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Coronavírus

- Publicada em 30 de Setembro de 2020 às 20:44

Pesquisa comprova que Covid-19 é também doença vascular

Pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) comprovaram que a Covid-19 não é somente uma doença pulmonar, mas se trata também de uma doença vascular. Estudo realizado com amostras post mortem, autorizadas pelos familiares de pacientes mortos em decorrência da Covid-19, mostrou que eles apresentavam lesões na célula que reveste o vaso sanguíneo, com possibilidade de ocasionar trombose e levar a óbito. Foram analisados pacientes com idade média de 75 anos e com comorbidades como hipertensão arterial, diabetes e obesidade.
Pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) comprovaram que a Covid-19 não é somente uma doença pulmonar, mas se trata também de uma doença vascular. Estudo realizado com amostras post mortem, autorizadas pelos familiares de pacientes mortos em decorrência da Covid-19, mostrou que eles apresentavam lesões na célula que reveste o vaso sanguíneo, com possibilidade de ocasionar trombose e levar a óbito. Foram analisados pacientes com idade média de 75 anos e com comorbidades como hipertensão arterial, diabetes e obesidade.
Após publicação do resultado das primeiras análises na revista médica internacional Arteriosclerose, Trombose e Biologia Vascular (ATVB, do nome em inglês), da Associação Americana do Coração, os pesquisadores indicaram que o uso precoce de anticoagulantes pode ajudar no tratamento da Covid-19 e evitar tromboses.
A professora da Escola de Medicina da PUC-PR e uma das responsáveis pela pesquisa, Lucia de Noronha, disse nesta quarta-feira (30) à Agência Brasil que foram feitas autópsias minimamente invasivas por meio de incisões pequenas no tórax dos pacientes, logo depois da morte, por onde os pesquisadores tiveram acesso aos pulmões. As biópsias são guiadas por imagens que ajudam a distinguir as áreas mais lesadas do pulmão. Já foram feitas biópsias pulmonares em 25 pacientes e mais de 20 biópsias renais. O estudo publicado se refere às primeiras seis análises. Novas pesquisas serão efetuadas para confirmar os achados.
“Mesmo com seis pacientes, já podemos ver o grau de lesão vascular que a Covid-19 causa", destacou Lucia. Para comparação, os pesquisadores utilizaram um grupo controle de biópsias post mortem de pacientes de H1N1, que já vinham estudando desde 2009. "Já tinha um parâmetro. Embora os vírus sejam diferentes, são doenças pandêmicas". Foram usadas também biópsias de outros dez pacientes que morreram não de doença pulmonar, mas de outras causas, como infarto agudo do miocárdio, por exemplo. "Pegamos um pulmão normal, para comparar", disse a pesquisadora.
Com o estudo, observou-se que a Covid-19 causa uma lesão muito importante no endotélio, que é uma camada fina de células que protege o vaso para evitar tromboses. "Ela tem uma função de barreira, para que o sangue fique dentro do vaso, mas não coagule e continue a fluir. É como se fosse uma camada protetora e lisa. Tem uma função também de lubrificante, para que o sangue não fique viscoso e flua com facilidade", explicou Lucia.
Além disso, segundo a professora, o endotélio, no pulmão, tem uma função de troca de ar. "Porque o endotélio do pulmão, além de ter todas essas funções de proteção, camada lubrificante para que o sangue flua e não aconteça coagulação, ele também faz a troca gasosa. É o endotélio que ajuda que o ar que está no pulmão passe para dentro do sangue".
A pesquisadora explicou ainda que quando ocorre lesão no endotélio, a situação tende a piorar. Em uma pessoa com o pulmão lesado pela Covid-19, o ar já não está passando direito. "Além disso, o vaso não está deixando o sangue fluir direito porque está trombosado. Você não consegue nem fazer a respiração, ou seja, nem passar o ar para dentro do vaso, e nem distribuir o ar para todo corpo pelo sangue, porque este não flui. Isso agrava bastante a situação do paciente", acrescentou.
Os pesquisadores sugeriram então que o uso de anticoagulantes – com todos os cuidados que o anticoagulante precisa e que incluem indicação médica e cuidados de monitoramento – precoce poderia ajudar esses pacientes. Advertiram também que é necessário ainda se pensar em qual paciente teria mais risco para lesão endotelial e qual se beneficiaria mais com o anticoagulante, porque são exatamente os pacientes com risco que devem ser tratados com mais atenção e mais precocemente. O risco é intrínseco, ou seja, o paciente já tem. É o caso de pessoas hipertensas, com obesidade mórbida, diabetes e com lesões de rim.

