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Estados Unidos

- Publicada em 17 de Julho de 2019 às 03:00

De embaixada, Assange interferiu em eleições norte-americanas

Julian Assange orquestrou pessoalmente a publicação dos e-mails

Julian Assange orquestrou pessoalmente a publicação dos e-mails


JUSTIN TALLIS/AFP/JC
Relatórios de uma empresa privada de segurança contratada pelo governo equatoriano mostram que o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, se reuniu com autoridades russas e hackers na embaixada do Equador nos meses anteriores às eleições presidenciais norte-americanas de 2016, segundo a rede CNN.
Relatórios de uma empresa privada de segurança contratada pelo governo equatoriano mostram que o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, se reuniu com autoridades russas e hackers na embaixada do Equador nos meses anteriores às eleições presidenciais norte-americanas de 2016, segundo a rede CNN.
Os documentos, cuja autenticidade foi comprovada por um agente da inteligência equatoriana, relatam que Assange também recebeu encomendas que possivelmente continham materiais hackeados relacionados ao pleito. Em 2016, meses antes da votação para escolher o novo presidente dos EUA, o site WikiLeaks publicou e-mails de vários quadros do Partido Democrata com instruções internas, incluindo mensagens do chefe da equipe de campanha de Hillary Clinton, John Podesta.
De acordo com a CNN, os relatórios registram que o fundador do WikiLeaks orquestrou pessoalmente a publicação dos e-mails "diretamente da embaixada". À época, ele defendeu o interesse público da divulgação dos documentos e comemorou os desdobramentos do caso.
Depois das eleições de 2016, afirma a reportagem, a empresa conduziu uma avaliação das alianças políticas de Assange e concluiu que não havia "dúvidas sobre a existência de provas" de que ele teria laços com as agências de inteligência russas. Assange também teria obtido computadores e equipamentos de rede de alta tecnologia para facilitar a transferência de grandes quantidades de dados apenas semanas antes de o WikiLeaks receber os arquivos hackeados dos agentes russos.
Os documentos corroboram as descobertas sobre a atuação do site feitas pelo procurador especial Robert Mueller, responsável por conduzir a investigação sobre a interferência de Moscou nas eleições norte-americanas de 2016. O australiano sempre negou trabalhar para o Kremlin e insiste que a fonte dos vazamentos "não é o governo russo, nem um agente estatal". Assange afirmou que também teria publicado materiais que comprometessem o adversário de Hillary, Donald Trump, caso tivesse recebido algum.
O hacker australiano passou sete anos confinado na embaixada do Equador em Londres. Ele recebeu asilo político após se refugiar no local para evitar que fosse extraditado pela justiça britânica para a Suécia, onde era investigado por estupro e assédio sexual. Em dezembro de 2017, obteve cidadania equatoriana, a qual foi cancelada pelo governo em 10 de abril deste ano. No dia seguinte, foi preso por policiais britânicos. Atualmente, cumpre pena de 50 semanas de prisão no Reino Unido pela violação das regras de sua condicional.

Russos enviaram arquivos democratas hackeados a Julian Assange

Em junho de 2016, Trump e Hillary já eram dados como candidatos pelos seus partidos e se preparavam para a campanha eleitoral. No dia 14 daquele mês, o Comitê Nacional Democrata anunciou que havia sido hackeado e culpou a Rússia - Trump classificou o gesto como uma farsa.
Os relatórios obtidos pela CNN mostram que naquele período Assange fez 75 reuniões, quase o dobro da média mensal registrada pela companhia de segurança em 2016. Ele se encontrou com cidadãos russos e com um hacker mais tarde identificado no relatório do procurador especial Robert Mueller como um provável transportador dos e-mails hackeados dos democratas.
Cinco dias depois do anúncio do Partido Democrata, Assange pediu à embaixada do Equador que aumentasse a sua velocidade de conexão à internet - e foi atendido. Em 14 de julho, segundo informações dos documentos e do relatório de Mueller, os hackers russos enviaram arquivos encriptados ao WikiLeaks sob o nome "arquivo grande".
No dia 18, um guarda da embaixada abandonou seu posto para receber um pacote entregue por um homem usando um disfarce, mostram imagens de segurança obtidas pela empresa. O entregador cobriu seu rosto com uma máscara e óculos escuros, e carregava uma mochila.
A companhia comunicou o ocorrido e recomendou que o guarda fosse substituído, mas ele foi mantido no posto. Quatro dias depois, o site publicou mais 20 mil arquivos internos do Comitê Nacional Democrata.

Trump explorou e-mails durante a campanha

O WikiLeaks começou a publicar e-mails de John Podesta, o chefe da campanha de Hillary Clinton, em 7 de outubro de 2016 - e continuou a divulgar novos conjuntos de arquivos praticamente todos os dias até a eleição, em novembro. Trump explorou politicamente as mensagens na reta final de sua campanha - em várias ocasiões, o então candidato leu os e-mails durante comícios e alimentou teorias conspiratórias criadas a partir deles.
Segundo a CNN, os agentes de segurança da empresa privada constataram que Assange havia publicado o conteúdo hackeado "diretamente da embaixada". Os documentos relatam que, à época, os EUA procuraram as autoridades equatorianas e afirmaram que temiam que o australiano estivesse usando a representação diplomática em Londres para ajudar os russos a intervir no pleito.
Em 15 de outubro, após receberem esse ultimato, os equatorianos decidiram cortar o acesso à internet de Assange e sua linha telefônica. Ainda assim, a publicação diária dos e-mails de Podesta continuou. Pouco tempo depois, o Equador divulgou um comunicado condenando os esforços do WikiLeaks de interferir nas eleições, mas reafirmando seu comprometimento em proteger Assange.