Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Educação

- Publicada em 14 de Maio de 2021 às 20:35

Rio Grande do Sul quer aplicar avaliação de aprendizagem durante a pandemia

Objetivo é identificar como foi a aprendizagem remota dos alunos durante a pandemia do coronavírus

Objetivo é identificar como foi a aprendizagem remota dos alunos durante a pandemia do coronavírus


LUIZA PRADO/JC
A secretária de educação do Rio Grande do Sul, Raquel Teixeira, anunciou que, a partir do dia 24 de maio, o Estado irá fazer uma série de avaliações diagnósticas com os alunos da 2ª série do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. O objetivo é identificar como foi a aprendizagem dos alunos durante a pandemia do novo coronavírus, que instituiu o ensino remoto de emergência. O pronunciamento foi feito na tarde de quinta-feira (14), em live da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
A secretária de educação do Rio Grande do Sul, Raquel Teixeira, anunciou que, a partir do dia 24 de maio, o Estado irá fazer uma série de avaliações diagnósticas com os alunos da 2ª série do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. O objetivo é identificar como foi a aprendizagem dos alunos durante a pandemia do novo coronavírus, que instituiu o ensino remoto de emergência. O pronunciamento foi feito na tarde de quinta-feira (14), em live da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
“Não tem nota, não tem classificação e nem ranking. É uma avaliação que vai nos dizer o que os alunos aprenderam, o que não aprenderam e onde eles estão para as intervenções pedagógicas que precisam ser feitas”, afirmou a secretária. Segundo ela, as redes já começaram a se preparar para fazer a avaliação diagnóstica universal com fins pedagógicos. A previsão é que a avaliação termine no dia 4 de junho.
Depois, o Centro de Avaliação Educacional da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF) dará início a outra avaliação. ”Estamos selecionando 15 mil alunos do quinto ano, 15 mil do nono ano e 15 mil do terceiro ano do ensino médio para medir a perda de aprendizagem que aconteceu no Rio Grande do Sul”, explicou Raquel. A ideia é ter um resultado concreto de como esses alunos foram impactados durante o ensino remoto emergencial.
As aulas online começaram no dia 1 de junho de 2020 no Estado. Segundo dados da Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul (Seduc), mais de 791 mil alunos estavam em uma sala de aula do Google nessa época. Desses, aproximadamente 682 mil, cerca de 86%, estavam ativos. “Para o início de 2021, os números são menores, sinalizando um cenário de evasão bastante preocupante. Cerca de 744 mil alunos estavam em sala e 647 mil participando”, apontou. Raquel reconhece, porém, que esses números representam apenas o acesso à plataforma, mas não falam sobre o aprendizado dos alunos que acessaram.
A secretária também disse que 83% das aulas online do ano passado utilizaram o WhatsApp. “Não precisa entender de educação para saber que isso é insustentável. Nenhum sistema educacional se sustenta em cima de WhatsApp”, defendeu. Apenas 34% das aulas utilizaram plataformas de educação. “Então precisamos melhorar muito porque o ensino remoto que utilizamos foi precário e frágil.”
O vice-presidente do Cpers, Edson Garcia, enfatizou que a categoria de professores está desde 2015 sem reajuste ou reposição salarial. “Essa é a realidade quando vemos índices de uso de aplicativos de mensagens e de redes sociais. Como uma categoria de trabalhadores que está há tanto tempo sem um real de reposição conseguem telefones e computadores que rodem esses aplicativos para conseguir trabalhar?”, indagou. Para ele, é preciso valorizar os professores para conseguir melhorar a qualidade do ensino remoto. “Fazemos das tripas coração para fazer com que nossos alunos e alunas tenham aula.”
“O que nós vivemos durante esse ano, teremos reflexo nos próximos 20 ou 30 anos. Então é importante que sejam feitas as medidas. É importante que a secretária Raquel trouxe que o Estado vai fazer pesquisa, porque o que não é medida não pode ser melhorado”, defendeu o presidente Sindicato do Ensino Privado do RS (Sinepe), Bruno Eizerik. Ele disse, ainda, que o Brasil foi um dos países que ficou mais tempo sem escolas na pandemia. “A escolha tem que ser a última a ser fechada e a primeira a ser aberta.”

