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- Publicada em 20 de Agosto de 2020 às 16:33

Pandemia em Porto Alegre: 'É uma situação de estabilização', diz secretário da Saúde

Sobre abrir mais, Stürrmer diz que é preciso ter prudência e seguir o que a pandemia permitir

Sobre abrir mais, Stürrmer diz que é preciso ter prudência e seguir o que a pandemia permitir


NEEMIAS FREITAS/SMS/DIVULGAÇÃO/JC
Patrícia Comunello
"Todo este cenário nos ajuda a ver em que pé estamos e, repito, é uma situação de estabilização." A frase do secretário da Saúde de Porto Alegre, o médico Pablo Stürmer, é dita pela primeira vez para falar da pandemia e expressa um diagnóstico com base em dois dados.
"Todo este cenário nos ajuda a ver em que pé estamos e, repito, é uma situação de estabilização." A frase do secretário da Saúde de Porto Alegre, o médico Pablo Stürmer, é dita pela primeira vez para falar da pandemia e expressa um diagnóstico com base em dois dados.
Houve recuo na velocidade da ocupação de leitos de UTI, que tem sido o indicador mais decisivo para o "fecha, abre e fecha" que a população e setores econômicos quase não aguentam mais ouvir falar, após cinco meses da configuração da crise sanitária. Esta quinta-feira (20), são 309 doentes com Covid-19 internados, um quadro semelhante ao fim de julho. O pico foi de 342 casos há uma semana. A ocupação se mantém, porém, em quase 90% da capacidade das UTIs.
Outro fator para descrever o momento é a queda no ritmo de novos casos, de mais de 2 mil até 3 mil, nas semanas anteriores, para pouco mais de mil nesta semana. A Capital tem mais de 18 mil registros e 547 óbitos. E daqui para frente? 
Stürmer tem toda cautela em dizer que tudo vai depender do impacto das flexibilizações recentes, que poderá ser medido já neste fim de semana. Isso definirá novas liberações, como abrir negócios à noite e em fins de semana, mas tudo indica que o ritmo será a conta-gotas. Mas se acelerar a contaminação, o risco de fechar setores volta à cena, avisa. "Sabemos que é importante (reabrir), mas precisamos chegar lá com prudência e com a realidade da pandemia permitindo."
Jornal do Comércio - Qual é o quadro da pandemia neste momento?
Pablo Stürmer - Identificamos a consolidação que vínhamos observando há cerca de 20 dias, desde o fim de julho. A evolução da ocupação de leitos de UTI estabilizou de forma bastante considerável nos últimos sete dias. Estamos inclusive com menos pacientes internados do que na semana anterior, e verificamos uma diminuição progressiva ao longo da semana de casos novos e um comportamento semelhante na busca das pessoas com síndromes gripais nas tendas de atendimento. Isso tudo aliada a uma contínua ampliação da nossa capacidade de testes, com a disseminação de pontos de testagem especialmente de exames RT-PCR, que é o melhor para detectar a doença no momento da pandemia e determinar ações de contenção e de testes sorológicos de quem teve contato com o vírus há mais tempo para saber se tem imunidade. Todo este cenário nos ajuda a ver em que pé estamos e, repito, é uma situação de estabilização.
JC - Esse diagnóstico significa que passamos pelo pior e daqui para frente a tendência é de redução da pandemia? 
Stürmer - Este é o desejo de todos e é a dúvida quando temos um cenário de estabilização. No contexto que tínhamos de circulação de pessoas e de atividades mais restritas, chegamos a um ponto de saturação naquela configuração, conseguimos controlar o avanço da pandemia, o que permitiu fazer as flexibilizações recentes. Mas ainda é muito cedo para dizer que as aberturas que fizemos antes do Dia dos Pais e consolidamos na semana passada não tiveram impacto nas UTI. Por mais que seja uma notícia positiva que permita manter o que foi flexibilizado e olhar para o futuro e ter perspectiva de mais reabertura todos os cuidados seguem sendo muito necessários, como evitar aglomerações, manter distanciamento de dois metros e higienizar as mãos, evitar tocar o rosto e usar as máscaras. Eles vão continuar a ser importantes por muitos meses, enquanto não tivermos clareza de controle da pandemia.   
