Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Internacional

- Publicada em 08 de Maio de 2020 às 08:25

Bolsonaro é a maior ameaça ao combate à Covid-19 no Brasil, frisa The Lancet

Editorial da revista britânica nomeou Bolsonaro como 'líder 'e daí?'

Editorial da revista britânica nomeou Bolsonaro como 'líder 'e daí?'


EVARISTO SA/AFP/JC
A maior ameaça à resposta do Brasil ao Covid-19 é seu presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), mais empenhado em uma guerra contra a ciência do que contra o novo vírus.
A maior ameaça à resposta do Brasil ao Covid-19 é seu presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), mais empenhado em uma guerra contra a ciência do que contra o novo vírus.
{'nm_midia_inter_thumb1':'', 'id_midia_tipo':'2', 'id_tetag_galer':'', 'id_midia':'5c6f03d777ac4', 'cd_midia':8634598, 'ds_midia_link': 'https://www.jornaldocomercio.com/_midias/gif/2019/02/21/banner_whatsapp_280x50px_branco-8634598.gif', 'ds_midia': 'WhatsApp Conteúdo Link', 'ds_midia_credi': 'Thiago Machado / Arte JC', 'ds_midia_titlo': 'WhatsApp Conteúdo Link', 'cd_tetag': '1', 'cd_midia_w': '280', 'cd_midia_h': '50', 'align': 'Center'}
O diagnóstico está no editorial publicado na quinta-feira (7) pela prestigiosa revista científica britânica The Lancet, que nomeia Bolsonaro como "líder 'e daí?'", em referência à resposta dada pelo presidente a jornalistas quando questionado sobre a recente escalada no número de mortes por Covid-19 no país.
De acordo com o texto, Bolsonaro não só "semeia confusão, desprezando e desencorajando abertamente as medidas de distanciamento físico e confinamento" como também "perdeu dois importantes e influentes ministros nas três últimas semanas", numa desorganização com consequências fatais que também indicaria a erosão moral de sua liderança.
"É desesperador que o governo brasileiro não esteja seguindo as recomendações das comunidades médica e científica do país", disse o médico e editor da Lancet, Richard Horton, à reportagem ao explicar as motivações para a publicação do editorial. "O Brasil tem alguns dos melhores cientistas e pesquisadores do mundo, e o governo precisa ouvir esses profissionais e confiar neles."
O editorial descreve o Brasil como um terreno pantanoso mesmo sem o jogo contra de lideranças políticas: 13 milhões de brasileiros residentes em favelas, falta de saneamento e acesso a água, ameaças a populações indígenas vulneráveis à ação de madeireiros e garimpeiros, que agora trazem, além da destruição da floresta, também uma nova doença.
Também condena os ataques à ciência protagonizados pelo atual governo, que ignora as recomendações da comunidade científica e, ao fazer isso, trai a população do país. "Há cientistas brasileiros que são líderes globais em muitos domínios, e esse é um recurso poderoso no qual um país deve se apoiar para o bem da sua população. É por isso que eu chamo o comportamento de Bolsonaro de uma traição a seu povo. E isso é imperdoável", disse Horton.
Pergunta - Diante de uma pandemia global, por que escrever sobre o Brasil?
Richard Horton - A gente tem acompanhado os eventos no Brasil, o sexto maior país do mundo, com mais de 200 milhões de pessoas. Estamos no meio de uma emergência humanitária global, o que significa, literalmente, que a vida de milhões de pessoas está em risco no Brasil a menos que as medidas corretas de saúde pública e de controle epidemiológico sejam tomadas pelo governo.
É desesperador que o governo brasileiro não esteja seguindo as recomendações das comunidades médica e científica do país. O Brasil tem alguns dos melhores cientistas e pesquisadores do mundo e o governo precisa ouvir esses profissionais e confiar neles. Ao contrário, o presidente tem apresentado um comportamento negligente e inacreditavelmente perigoso, o que é chocante para aqueles que se importam com o futuro do Brasil.
Você vê alguma situação semelhante no mundo?
RH - Sim. Nos Estados Unidos da América. O presidente Trump e o presidente Bolsonaro estão agindo de maneira semelhante. Trump dá declarações profundamente não científicas, que levaram os EUA a ter o maior número de mortes em todo o mundo.
Minha aflição é que Bolsonaro esteja conduzindo o Brasil para uma disseminação fora de controle do vírus, a não ser que o Brasil adote as medidas corretas, como o distanciamento social, de maneira agressiva e urgente. Trata-se de uma emergência global, e o presidente precisa se comportar de acordo porque seus cidadãos e trabalhadores da saúde estão nas linhas de frente, em clínicas, hospitais e comunidades, tentando defender a saúde da população brasileira.
