O interrogatório do vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, 41 anos, o último dos quatro réus a depor no julgamento pelo incêndio na boate Kiss, teve início às 14h desta quinta-feira (9). No palco da boate, o cantor foi o responsável por erguer o artefato pirotécnico, que deu início ao incêndio e resultou em 242 vítimas fatais e 636 feridos.
A banda, que teve início tocando em CTG, passou por uma troca de estilo em 2009. O sertanejo começou a fazer parte do repertório da Gurizada Fandangueira durante shows em casas noturnas. A trajetória foi contada pelo vocalista nos primeiros minutos do interrogatório. De acordo com Marcelo de Jesus dos Santos, o grupo já havia tocado na boate Kiss ao menos duas vezes depois da reforma no lugar.
Respondendo aos questionamentos do juiz Orlando Faccini Neto sobre a altura do teto e as pessoas que estavam no palco, Santos comentou que “era muito escuro e não tinha como ver a proporção”. Além disso, o réu alega que ninguém da boate avisou da espuma. A utilização de artefatos pirotécnicos era frequente na maioria das apresentações da banda. De acordo com Santos, uma semana antes do incêndio na Kiss, a banda utilizou o mesmo artefato em um centro universitário e não houve acidentes.
Na sequência, o réu descreveu em detalhes como o fogo iniciou na boate. No dia da tragédia, 27 de janeiro de 2013, os artefatos pirotécnicos foram utilizados pela banda no início da apresentação e, segundo Santos, não houve problemas. Depois de um bloco de músicas, o grupo iniciou “Amor de Chocolate” do cantor Naldo. Durante o refrão, Santos acionou o artefato, que foi entregue por Luciano Bonilha Leão acoplado em uma espécie de luva.
Com o microfone na mão, o vocalista foi avisado pelo irmão, Márcio, de que o fogo havia iniciado. “Eu larguei e gritei: fogo, fogo, saí! Na minha cabeça, iria conseguir apagar. Tive uma chance, mas não consegui, o extintor não funcionou”, comentou em resposta ao juiz. Segundo o réu, ainda no início do incêndio, Bonilha atirou uma garrafa d’água e o fogo aumentou.
“Acordei e era uma cena de guerra, nunca tinha visto algo assim. Fui para o outro lado e quando me dei conta estava no meio das pessoas mortas”, relata Santos emocionado. O réu comenta que não sabe ao certo se desmaiou, mas não lembra de certos detalhes como, por exemplo, se os seguranças do local estavam dando orientações para sair da boate.
Respondendo às perguntas da defesa, executadas pela advogada Tatiana Vizzotto, Santos alega não estar trabalhando atualmente, pois não se recuperou da Covid-19, contraída há cinco meses. Após o incêndio, ele teve problemas pulmonares e respiratórios, mas sentia vergonha em procurar ajuda. Ao final, respondeu a uma série de questionamentos alegando não ter saído de casa para matar ninguém.
A fase de debates está aberta, são 2h30min para a apresentação do Ministério Público e Assistência de Acusação. O resultado do julgamento é esperado, no máximo, até o próximo domingo (12).