Frio e chuva reacendem polêmica sobre pontos de ônibus metropolitano em Rio Grande

Os dias de frio histórico no Rio Grande do Sul, acompanhados por longos períodos de chuva, reacenderam uma polêmica que circula pela cidade de Rio Grande há quatro anos. Em 2017, com a construção da nova rodoviária na Vila Maria, a cerca de 8 km do Centro da cidade, onde ficava o antigo terminal, levou a empresa Expresso Embaixador a não utilizar mais a estação para desembarque de passageiros da linha que faz o trajeto Pelotas - Rio Grande.

Quem precisa ficar neste trecho tem que descer em um ponto de ônibus localizado às margens da avenida Itália (RS-734), sem qualquer proteção ou abrigo, e caminhar pelo acostamento da rodovia até chegar ao seu destino. "É um absurdo o pessoal ficar na rua, sem proteção e segurança, com uma rodoviária enorme como esta atirada às moscas", desabafa o funcionário público aposentado Ivo Sória, 72 anos. A reclamação de Sória ecoa entre os usuários que fazem o trajeto Pelotas-Rio Grande, e questionam qual motivo para que os coletivos da linha não usem a rodoviária para o desembarque, já que a estação fica a poucos metros do ponto de ônibus.

A resposta da empresa para a decisão é a mesma utilizada pelos passageiros que reclamam do desvio: segurança. De acordo com o gestor operacional da Expresso Embaixador, Carlos Alberto Canielles, é muito arriscado fazer a manobra na rodovia para entrar na rodoviária. "Os ônibus que vêm de Pelotas para Rio Grande não entram na rodoviária para proteger os passageiros, pois o fluxo de automóveis na rodovia é intenso, e não há um semáforo ou rótula para atravessar a estrada de forma segura", alega o executivo. Desde 2017, com a mudança de endereço da rodoviária, a Embaixador passou a ter como ponto de origem de suas linhas a garagem da empresa, no Centro da cidade.

O fato é que, por lei, a empresa não é obrigada a utilizar o terminal rodoviário, já que se trata de uma linha metropolitana. Rio Grande faz parte da Aglomeração Urbana Sul (AUSUL), junto com as cidades de Arroio do Padre, Capão do Leão, Pelotas e São José do Norte. A aglomeração urbana é uma espécie de região metropolitana, que reúne municípios próximos para fins legais, caso dos transportes, por exemplo.

A regulamentação para os ônibus metropolitanos também isenta as empresas de oferecerem passagens com local marcado, venderem bilhetes antecipados ou contar com guichê de vendas apenas na estação rodoviária. Esta, aliás, é outra queixa de passageiros, já que um dos pontos de vendas, o Bar do Beto, no Trevo, acabou se tornando uma minirrodoviária. "Os bilhetes da linha Embaixador também podem ser adquiridos na Estação Rodoviária de Rio Grande, mas isso não significa que haverá assentos marcados", explica Danilo Landó, técnico da diretoria de transportes metropolitanos da Metroplan (Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional), que regula esta modalidade de transporte no Rio Grande do Sul.

Landó esclarece ainda que a responsabilidade de todo o mobiliário dos pontos de ônibus - abrigos, bancos e iluminação, por exemplo - são de responsabilidade das prefeituras. No caso de Rio Grande, o especialista da Metroplan informa que, desde 2017, com a mudança de local da estação rodoviária, foram solicitadas providências à prefeitura municipal, como a construção de um trevo ou rótula para conversão dos ônibus que rumam à cidade.

Segundo a Metroplan, havia também um projeto de duplicação da RS-734 ao centro do município, além da rótula, e que essas demandas ainda esperam para saíram do papel. A prefeitura de Rio Grande informa que está no aguardo da licitação de duplicação da via para definir como irá proceder.

Landó argumenta que o fluxo de passageiros que precisa desembarcar na rodoviária é muito pequeno, e que causa mais transtorno aumentar o trajeto em 20 minutos para os demais usuários que se deslocam até o Centro, tempo que seria necessário para poder chegar ao terminal com segurança usando outro trevo de acesso. 

O desembarque em pontos de ônibus ao longo das rodovias, completa o técnico, é realidade para a maioria dos usuários de transporte metropolitano que trafegam de uma cidade a outra. Um dos motivos é a cobrança de taxa pelas administradoras das estações rodoviárias para que as empresas possam estacionar seus coletivos nos boxes.

Em função da pandemia, com a redução drástica do número de usuários, esse custo ficou inviável para muitos transportadores de passageiros. Landó lembra que algumas empresas precisaram suspender linhas - caso da própria Embaixador, que deixou de operar com o semidireto entre Rio Grande-Pelotas - em função do prejuízo que estavam causando.