representa um movimento para tentar ordenar toda a direita a apoiar essa opção", afirmou Pamela.
O bilionário Piñera está a 20 meses do final de seu segundo mandato não consecutivo. Em outubro do ano passado, seu índice de aprovação caiu para 6% após a repressão aos protestos. Nos últimos meses, sua popularidade cresceu e chegou a 15%, mas tem tido quedas devido a erros na resposta à pandemia.