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Internacional

- Publicada em 10 de Julho de 2020 às 19:12

Reeleita, prefeita de Paris planeja dar ainda mais espaço a bicicletas

Para abrir espaço para ciclovias, prefeitura planeja retirar 72% das vagas de estacionamento de carros nas vias públicas

Para abrir espaço para ciclovias, prefeitura planeja retirar 72% das vagas de estacionamento de carros nas vias públicas


BERTRAND LANGLOIS/AFP/JC
Uma cidade em que os carros freiem e os pedestres e bicicletas possam ir na velocidade que quiserem, sob a sombra de muitas árvores. Com planos como esses, a socialista Anne Hidalgo, de 61 anos, conquistou no fim de junho mais seis anos à frente da prefeitura de Paris. Um outro desafio é tornar Paris mais verde.
Uma cidade em que os carros freiem e os pedestres e bicicletas possam ir na velocidade que quiserem, sob a sombra de muitas árvores. Com planos como esses, a socialista Anne Hidalgo, de 61 anos, conquistou no fim de junho mais seis anos à frente da prefeitura de Paris. Um outro desafio é tornar Paris mais verde.
No cargo desde 2014, Anne ampliou as ciclovias, que hoje formam uma rede de cerca de mil quilômetros e permitem atravessar a cidade, intercalando trechos na margem do rio Sena, faixas em avenidas largas e percursos em ruas estreitas.
Ela facilitou o acesso a bicicletas elétricas: Paris tem uma rede de empréstimos, que cobra 40 euros mensais (cerca de R$ 241,00). O governo também oferece vales, de até 400 euros (R$ 2.412,00), para que parisienses possam comprar um modelo do tipo, que geralmente custa mais de mil euros (R$ 6.031,00).
A rede de ciclovias se mostrou muito útil durante a greve dos transportes, em dezembro, contra a reforma da Previdência do presidente Emmanuel Macron. Sem metrô e ônibus, muitos parisienses passaram a pedalar até o trabalho.
As pistas para bikes também foram bastante usadas em meio à pandemia de coronavírus. A cidade criou mais faixas temporárias, que deverão ser efetivadas.
Anne quer mais e promete tornar todas as ruas da cidade aptas para receber bicicletas. Para abrir espaço, planeja retirar 72% das vagas de estacionamento de carros nas vias públicas. Fala também em reduzir a velocidade dos automóveis, inclusive em vias expressas.
O plano é trocar ruas engarrafadas por uma "cidade de quarto de hora": modelo em que os parisienses tenham tudo o que precisam - mercados, serviços, parques, lazer - a até 15 minutos de caminhada ou pedalada.
Com isso, seriam criadas áreas fechadas ao trânsito, para serem aproveitadas pelos moradores dos quarteirões próximos. Nelas, haveria bancos, brinquedos para crianças, áreas de sombra, bebedouros e outras estruturas, inicialmente temporárias. A prefeitura debate com os moradores o que manter e o que mudar, até chegar ao desenho definitivo. É o chamado urbanismo tático.
Da mesma forma, Anne quer aumentar o poder do Navigo, o bilhete único parisiense: além dos transportes públicos e das bicicletas, planeja usá-lo para liberar automóveis compartilhados e vagas de estacionamento, de modo a aproximar os motoristas de outros meios de transporte.
Em seu primeiro mandato, ela estudou dar tarifa grátis nos ônibus e no metrô para todos, mas desistiu após um estudo mostrar que isso reduziria o uso do carro em menos de 5%. Então, resolveu dar passe livre apenas a crianças, e desconto de 50% para estudantes com mais de 12 anos.
Seu plano também promete mais policiamento nas ruas, para proteger as mulheres à noite, e fiscalização reforçada contra o barulho, inclusive de veículos. Uma única moto com escapamento aberto é capaz de perturbar o sono de 11 mil parisienses ao percorrer um trajeto de 6 km na madrugada, estima o governo parisiense.
Além de reduzir o uso dos automóveis - e assim a poluição -, Anne tem outros planos ambientais, como banir os plásticos de uso único, reintroduzir espécies, inclusive sapos, no ecossistema urbano e servir alimentos orgânicos nas escolas públicas.
Eleita com o apoio de ambientalistas, a prefeita é filiada ao Partido Socialista e tem ligação familiar com a esquerda. Seu avô, socialista, foi condenado à prisão perpétua após a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).
Ela nasceu na Andaluzia, no Sul da Espanha, filha de um eletricista e de uma costureira, em 1959. Quando tinha dois anos, seus pais emigraram para Lyon, em busca de uma vida melhor.
Anne obteve a cidadania francesa aos 14 anos e mais tarde se formou em direito. Começou a carreira pública como inspetora trabalhista, nos anos 1980, e foi galgando cargos até chegar ao comando nacional. Foi assessora no governo do premiê Lionel Jospin, a partir de 1997.
Em 2001, teve boa votação nas eleições locais em Paris e foi nomeada vice-prefeita. Ela ocupou outros cargos locais nos anos seguintes, até conquistar a prefeitura, em 2014.
No começo do mandato, teve de lidar com os ataques terroristas ao jornal Charlie Hebdo e à casa de shows Bataclan, ambos em 2015. Ao mesmo tempo, deu início a uma agenda de mudanças viárias.
As obras de readequação pela cidade geraram críticas de motoristas. Uma associação deles divulgou o telefone do gabinete da prefeita e estimulou os incomodados a ligarem de modo incessante.
Houve críticas também de que a redução do espaço para os carros - em parte por causa das obras - levou a mais congestionamentos e poluição. Em 2014, houve cinco dias em que a taxa de ozônio no ar ficou acima do recomendado. Em 2018, foram ao menos 15 dias.
Por outro lado, a cidade teve recordes de calor: no verão passado, chegou a 42ºC, em um sinal forte de como as mudanças climáticas já afetam a vida das pessoas.
A oposição acusa Anne de fazer experimentos na cidade apenas para agradar à classe média ambientalista, sem considerar os mais pobres. Muitos deles dirigem diariamente entre Paris e suas periferias, para ir trabalhar.
A prefeita planeja banir veículos mais antigos e poluentes da cidade nos próximos anos. Por serem mais baratos, sua retirada pode afetar a circulação de pessoas com menos dinheiro.
Ela, porém, promete criar uma cidade mais inclusiva. Sua gestão aumentou o número de moradias populares e busca formas de conter a alta de preços trazida pelo modelo AirBnb, em que donos de imóveis ganham mais ao alugar para turistas do que para residentes. "Paris não pode ser uma cidade só para vencedores", disse ela ao The New York Times. "O papel dos políticos é regular e impedir isso."
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