Uma multidão de manifestantes "armados" com guarda-chuvas voltou a ocupar as ruas de Hong Kong nesta quinta-feira, nos protestos contra uma proposta de lei que permitirá, se aprovada, a extradição de suspeitos para serem julgados na China continental. As imagens de milhares de jovens, a maioria estudantes, segurando guarda-chuvas enquanto se aglutinam ao redor da sede do governo remetem ao histórico "Movimento dos Guarda-Chuvas", manifestação pró-democracia ocorrida 2014.
À época, mais de 100 mil pessoas ocuparam o distrito financeiro de Hong Kong em um movimento que reivindicava a escolha do chefe do Executivo nas eleições de 2017 por meio de votação direta, e não a partir de uma lista com candidatos previamente aprovados por Pequim. A ocupação durou 79 dias e se tornou violenta perto do fim, quando manifestantes e policiais entraram em confronto. Para se protegerem de bombas de gás lacrimogêneo e jatos de spray de pimenta disparados pelas forças de segurança, os manifestantes seguravam guarda-chuvas amarelos.
"Não falamos ao fim do Movimento dos Guarda-Chuvas que estaríamos de volta?", disse a legisladora pró-democracia Claudia Mo. "Agora, estamos de volta!", completou, ao passo em que manifestantes repetiam as suas palavras.
Não se sabe se a proposta de extradição será aprovada pelo Parlamento, que adiou a discussão para uma data indefinida em razão dos protestos. Mas o histórico não parece favorável, já que os guarda-chuvas de 2014, além de não protegerem efetivamente contra os efeitos dos gases, não foram bem-sucedidos no campo político.
Pequim não atendeu à demanda pelo voto direto, 100 manifestantes foram processados nos meses seguintes e nove líderes do movimento foram considerados culpados em um veredito em abril deste ano. A eles foi imputado o crime de conspirarem para causar "incômodo à ordem pública". A sentença se baseou em uma lei de quando Hong Kong ainda era colônia britânica, há mais de 20 anos. A pena será de 16 meses de prisão.
Nos protestos de agora, receosos de serem rastreados caso a polícia decida prestar queixas contra quem participou dos protestos, boa parte não tem usado os cartões de transporte público para voltar para casa. O motivo é que o tíquete adquirido com cédulas é uma modalidade anônima de viajar no transporte público, ao passo em que o "bilhete único" local, chamado Octopus, contém não só um número de registro que identifica o usuário, mas também memoriza todos os trajetos dos passageiros.
Hong Kong voltou ao comando central chinês em 1997, em um acordo feito com a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, o qual deveria garantir eleições livres e democracia para a região. Hoje, é um território semiautônomo, no regime que ficou conhecido como "um país, dois sistemas", e há a preocupação crescente de que esteja perdendo autonomia e sucumbindo pouco a pouco ao regime do partido único chinês.