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Meio Ambiente

- Publicada em 08 de Janeiro de 2022 às 13:29

Baleias jubartes encalham em número recorde no litoral do Brasil

Em 2021, até 22 de dezembro, foram 216 encalhes dos animais, maior número na série histórica iniciada em 2002

Em 2021, até 22 de dezembro, foram 216 encalhes dos animais, maior número na série histórica iniciada em 2002


PMC-BS/Agência Petrobras/JC
O encalhe de baleias jubarte no litoral brasileiro atingiu um número atípico em 2021. Segundo levantamento do Projeto Baleia Jubarte, até 22 de dezembro, foram 216 episódios, recorde na série histórica iniciada em 2002.
O encalhe de baleias jubarte no litoral brasileiro atingiu um número atípico em 2021. Segundo levantamento do Projeto Baleia Jubarte, até 22 de dezembro, foram 216 episódios, recorde na série histórica iniciada em 2002.
A distante segunda colocação ficou com 2017, com 122 encalhes.
O crescimento do número de encalhes ainda não tem uma explicação precisa. Mas, segundo Milton Marcondes, coordenador de pesquisa do Projeto Baleia Jubarte, a principal hipótese é a diminuição de krill.
O krill (minúsculos crustáceos) é um dos principais alimentos das jubartes, que também comem pequenos peixes. As baleias sugam a água do mar e "filtram" suas presas.
Além do recorde em 2021, houve outro fator atípico nos registros. Quase 95% dos animais encalhados eram juvenis - animais de 1 até 5 anos de idade, quando atingem a maturidade sexual.
"Nunca tivemos uma porcentagem tão grande de uma categoria", afirma o especialista.
O encalhe de juvenis magros é mais uma pista, segundo Marcondes, de que a falta de krill talvez seja a responsável pela situação. Isso porque, em caso de escassez de alimentos, mais experiência (ou seja, mais anos de vida no mar) pode ajudar na captura de comida. Com isso, os mais jovens encontrariam mais dificuldade nesse cenário e chegariam ao litoral brasileiro sem terem se alimentado adequadamente.
Os animais adultos também têm maior capacidade para armazenar gordura, outra vantagem em relação aos juvenis.
As jubartes (Megaptera novaeangliae) que nadam pela costa brasileira, em geral, se alimentam nas águas antárticas da Geórgia do Sul e vêm ao Brasil para se reproduzir e ter baleiazinhas. Por sinal, o Parque Nacional Marinho de Abrolhos é conhecido como um importante berçário dessas baleias no oceano Atlântico Sul, o que proporciona turismo de observação de cetáceos na área.
Outro sinal da falta de krill são as baleias que se aproximam da costa em busca de peixes. São Paulo e Santa Catarina, estados com grandes cardumes, são os líderes em encalhes. Houve registros, diz Marcondes, de animais entrando em currais de pesca no mar atrás de alimento e ficando presos nas redes.
Outro recorde no ano foi o número - subestimado - de animais presos em redes de pesca: 58 (mas não foram todos os bichos que morreram). Com pescadores e baleias indo atrás do mesmo recurso, acidentes do tipo acabam se tornando mais prováveis.
Por fim, outra sinalização da falta de krill veio de longe do Brasil. Pesquisadores da Namíbia entraram em contato com o pesquisador do Projeto Baleia Jubarte e afirmaram que também estavam com registros acima do normal de encalhes e de indivíduos jovens.
E o interessante é que os animais da passam pela costa da Namíbia pertencem a uma outra população que, em linhas gerais, se alimenta em uma região diferente (ilha Bouvet e próximo ao cabo da Boa Esperança) da área de alimentação das baleias brasileiras.
A falta do krill pode, possivelmente, ser explicada pelo efeito da crise climática nesses crustáceos, que têm um complexo ciclo de vida e papel importante na cadeia alimentar.
Pesquisa publicada na revista Nature Climate Change apontou que a mudança do clima pode deslocar mais para o sul as áreas onde o krill se desenvolve e, também, desencadear uma incompatibilidade entre o seu ciclo de vida e as condições oceânicas durante o ano.
Há registros de associações, por exemplo, de pouca disponibilidade de krill à queda no sucesso reprodutivo de lobos-marinhos, pinguins e albatrozes e de espécies que predam esses crustáceos.
"A cada ano, as baleias jubarte migram dos trópicos para os polos para se alimentar da enorme quantidade de krill de verão. Se o pico do krill ocorrer mais cedo, as baleias devem se adaptar chegando mais cedo ou acabarão com fome", escreveram os autores da pesquisa no site The Conversation.
Situação da espécie Apesar dos elevados números de encalhes e de acidentes com redes de pesca, as jubartes não constam na última lista do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) de espécies ameaçadas.
Segundo o instituto, a proibição de caça e as iniciativas de conservação são essenciais para a espécie continuar fora de risco.
A pesca comercial de baleias teve um forte impacto nas populações de jubartes no mundo. Uma moratória de caça de baleias, instituída pela International Whaling Commission e em vigor desde 1985/1986, tem ajudado na recuperação das jubartes, segundo a Noaa (National Oceanic and Atmospheric Administration, agência dos EUA).
Agência Folhapress
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