Quem contribuiu mais para o atual estado de agravamento da pademia no Rio Grande do Sul? O ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e epidemiologista Pedro Hallal acredita que não foi a reabertura do comércio e aponta as "absurdas aglomerações" como vilãs da recente alta de contaminações e pressão por leitos, que
leva ao quase colapso de UTIs.
"Se não fica sempre a ação mais enérgica fechar o comércio, mas este setor, que reabriu desde meados do ano passado, não foi responsável pelo aumento dos casos", pondera, e reconhece que os protocolos da indústria, comércio, restaurantes e hotéis são muito melhores que os seguidos por estabelecimentos como bares.
"Quando se vê barzinho aberto, pessoas sem máscara e fazendo aglomeração, não tem justificativa para esse descontrole, nem econômica. Faltou, nestas situações, ações muito mais enérgicas dos gestores", ressalta.
Mesmo com esta avaliação, o ex-reitor defende que o
distanciamento controlado, que apontou 11 regiões com bandeira preta, volte ao modelo original, à sua versão raiz, de maio de 2020, sem a possibilidade de o município seguir regras de bandeira de menos risco quando a situação é mais grave, prevista na cogestão.
"Tem de parar com essa história que a cidade pode decidir não ficar preta", critica o ex-reitor da UFPel, que coordena a maior pesquisa do mundo feita na pandemia para medir a incidência do novo coronavírus.
Nova etapa da Epicovid deve ter os dados divulgados até quinta-feira (25), diz Hallal, e deve apontar para um aumento considerável de casos. A
última foi em setembro e indicou deaceleração de casos na época. A Secretaria Estadual da Saúde orientou
suspender cirurgias não urgentes em todos os hspitais.
"Os pesquisadores discutem a crise em um grupo, os empresários em outro e os políticos em outro. Falta um comitê único que discuta a pandemia com todos juntos. Sem isso, fica uma disputa de forças entre grupos que não conversam entre si", adverte o ex-reitor, que também chama a atenção para uma certa normalização da pandemia.
Ainda sobre o dilema economia e saúde, que mais uma vez volta ao foco quando se prevê a volta de restrições, Hallal diz que as pandemias do passado mostram que as regiões que se recuperam mais rápido e de forma mais pujante são aquelas onde têm menos mortes.
"Dizer que a economia é uma coisa e a saúde é outra é uma bobagem."
O epidemiologosta alerta que a pandemia está no momento dramático e que ganhou aceleração e pressão nas internações. A expectativa é que ela se mantenha forte no primeiro semestre, pelo menos, muito por causa do lento avanço da vacinação, "mas por culpa do governo federal, que não conseguiu a disponibilidade de doses que poderia ter conseguido no momento certo".
Hallal observa que a medida prioritária deve ser aumentar a imunização o mais rápido possível. Além disso, o esforço deve ser em acabar com as aglomerações desnecessárias, fazer o rastreamento de contato das pessoas infectadas e ter políticas de distanciamento que sejam mais respeitadas.
"E, por último, pode ser repetitivo dizer, as pessoas devem continuar a tomar os cuidados individuais, com uso de máscara e álcool em gel e mantendo o distanciamento."