JC - Em que momento a gente vai perceber o efeito da recente reabertura?
Stürmer - O efeito de um formato de circulação nas UTIs leva entre 12 e 20 dias. Por quê? Em 23 de março, suspendemos quase todas as atividades e fomos estabilizar a curva de ocupação dos leitos de terapia intensiva em 8 de abril, 15 dias depois, o que possibilitou depois reabrir. Tivemos uma grande reabertura em 20 de maio e 12 dias depois tivemos reflexo nas UTIs, que se manteve (ocupação alta). Esses 12 a 20 dias é o tempo da pessoa contaminada circular, infectar outra pessoa. O vírus fica incubado cinco a sete dias até desenvolver a doença e depois se agravar, mais sete dias. O que temos visto é que nenhuma reabertura é igual a outra. Reabrimos agora depois de longo período de restrição. Se tivermos impacto a partir deste fim de semana, podemos atribuir ao aumento da circulação, mas se não ocorrer isso, não significa que não teremos. Estamos trabalhando com esta semana e a próxima para dizer qual será o impacto da última abertura. 
JC - O fato de ter mais pessoas com anticorpos reduz este ritmo de contaminação? 
Stürmer - Os gráficos de projeção tem um desenho de um sino, com subida acelerada, estabilização, pico e redução. Este é o desenho de um agente infeccioso chegando a uma comunidade, contaminando e indo embora. mas isso é quando não se faz nada para mudar a história da doença, que não é o nosso caso. Fizemos muitas coisas, desde suspender reuniões, adotar medidas de higiene e até fechar atividades econômicas. Março tivemos decolagem da infecção, estabilizamos, reabrimos e voltou a subir. Não sabemos como está a contaminação. Mas não temos como ter certeza se a nova reabertura pode gerar mais um degrau de aumento. 
JC - Se voltar a crescer, o que terá de ser feito?
Stürmer - Infelizmente, a única forma de reduzir a circulação do vírus de forma eficaz é restringindo a movimentação de pessoas. Se tiver escalada do novo coronavírus que ameace a assistência em saúde, precisamos considerar a possibilidade de retomara restrições. 
JC - O prefeito disse que, se continuar como está, voltaríamos ao "novo normal" em dois a três meses. Isso depende de quê?
Stürmer - Isso reflete a soma de dois fatores. Precisamos abrir de forma gradual, o que é preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para ter maior controle sobre o avanço do vírus, e este é um período de exposição às pessoas e certo esgotamento dos mais suscetíveis. Com a desaceleração, atinge-se o pico começa a reduzir.
JC - O senhor projeta quando seria o pico? Algumas projeções falam em outubro. 
Stürmer - Não arriscaria dizer quando é ou quando será o pico. Vários modelos preveem o pico há meses. A maioria deles vai errar porque tem um fator que a não conseguimos medir que é o efeito da intervenção da sociedade, mudanças de contato e circulação. Sem saber isso modifica essa curva é difícil estimar o pico. 
JC - Como o senhor percebe a reação das pessoas na atual volta às atividades frente às anteriores?
Stürmer - Tenho a sensação que esta está mais lenta e, ao mesmo tempo, que as pessoas estão muito mais cuidadosas. Depois de tanto tempo restrito, além do impacto na economia e na capacidade de manutenção dos negócios, as pessoas perceberam a gravidade da pandemia. No último pico e grande volume de casos em fim de julho, certamente todos têm algum conhecido no bairro onde residem ou colega de trabalho que adoeceu de forma mais grave ou até faleceu pela doença. Demos o primeiro passo de retomar, mas abrir à noite e nos fins de semana, pedido pelos setores, precisamos fazer com cuidado, pois vai gerar movimento. Sabemos que é importante, mas precisamos chegar lá com prudência e com a realidade da pandemia permitindo. Isso ainda exige mais alguns dia para avançar.    
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