Na primeira Cúpula do Mercosul realizada por videoconferência, devido à pandemia de coronavírus, o Paraguai transmitiu nesta quinta-feira (2) a presidência temporária do bloco para o Uruguai. A reunião marcou também a primeira vez em que os presidentes de Brasil, Jair Bolsonaro, e Argentina, Alberto Fernández, encontram-se, ainda que de modo virtual.
Durante a cúpula, enquanto Bolsonaro apenas mencionou as dificuldades criadas pela crise da Covid-19, o tema foi o principal assunto tratado por Fernández.
Bolsonaro leu seu discurso acompanhado do chanceler Ernesto Araújo e do ministro da economia, Paulo Guedes. Nele, reforçou que o Brasil estava avançando nas reformas para atrair investimentos e disse que a da Previdência havia sido uma "conquista histórica".
Já Fernández discursou da sala de audiência virtual montada na residência de Olivos, em Buenos Aires. Ele está confinado no local devido a recomendações médicas, após pessoas próximas a ele terem contraído o coronavírus.
Durante sua fala, tratou basicamente da pandemia e disse que "é preciso reforçar a ideia da América Latina como um só país. Também afirmou que o coronavírus "derrubou tudo, apareceu de repente e revirou o mundo", enfatizando que a crise econômica que virá depois não será apenas da Argentina, mas de todo o bloco. "A crise que virá será mundial e de dimensões nunca vistas."
Por isso, argumenta, a integração regional deveria colocar o foco na eliminação das "arestas" entre as relações dos governos. "A reunião do Mercosul é uma reunião dos nossos povos, isso deve ser colocado adiante daqueles que governam hoje", pedindo que a questão ideológica ficasse num segundo plano nas discussões.
Fernández também evocou o espírito da fundação do bloco, "um esforço original dos ex-presidentes Raúl Alfonsín (Argentina) e José Sarney (Brasil), depois acompanhado pelo Uruguai e o Paraguai".
Abdo Benítez, presidente paraguaio, discursou sobre o coronavírus com dramaticidade, dizendo que a pandemia era um "flagelo" para a região e que seria necessária uma "plena integração regional para reativar nossas economias". Deu como bom exemplo a integração das indústrias automobilísticas e o aumento do comércio digital.
Já o uruguaio Lacalle Pou, em sua intervenção de estreia, disse que "não podemos ser 'mercopessimistas' nem 'merco-otimistas', e sim 'mercorrealistas'", e que uma das prioridades seria afinar as discordâncias surgidas nos debates sobre o acordo do bloco com a União Europeia (UE).
No fim de abril, a Argentina anunciou que se afastaria de "novas negociações" do bloco com outros países, e a gestão de Fernández colocou ressalvas no acordo assinado, mas ainda não aprovado, do Mercosul com a UE.
O Uruguai assume a presidência do bloco depois de uma crise interna na cúpula do governo, iniciada há algumas semanas, quando o ministro das Relações Exteriores do país, Ernesto Talvi, recebeu a informação de Lacalle Pou de que seria afastado do cargo. Na reunião dos chanceleres, na quarta, Talvi postou sua carta de demissão nas redes sociais.