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Meio Ambiente

- Publicada em 15 de Dezembro de 2019 às 21:19

COP25 termina sem acordo sobre mercados de carbono

Avanços climáticos ficaram à sombra de disputas políticas

Avanços climáticos ficaram à sombra de disputas políticas


OSCAR DEL POZO/AFP/JC
Apesar de manter as mais longas negociações já realizadas em quase 25 edições anuais, as conversas da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2019 (COP25), encerrada ontem, em Madri, deixaram uma das questões mais espinhosas para a próxima cúpula, a ser realizada no ano que vem: a regulação dos mercados globais de carbono.
Apesar de manter as mais longas negociações já realizadas em quase 25 edições anuais, as conversas da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2019 (COP25), encerrada ontem, em Madri, deixaram uma das questões mais espinhosas para a próxima cúpula, a ser realizada no ano que vem: a regulação dos mercados globais de carbono.
Em duas semanas, delegados de quase 200 países aprovaram apenas declarações pedindo maior ambição no corte das emissões de gases de efeito estufa e em ajudar países pobres. Os mercados de carbono colocam um preço à emissão de dióxido de carbono, o principal gás de efeito estufa, e permitem que países ou empresas negociem licenças de emissão que podem ser constantemente reduzidas, incentivando a adoção de tecnologias de baixa emissão.
Representantes de países europeus disseram que nenhum acordo sobre como regular a troca de créditos de carbono era melhor do que um acordo fraco que poderia prejudicar uma dúzia de mecanismos regionais existentes. "Felizmente, as regras fracas de um mecanismo baseado no mercado, promovidas pelo Brasil e pela Austrália e que minariam os esforços para reduzir as emissões, foram arquivadas", disse o diretor do grupo Power Shift Africa, Mohamed Adow.
As negociações foram acompanhadas diversas vezes por protestos de grupos indígenas e ambientalistas, que refletiram a crescente frustração com o ritmo lento dos esforços dos governos para conter as mudanças climáticas.
O documento limita o aumento da temperatura média do planeta neste século em 1,5 grau. O acordo, intitulado "Chile-Madrid, hora de agir", foi fechado neste domingo, quase dois dias após o prazo de encerramento da conferência. O acordo foi aprovado pela presidente da COP25, a chilena Carolina Schmidt, após debate com o Brasil que, inicialmente, não aceitou dois parágrafos sobre oceanos e uso da terra.
O texto inclui "a imposição" de que a transição para um mundo sem emissões tem de ser justa e promover empregos. O acordo reconhece a ação climática de atores não-governamentais, a quem convida a aumentar e generalizar estratégias compatíveis com o clima.

Secretário-geral da ONU diz estar desapontado com discussões

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou ontem, em sua conta no Twitter, estar desapontado com os resultados da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2019 (COP25). As negociações terminaram ontem, em Madri, na Espanha, sem que os participantes tenham chegado a um acordo sobre como regular os mercados globais de carbono. 
Segundo Guterres, "a comunidade internacional perdeu uma importante oportunidade de mostrar maior ambição para mitigação, adaptação e financiamento no enfrentamento à crise climática". Apesar dos resultados aquém do esperado, o português ponderou que não irá desistir. "Eu estou mais determinado do que nunca em trabalhar para que 2020 seja o ano em que todos os países se comprometam em fazer o que a ciência nos diz ser necessário para alcançar a neutralidade do carbono em 2050 e um aumento de temperatura que não esteja acima de 1,5 grau".
O acordo estabelece que os países terão de apresentar em 2020 compromissos mais ambiciosos para reduzir as emissões (as chamadas Contribuições Nacionais Determinadas) para enfrentar a emergência climática. Segundo o texto, o conhecimento científico será "o eixo principal" que deve orientar as decisões climáticas dos países para aumentar a sua ambição, que deve ser constantemente atualizada de acordo com os avanços da ciência.

Ricardo Salles diz que encontro 'não deu em nada'

O ministro do Meio Ambiente do Brasil, Ricardo Salles, lamentou a falta de acordo em torno da regulamentação do mercado global de créditos de carbono durante COP25. Em seu Twitter, o ministro afirmou que a "COP-25 não deu em nada" e prevaleceu o "protecionismo" de alguns países.
"Prevaleceu infelizmente uma visão protecionista de fechamento do mercado e o Brasil e outros países que poderiam fornecer créditos de carbono em razão das suas florestas e boas práticas ambientais saíram perdendo. Ainda assim, o Brasil segue firme no seu trabalho de atrair recursos para o Brasil e para os brasileiros", disse.
"COP 25 não deu em nada. Países ricos não querem abrir seus mercados de créditos de carbono. Exigem medidas e apontam o dedo para o resto do mundo, sem cerimônia, mas na hora de colocar a mão no bolso, eles não querem. Protecionismo e hipocrisia andaram de mãos dadas, o tempo todo", afirmou Salles

Para Greenpeace, resultado da COP25 é 'totalmente inaceitável'

Greta Thunberg lamentou que a ciência está sendo ignorada

Greta Thunberg lamentou que a ciência está sendo ignorada


FILIPPO MONTEFORTE/AFP/JC
As negociações de Madri terminaram frustrando ambientalistas. "O resultado dessa COP é totalmente inaceitável", disse a diretora-executiva do Greenpeace, Jennifer Morgan. De acordo com a ONG, apenas as nações mais vulneráveis mostraram empenho. "Durante esse encontro, a porta foi literalmente fechada a valores e fatos, enquanto a sociedade civil e cientistas que pediam a luta contra a emergência climática eram excluídos da COP25", diz uma nota do Greenpeace. A ONG ainda chamou países como Brasil e Arábia Saudita de "bloqueadores climáticos" e os acusou de "venderem acordos sobre carbono para atropelar cientistas e a sociedade civil".
A ativista sueca Greta Thunberg afirmou em seu perfil no Twitter que "a ciência é clara, mas está sendo ignorada". "Independentemente do que aconteça, nunca vamos desistir. Nós apenas começamos", disse.