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relações internacionais

- Publicada em 13 de Novembro de 2018 às 22:51

O novo cenário mundial do pós-guerra

Descrita como a abertura de uma série de catástrofes, a Primeira Guerra Mundial remodelou o cenário geopolítico mundial. Grandes impérios acabaram, como o Austro-Húngaro, o Russo e o Alemão, tendo os territórios redimensionados. Outros se enfraqueceram e vieram a ruir na sequência, como o Otomano. Os Estados Unidos passaram a ter um protagonismo no tabuleiro - surge uma potência fora da Europa.
Descrita como a abertura de uma série de catástrofes, a Primeira Guerra Mundial remodelou o cenário geopolítico mundial. Grandes impérios acabaram, como o Austro-Húngaro, o Russo e o Alemão, tendo os territórios redimensionados. Outros se enfraqueceram e vieram a ruir na sequência, como o Otomano. Os Estados Unidos passaram a ter um protagonismo no tabuleiro - surge uma potência fora da Europa.
A maneira como o fim da Primeira Guerra foi conduzido deu subsídios a um novo conflito, maior e mais letal, 21 anos depois. O forte nacionalismo que cresceu durante os quatro anos de conflito deu origem, na Itália e na Alemanha, a novas formas de expressão disso, de modos mais agressivos. "O fascismo na Itália nasce do mito de uma vitória mutilada. A Itália ganhou a guerra, mas perdeu territórios que considerava relevantes, e o nazismo na Alemanha foi uma resposta ao fato de que o país foi identificado como o grande vilão do conflito", explica o professor do programa de Pós-Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) Antonio de Ruggiero.
A Conferência de Paz em Versalhes, na França, em janeiro de 1919, não contou com a participação dos derrotados. Em maio, as condições de paz foram entregues à Alemanha, que tentou, mas não conseguiu negociar. Para evitar uma invasão pela Entente (Grã-Bretanha, França e Rússia), aceitou o acordo. O Tratado de Versalhes criava a Liga das Nações, determinava a entrega de territórios alemães (Alsácia-Lorena à França e um corredor de acesso ao mar para a Polônia), de todas as colônias e do material de guerra, além da redução do exército alemão a 100 mil homens e o pagamento de enormes quantias como reparação de guerra.
Para o historiador e professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Paulo Visentini, o tratado, cujo objetivo era acabar com uma nação que tinha se desenvolvido, foi uma das causas principais do segundo conflito.
JC

Revanchismo deu origem a nacionalismos agressivos na Itália e na Alemanha

Sem se conformar com as exigências do tratado, a Alemanha passou a nutrir um sentimento de revanche, especialmente contra a França. Para De Ruggiero, a ausência de uma liderança que pudesse garantir um equilíbrio de paz fez diferença. O Congresso dos EUA preferiu que a nova potência mundial não se envolvesse tanto, adotando o isolacionismo e recusando-se a assumir compromissos coletivos. Curiosamente, embora tenha dado a ideia da Sociedade das Nações, Woodrow Wilson não fez dos EUA um membro da nova organização.
A guerra de 1914-1918 foi um catalisador de transformações e eventos históricos. Dois deles se destacam. A Revolução Russa, em 1917, foi desencadeada no decorrer da Primeira Grande Guerra. A Rússia, um país atrasado econômica e tecnicamente, tentou usar o conflito como forma de escape das questões internas. O país, conta De Ruggiero, se sacrificou muito, não só em número de soldados mortos, mas também em termos de produção para armamentos. "O envolvimento da Rússia foi uma das causas das revoltas populares. Fome, sacrifício geral, ausência de resultados. Criou-se um clima de tensão que gerou a revolução", pondera.
Os motivos alemães que levaram à Segunda Guerra estavam estabelecidos: desemprego, inflação e recessão se somaram a uma intensa mobilização política e a conflitos sociais acentuados. A agitação que levou o mundo à guerra de 1939-1945 começa em 1922, com o movimento fascista, de Benito Mussolini, eclodindo na Itália com uma agenda nacionalista e totalitária. Mais tarde, em 1933, Adolf Hitler se tornou chanceler da Alemanha, repudiou o Tratado de Versalhes, rearmou as forças armadas e fortaleceu o partido nazista. Um país arrasado e o espírito de revanche foram os ingredientes que o Fürher precisava para começar a preparar o terreno para a limpeza racial.
Para alguns autores, não houve Primeira e Segunda Guerras. A teoria defende, conta o professor da Universidade de Passo Fundo Adelar Heinsfeld, que o conflito foi apenas um - a segunda sendo uma continuação da primeira. Como diferencial, a Segunda Guerra tinha um discurso ideológico e racial forte. A Primeira, se apoiava no nacionalismo. "Matar em nome da raça. Isso é a Segunda Guerra Mundial", define o professor da Pucrs, Antonio De Ruggiero.
A Primeira Guerra Mundial mudou tudo. A paz deu lugar às armas, e a Segunda Revolução Industrial trouxe a tecnologia para tornar o conflito mais sangrento. O mapa do mundo se desfez e foi refeito. O Direito Internacional ganhou importância, e a diplomacia viu que, sozinha, não é, capaz de deter os impulsos bélicos de líderes políticos e militares. Olhando para os anos de guerra com os olhos atuais, a relação entre o mundo de hoje e o daquela época é resumida pelo historiador britânico Max Hastings, em entrevista à revista Época. "O maior paralelo que vejo entre o fim do século XIX e o começo do século XX, e o fim do século XX e o começo do século XXI é este: governantes capazes de cometer atos estúpidos."

Filmes e livros para entender a Guerra

Filmes
1. Nada de novo no front (1930)
2. Lawrence da Arábia (1962)
3. Glória feita de sangue (1975)
4. Feliz Natal (2005)
5. Segunda temporada da série Downton Abbey (2012)
6. Os campos voltarão (2014)
Livros
1. Impérios em guerra - Robert Gerwarth e Erez Manela (Dom Quixote, 2014)
2. A guerra que acabou com a paz - Margaret Macmillan (Temas e Debates, 2014)
3. A beleza e a dor da guerra - Peter Englund (Companhia das Letras, 2014)
4. A Primeira Guerra Mundial - Martin Gilbert (Leya Casa da Palavra, 2017)
5. Os sonâmbulos - Christopher Clark (Companhia das Letras, 2014)
6. Os três imperadores: três primos, três imperadores e o caminho para a Primeira Guerra Mundial - Miranda Carter (Companhia das Letras, 2013)
7. O maior dia da história - Nicholas Best (Paz e Terra, 2009)
8. A Primeira Guerra Mundial e o declínio da Europa - Paulo Fagundes Visentini (Alta Books, 2014)
9. Vivências da Primeira Guerra Mundial entre a Europa e o Brasil - Antonio de Ruggiero, Claudia Musa Fay e René E. Gertz (Oikos, 2015)
10. O adeus à Europa - Olivier Compagnon (Rocco, 2014)