Por seu comportamento atual, o presidente está traindo seu povo. Ele é o grande e único obstáculo a resposta brasileira à pandemia baseada em ciência.
O governo cortou verbas de ciência e pesquisa, e é acusado de disseminar fake news, além de atacar a imprensa. Como esta campanha de deslegitimação da informação com lastro agrava o quadro atual?
RH - A política criada por Bolsonaro pode ser chamada de uma guerra contra a ciência e ela colocou o Brasil numa situação de grande risco. O país está certamente mais fraco e vulnerável por conta disso. Em 20 anos da The Lancet, acompanhamos o desenvolvimento da ciência no Brasil como um dos grandes sucessos do país. Instituições como a Fiocruz não são apenas centros nacionais de excelência, são pólos internacionais de excelência.
Os cientistas brasileiros são líderes globais em muitos domínios, e esse é um recurso poderoso no qual um país deve se apoiar para o bem da sua população. E é nada menos que uma tragédia que o governo não reconheça, abrace e apoie essa comunidade. E é por isso que eu chamo o comportamento de Bolsonaro de uma traição a seu povo. E isso é imperdoável.
O Brasil pode se tornar o novo epicentro da pandemia global?
RH - Esse é o maior medo. O comportamento do presidente é de desprezo pelas recomendações científicas, e esse é um exemplo nocivo para o país. O perigo é quando o vírus irromper pelas comunidades mais pobres e mais remotas, onde o acesso a atendimento médico já é precário.
Sabemos agora que não se trata de um vírus como o influenza. Trata-se de vírus que demanda a internação de cerca de 20% dos doentes. Destes, metade acaba nas unidades de terapia intensiva, com alto risco de morte. Essas mortes são passíveis de prevenção se frearmos o vírus. E isso quer dizer que a liderança política do país tem de agir rápido e decididamente para diminuir sua transmissão.
Quais seriam as soluções para a epidemia no país?
RH - Todas essas mensagens tem sido emitidas pelas comunidades médica e científica do Brasil de maneira clara e potente. É inexplicável, para aqueles que olham para o Brasil desde fora, que seu presidente não esteja ouvindo aos melhores conselheiros que poderia ter nessa área. Diante do perigo de que a curva de contágio e de mortos se acentue, seria necessário um período de "lockdown", o que causaria danos econômicos.
Estamos passando por isso agora no Reino Unido. A China e partes da Europa já passaram por isso. Se você precisa parar a disseminação do vírus, precisa fazer o "lockdown", do qual tem de sair de maneira lenta e cautelosa para então reconstruir sua economia e seu sistema de saúde. Do contrário, o vírus pode causar uma catástrofe humanitária como aquela vista na Itália.
Além do presidente, cuja posição você conhece, poucos governadores do país consideram o sistema de "lockdown".
RH - O que aprendemos com Hong Kong é que a única maneira de escapar do lockdown é criar medidas muito rígidas de distanciamento social combinadas com ampla testagem de casos suspeitos, seguida de um rastreamento detalhado dos contatos prévios dos indivíduos que testaram positivo e de sua quarentena. Se você consegue aplicar essas medidas, pode evitar o "lockdown". Se você não pode, precisa isolar as pessoas.
No Brasil, com 13 milhões de pessoas vivendo em favelas, fica difícil praticar o distanciamento social. Também sei que não há tantos testes disponíveis em boa parte do país. E aí está minha preocupação: uma explosão do vírus caso o "lockdown" não seja implementado. Não sei detalhes da capacidade das UTIs brasileiras, mas elas provavelmente não serão suficientes para tamanha demanda.
Ao agir contrariamente as recomendações da ciência e da medicina, Bolsonaro pode ser responsabilizado por parte das mortes por Covid-19?
RH - Em democracias, os políticos só são responsabilizados nas urnas. Em tese, portanto, o presidente só pagaria por sua negligência em 2022. Mas a mídia e a comunidade científica o tem responsabilizado. A meu ver, trata-se de um comportamento criminoso. E meu temor é que milhares de brasileiros ainda precisem morrer para que a sociedade civil brasileira diga "chega".
Folhapress
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO