Os brasileiros consideram a saúde o principal problema do País, no ano em que quase 200 mil morreram e pelo menos 7,3 milhões foram infectados pela Covid-19 - devido à subnotificação, os números provavelmente são ainda maiores. A área foi citada por 27% dos entrevistados pelo Datafolha, quando consideradas as de responsabilidade do governo federal.
Em junho, esse índice era de 19%. Por enquanto, o Brasil está atrasado na corrida mundial por vacinação e assiste outros países aplicarem as primeiras doses, inclusive vizinhos sul-americanos e centro-americanos. Os dados também mostram que os casos e mortes vêm aumentando em todas as regiões brasileiras e devem explodir após as festas de fim de ano.
Durante o pico da pandemia, não havia quantidade suficiente de respiradores, leitos de terapia intensiva, pessoal qualificado e testes diagnósticos para fazer frente ao vírus em várias capitais. Pacientes morreram à espera de UTIs, enquanto o presidente chamava a doença de "gripezinha", se recusava a usar máscara e exaltava remédios comprovadamente sem eficácia.
O Datafolha ouviu 2.016 brasileiros adultos que possuem telefone celular em todos os estados entre 8 e 10 de dezembro (desde 7 de dezembro, mais de 13 mil pessoas morreram de Covid no país). A margem de erro é de dois pontos percentuais e a amostra é considerada representativa da população.
Os entrevistados consideraram como segundo principal problema o desemprego (13%) e o terceiro, a crise econômica (8%). Em novembro, o desemprego bateu novo recorde, atingindo 14 milhões de brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desde maio, no início da pandemia e do isolamento social, aumentou em 4 milhões o número de brasileiros sem emprego, uma alta de aproximadamente 40%.
O auxílio emergencial, aprovado pelo Congresso e pago pelo governo federal, virou a única renda de 36% das famílias que receberam pelo menos uma parcela neste ano. Mas o valor pode ser cortado em janeiro, o que deve deixar milhões de brasileiros sem nenhuma fonte renda.
Também foram citados como principal problema a corrupção (7%), a educação (6%), a política (5%), a violência (4%), a inflação (2%) e a fome (2%). Curiosamente, a pandemia, especificamente, foi citada por apenas 3%. A saúde foi mais lembrada pelas mulheres (34%) do que pelos homens (20%), por quem tem entre 45 e 59 anos, e por aqueles com renda de até dois salários-mínimos.
As porcentagens foram praticamente iguais em todas as regiões do País, assim como entre quem vive na região metropolitana e no interior e entre brasileiros brancos, pardos e pretos. Mas foi maior entre aqueles que estão saindo de casa apenas quando inevitável (31%) e uma preocupação bem menor entre os que estão vivendo normalmente em meio à pandemia (13%) - esses últimos criticaram mais a corrupção e o desemprego.
Entre os que consideram a gestão de Jair Bolsonaro ótima ou boa, 23% apontaram a saúde como principal problema. O índice cresce entre quem considera o governo federal regular (30%) e quem classifica como ruim ou péssimo (29%).