Entre um milhão (segundo a polícia) e dois milhões (segundo os organizadores) de pessoas, vestidas de preto, encheram as ruas de Hong Kong ontem, no que está se tornando o mais significativo desafio na relação do território semiautônomo com a China em mais de 20 anos. Os manifestantes agora pedem a renúncia da chefe executiva Carrie Lam, pró-Pequim, após ela ter adiado indefinidamente o projeto de lei que autoriza extradição de suspeitos para serem julgados na China continental. O recuo foi em resposta a protestos recentes repreendidos com violência pela polícia.
Na multidão estavam famílias inteiras, desde jovens a idosos, que formavam um mar de preto pelas calçadas e estações de trem. Alguns carregavam cravos brancos enquanto outros seguravam cartazes dizendo "Não atire, somos Hong Kong" e gritavam "Renuncie!".
Na quarta-feira, mais de 70 pessoas ficaram feridas por balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. No sábado, um homem morreu ao cair do telhado de um centro comercial, onde ele ficou por várias horas com um cartaz dizendo: "Retire completamente a lei de extradição chinesa. Não somos baderneiros". Ontem, a multidão formava enormes filas para deixar flores, origamis e mensagens no local da tragédia.
Também neste domingo, Carrie Lam pediu oficialmente desculpas à população pela forma como seu governo tentou aprovar o projeto. Em nota, ela admitiu que as deficiências de seu governo levaram a conflitos e disputas que desapontaram e angustiaram a população. "A chefe executiva apresenta suas desculpas aos cidadãos e promete aceitar críticas com mais sinceridade e humildade", diz o texto.
No sábado, a chefe executiva de Hong Kong já havia dito estar profundamente arrependida com o trabalho do governo, prometendo "reativar a comunicação com a sociedade e ouvir diferentes opiniões". Questionada sobre se renunciaria, ela pediu uma "nova chance".