Rio Grande do Sul precisa melhorar ensino remoto

Além da Raquel, do Garcia e do Eizerik, a live “O Rio Grande do Sul pós pandemia: reflexões e caminhos”, a diretora do Centro de Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Cláudia Costin, e o professor titular de Políticas Públicas da Escola de Economia de São Paulo da FGV, André Portela, também participaram do evento. A live, que debateu educação, faz parte de um ciclo de seminários que busca reunir especialistas para debater alternativas e propor soluções para os problemas que o Estado poderá enfrentar após a pandemia.
“O Rio Grande do Sul tem bons professores e bons resultados de aprendizagem, mas, ainda assim, é um dos estados, se não o estado, que mais reprova alunos no País”, pontuou Cláudia. Para ela, isso significa que o Estado não está construindo uma aprendizagem de altas expectativas para todos os alunos e que isso é importante, porque estabelece resultados que podem ser alcançados pelos alunos.
A especialista também apontou algumas tendências da educação no mundo, como o foco em resolução de problemas, a flexibilização dos currículos, plataformas adaptativas, a cultura digital e o protagonismo do aluno. “O aluno tem que ser progressivamente estimulado a ser protagonista da própria vida, ele tem que ser formado para a autonomia e para a cidadania global”, defendeu. O presidente do Sinep disse que acredita que esse foi um dos pontos positivos do ano letivo de 2020. “Acho que a autonomia que o aluno ganhou no ensino remoto, de se tornar o principal autor no processo de ensino e aprendizagem foi muito importante”, defendeu Eizerik.
Entre os pontos negativos, Cláudia citou que esse ano de pandemia poderá significar uma série de perdas profundas de aprendizagem, com pioras no ensino de matemática, no processo de alfabetização, na desigualdade educacional e, ainda, nos índices de abandono escolar. ”No pós pandemia não podemos voltar para a educação que tínhamos antes, mas sim para uma educação transformada”, finalizou.
Portela afirmou que há evidências de que a interrupção das aulas afeta diretamente o aprendizado, sendo que o efeito é superior em matemática e que alunos mais novos são os mais prejudicados, assim como os alunos com maior vulnerabilidade socioeconômica. “Com a incidência do H1N1 no Brasil, em 2009, 13 municípios de São Paulo adiaram o retorno das aulas no recesso do meio do ano por algumas semanas. Esse atraso afetou o aprendizado dos alunos. Estima-se que os estudantes do quinto ano perderam em torno de 4,5 pontos de aprendizado”, contou.
A partir de dados desses estudos, Portela fez uma simulação para estimar a perda de aprendizado durante a pandemia no Brasil. Levando em consideração se os alunos têm aula em casa e quanto tempo dedicam aos estudos, a pesquisa de Portela levantou alguns indicadores. “Em função disso, criamos três cenários. Em um, se o aluno realizar atividades, não aprende nada. Esse é o pessimista. No outro, o otimista: a dedicação no aprendizado em casa leva ao mesmo aprendizado do estudo presencial. No cenário intermediário, existe um aprendizado proporcional ao tempo dedicado em casa”, explicou.
O aprendizado em um ano típico do ensino fundamental II é de 13,1 pontos na escala Saeb para português e 10,9 para matemática. No cenário pessimista, o aprendizado não realizado será de, respectivamente, 9,5 pontos e 7,9 pontos. No otimista, o aprendizado não realizado será de 1,8 em português e 1,5 em matemática.
Para o ensino médio, o aprendizado de um ano típico é de 8,8 pontos em língua portuguesa e 7,1 pontos em matemática. No cenário pessimista, o aprendizado não realizado será de 6,3 pontos em língua portuguesa e de 5,1 em matemática. No otimista, 1,3 e 1,0, respectivamente.
“Os resultados são bem preocupantes. Temos que fazer mais do que estamos fazendo. Se formos continuar com ensino 100% online, é preciso melhorar muito o ensino remoto”, apontou Portela. Ele afirmou, ainda, que a avaliação diagnóstica era uma boa ideia para descobrir como solucionar esses problemas. “Vamos fazer a avaliação e aí poderemos comparar com a simulação do Portela, com um resultado concreto do nosso Estado”, concluiu a secretária Raquel.