Covid-19 também pode causar aumento de líquido no pulmão

Outro estudo feito pelos pesquisadores da PUC-PR, com foco no mastócito do pulmão, mostrou que os pacientes com Covid-19 tinham mais mastócitos que pacientes de H1N1. "Como a Covid-19 é nova, começamos a olhar para todo tipo de células e, por um acaso, vimos que o mastócito tinha mais nos pacientes com Covid-19", disse a professora. Segundo Lucia de Noronha, as pessoas com a doença têm dez vezes mais mastócitos do que as pessoas com H1N1. "Se tem mais é porque está produzindo alguma lesão ali". O mastócito é uma célula que está envolvida nos processos alérgicos, como asma.
O estudo mostrou também que o mastócito causa um edema, ou seja, um aumento de líquido no pulmão, o que dificulta a troca gasosa de oxigênio para dentro do vaso. Os pesquisadores concluíram, ao final da pesquisa, que o mastócito pode ser tratado. "Existem alguns medicamentos que são estabilizadores de mastócito. Deixam o mastócito estável e ele para de soltar grânulos e fazer esse edema", explicou Lucia. A pesquisa foi publicada na revista de ciência básica Fronteiras na Imunologia, da União Internacional de Sociedades Imunológicas (IUIS, do nome em inglês) .
 Da mesma maneira que na pesquisa sobre lesão no endotélio, os pesquisadores da PUC-PR sugeriram que alguns estabilizadores de mastócitos poderiam ser usados precocemente para pacientes com forma moderada ou leve da Covid-19. Isso seria feito para evitar que eles passem para uma forma grave da doença, porque estabilizariam o mastócito, cujos grânulos agravam a lesão pulmonar, provocando edema no pulmão. Sugeriram ainda que esses medicamentos poderiam ser testados em pacientes com Covid-19, tendo em vista que não têm efeitos colaterais.
Os testes clínicos com modulares de mastócitos ainda não começaram no Hospital Marcelino Champagnat, do Grupo Marista, em Curitiba, onde as pesquisas foram realizadas porque, para testar essas drogas, seriam necessários muitos pacientes. A professora Lucia apontou que a ideia é entrar em um consórcio pré-existente, que reúna várias cidades em todo o mundo.

Estudos fazem parte de programa de pesquisa sobre coronavírus

Os dois estudos fazem parte de um programa mais amplo de pesquisas sobre o novo coronavírus (Covid-19) que vem sendo efetuado no Hospital Marcelino Champagnat sobre várias linhas da Covid-19, do qual participam professores da PUC-PR, alunos de graduação e pós-graduação, enfermeiros, intensivistas, entre outros profissionais da área da saúde.
Um desses grupos faz estudos com pacientes que sobreviveram à doença, por meio da coleta de soro e sangue que começa desde o primeiro dia de internação até terem alta. A ideia é, no final, casar essas informações de quem viveu e de quem morreu para saber o que tem de diferente nos que morreram daqueles que conseguiram vencer a doença. "Provavelmente, vamos juntar figurinhas até o final do ano", disse Lúcia de Noronha. O grupo que estuda os pacientes com a Covid-19 que sobreviveram já tem mais de 100 amostras para pesquisa.