A prisão foi emitida por uma comissão de promotores anti-corrupção, por conta do chamado "caso áudio", que investiga uma gravação telefônica em que o ex-presidente convoca apoiadores na Bolívia a bloquear ruas e estradas durante as tensões que ocorreram depois de sua saída do país por pressão do Exército. Esses áudios revelam conversas de Evo com o ativista e dirigente cocaleiro Faustino Yucra.
"De acordo com as investigações, é evidente que o chefe de estado e Yucra mantiveram comunicação mediante chamadas telefônicas no dia 14 de novembro de 2019, desde a Cidade do México (onde Evo esteve, antes de ir para a Argentina) até El Torno, na Bolívia, onde estava Yucra", diz o comunicado do Ministério Público.
"Nessa conversa, Morales instruiu o dirigente cocaleiro a cometer atos ilícitos durante os episódios violentos registrados no país a partir do dia 10 de novembro." Na gravação, a voz identificada como sendo a de Evo diz: "Irmão, que não entre comida nas cidades, vamos bloquear, armar um cerco de verdade".
Em entrevista recente à Folha de S.Paulo, o candidato à presidência Carlos Mesa confirmou que há evidências de que Evo esteve por trás dos levantes populares contra a posse da interina Jeanine Añez, inclusive causando bloqueios em sistemas de abastecimento de comida e de coleta de lixo.
Como refugiado político na Argentina, o ex-presidente também enfrenta outras acusações na Bolívia, e já há uma ordem da Interpol para detê-lo.
Evo comentou a decisão nas redes sociais: "De maneira ilegal e inconstitucional, a Procuradoria, em La Paz, pretende acusar-me de terrorismo com um áudio alterado e sem ser notificado, uma prova mais de que há uma perseguição política desde o governo ditatorial. Logo voltará a democracia e o Estado de Direito na Bolívia".
Na Argentina, a lei de refugiado político protege o ex-mandatário no caso da extradição por razões políticas. Porém, há uma brecha no caso de a acusação ser por "terrorismo".
Até as 20h desta segunda-feira, o governo do presidente argentino, Alberto Fernández, ainda não havia se manifestado sobre a decisão do Ministério Público boliviano.