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Internacional

- Publicada em 09 de Setembro de 2019 às 03:00

Parcial, mídia argentina se adapta à nova cena

Clarín e o La Nación são os principais conglomerados de mídia do país

Clarín e o La Nación são os principais conglomerados de mídia do país


JUAN MABROMATA/AFP/JC
Como acontece a cada ciclo de poder na Argentina, os principais veículos se encontram em um momento de reposicionar suas linhas editoriais e seus negócios. Em um país em que o jornalismo é tradicionalmente parcial, contra ou a favor do governo de turno, mudanças na Casa Rosada geralmente detonam grandes transformações nos comandos das redações e das emissoras de televisão.
Como acontece a cada ciclo de poder na Argentina, os principais veículos se encontram em um momento de reposicionar suas linhas editoriais e seus negócios. Em um país em que o jornalismo é tradicionalmente parcial, contra ou a favor do governo de turno, mudanças na Casa Rosada geralmente detonam grandes transformações nos comandos das redações e das emissoras de televisão.
A provável volta do kirchnerismo, anunciada pelo resultado das eleições primárias, em 11 de agosto, pegou de surpresa os dois conglomerados mais importantes, o Grupo Clarín e o La Nación. O Clarín é dono do jornal Clarín, de emissoras de sinal aberto e a cabo e do principal provedor de internet, entre outros. Já o La Nación, além do jornal de mesmo nome, possui rádios, uma emissora de TV e outros investimentos.
O Clarín teve dois momentos com o kirchnerismo. O primeiro, de aproximação. Na gestão de Néstor Kirchner (2003-2007), tomou partido dele e foi premiado com a aprovação de negócios como a fusão de serviços de cabo e o monopólio das transmissões de futebol, que precisavam da anuência do governo.
Já com Cristina foi o oposto. A mandatária avançou contra o Clarín e o La Nación quando os veículos decidiram tomar partido dos ruralistas, em 2008, após a implementação de um imposto para venda de produtos agrícolas. A briga foi tão feia que o governo expropriou a Papel Prensa, companhia da qual os dois grupos eram sócios e que produzia papel para os jornais, e conseguiu que o Congresso aprovasse uma Lei de Meios para obrigar o Clarín a abandonar investimentos - o que acabou não acontecendo.
Foi por isso que a mídia tradicional ficou de mãos dadas com o governo de Mauricio Macri desde sua posse, em 2015, até o último dia 11 de agosto, quando o presidente foi derrotado nas primárias. "Agora já está todo mundo olhando para a frente e pensando em como se adaptar, embora estejam sofrendo muita pressão dos setores pró-Macri para seguir apoiando-o", contou à Folha de S. Paulo o jornalista Jorge Lanata, que tem programas em canais do Clarín.
Alguns jornalistas que apoiavam Macri chegaram a passar vergonha. Um dos mais conhecidos, Luis Majul, que passou os últimos três anos atacando Cristina e fazendo entrevistas laudatórias com Macri, fez um "mea culpa" no ar: "Quero fazer uma autocrítica. Nos últimos tempos estive muito focado na corrupção kirchnerista e não me dei conta de que as pessoas estavam sem recursos para chegar até o fim do mês", disse.
Protestos como o da semana passada, em que pobres de Buenos Aires acamparam na avenida 9 de Julho pedindo que se acione a Lei de Emergência Alimentícia, talvez não ganhassem a projeção que ganharam se os veículos não estivessem sentindo a mudança dos ventos. Uma fonte do Grupo Clarín diz que agora quem manda é a audiência, e esse tipo de manifestação comove. Nos últimos três anos, os protestos contra o governo foram noticiados de forma breve, privilegiando os episódios de violência e minimizando sua seriedade. Agora, as câmeras do Clarín e de outros canais focam as famílias acampadas, os bebês sendo agasalhados na rua por suas mães.
Inclusive já estão ocorrendo conversas entre a equipe de Alberto Fernández, o candidato da oposição, e os donos desses veículos. Se isso se concretizar, o noticiário passará novamente a ser governista, com alguns poucos fazendo investigação contra a nova gestão.
Durante o kirchnerismo, quem fazia isso com intensidade era justamente a equipe de Jorge Lanata, que, em seu "Periodismo para Todos" (jornalismo para todos), expôs diversos casos pelos quais a agora candidata a vice-presidente, Cristina Kirchner, está sendo processada.
Já nos anos de Macri houve poucas investigações jornalísticas sobre os negócios ilícitos do governo. Quem revelou os principais escândalos foi o repórter Hugo Alconada Mon, que apurou o caso dos Correios, em que Macri teria perdoado uma dívida do Grupo Macri com o Estado ao comprar e levar à falência os Correios Argentinos.
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