Na última semana para chegar a um acordo que lhe permita seguir no governo da Espanha, o primeiro-ministro Pedro Sánchez teve novas derrotas. Com isso, crescem as chances de que o país tenha sua quarta votação geral em quatro anos. Houve eleições gerais em abril, mas, cinco meses depois, nada está resolvido.
O Psoe, de Sánchez, foi o partido mais votado e tem 123 dos 350 assentos na Câmara Baixa, mas precisa de ajuda para formar maioria. O caminho natural seria se unir à coligação Unidas Podemos, pois ambos são de esquerda. No entanto, não houve acordo.
Liderada por Pablo Iglesias, a sigla Podemos quer integrar o governo em troca de apoio, mas não houve acerto sobre quais cargos seriam entregues. O partido quer ministérios com mais poder, algo que Sánchez nega.
"Para nós, compartir responsabilidades é o razoável. Em um governo progressista não é razoável que estejam representadas apenas as sete milhões de pessoas que votaram no Psoe", disse Iglesias ontem, em entrevista coletiva.
Sem acordo, a Podemos prometeu se abster, o que facilita o caminho para Sánchez, que pode obter a aprovação do governo por maioria simples (mais de 50% dos votos dos parlamentares presentes). Mas, para isso, precisa que os demais partidos não votem contra ele. Sánchez agora busca acordo com a direita. O premiê negocia com os Cidadãos e o PP para que também se abstenham, o que abriria caminho para a formação do governo.
Líder do Cidadãos, Albert Rivera pede três coisas: que Sánchez se comprometa a não dar indulto aos separatistas catalães presos, que seja dissolvido o governo regional de Navarra, formado por legendas separatistas, e que não ocorra aumentos de impostos e de gastos públicos. O Psoe segue reticente em atender a estas demandas de forma plena. E o Cidadãos deu uma resposta ríspida na manhã de ontem.
"Acabo de falar com Pedro Sánchez. Sua resposta à solução que estamos oferecendo nega a realidade e é uma provocação aos espanhóis. Peço que a retifique, volte ao constitucionalismo e permita o desbloqueio da Espanha", publicou Rivera em uma rede social. A aproximação com a direita melindrou ainda mais a Unidas Podemos, que deixou no ar a possibilidade de mudar sua posição de abstenção caso haja acerto com Cidadãos e PP.
Em caso de acordo, o Parlamento realizará debates e votações até o dia 23, data limite para a aprovação. Se não houver consenso, a legislatura será dissolvida pelo rei Felipe VI e novas eleições serão marcadas para 10 de novembro.
Sánchez assumiu o cargo em junho de 2018, depois que o governo de Mariano Rajoy (PP) caiu após ser alvo de denúncias de corrupção. Apesar da vitória nas eleições de abril de 2019, o Psoe já teve a investidura ao governo negada em duas votações no Parlamento.